Segundo a OMS uma das grandes
barreiras para aplicação deste tipo de assistência é a falta de conhecimentobr.freepik.com
Cuidado paliativo, ou paliativismo, é
uma vertente recente no mundo da medicina. Foi reconhecido como tratamento pela
Organização Mundial da Saúde (OMS) apenas em 1990, e por isso existem alguns
equívocos sobre o que ele é, e quando deve ser procurado.
O paliativismo não é apenas um tipo
de procedimento ou tratamento específico, mas uma visão conjunta de vários
profissionais, como psicólogos, terapeutas, médicos e até representantes
religiosos, para que haja um apoio abrangente para o paciente que se encontra
muito prejudicado por alguma condição.
“O cuidado paliativo pode ser
complexo de determinar, pois seu plano é criado especificamente para a pessoa
que irá recebê-lo, e envolve não só a medicina tradicional, como também
medicina integrativa e, também, o cuidado espiritual, por exemplo,” esclarece
Ana Claudia Quintana Arantes médica especialista em Cuidados Paliativos pelo
Instituto Pallium e Universidade de Oxford e sócia fundadora da Associação Casa
do Cuidar, Prática e Ensino em Cuidados Paliativos.
Por conta da sua complexidade, e
pouca disseminação na cultura da assistência à saúde brasileira, pouco se é
falado sobre esses tipos de cuidados. “Muitas pessoas podem assumir que eles
devam ser aplicados apenas quando o paciente está próximo do fim de sua vida,
mas esse é um grave equívoco que pode levar a um sofrimento prolongado,”
complementa Arantes.
O cuidado paliativo é na verdade
indicado para pessoas que tem a sua qualidade de vida prejudicada por uma
doença que ameace sua vida, mesmo que esteja numa fase final. Claro, podemos
associá-los ao mais óbvio, como a idade avançada, e condições como câncer,
Alzheimer ou Parkinson, mas vai bem além disso.
Segundo a OMS, por exemplo, 10.3% dos
pacientes com doenças respiratórias crônicas necessitam de tratamentos
paliativos, pois experienciam desconfortos, mudanças de estilo de vida e dores
até o fim da vida. O mesmo se aplica a diabetes, doenças cardiovasculares,
artrite ou esclerose, entre muitas outras.
“Pode perceber que não são apenas
condições que ameaçam a vida de imediato, como um câncer terminal, mas sim
patologias que podem ocorrer a qualquer momento da vida ou serem congênitas,
como acontece com muitas crianças. Por isso nem sempre é percebida a
necessidade de cuidados diferentes além dos tradicionais”, explica a
especialista.
Mas então qual a hora de procurar os
cuidados paliativos? A médica explica que quando uma condição afeta de maneira
grave a qualidade de vida do paciente, seja por precisar de remédios com
efeitos colaterais, sofrer perda de mobilidade ou dores e desconforto crônicos,
é importante buscar ajuda.
As opções e informações sobre o tema
no Brasil são escassas, e pode ser difícil encontrar o cuidado paliativo, o que
levou Ana Claudia a cofundar a Associação Casa do Cuidar, organização sem fins
lucrativos que busca educar e formar uma rede de profissionais que possam
atender esse tipo de paciente.
“Acreditamos na importância do
respeito a dignidade e autonomia dos pacientes. Todos deveríamos ter o direito
de passar por essa vida com o maior nível de conforto possível, e é isso que o
cuidado paliativo busca oferecer. Não é necessário estar no fim da vida para
procurá-lo,” finaliza.
Dra. Ana
Claudia de Lima Quintana Arantes - Médica
formada pela USP com residência em Geriatria e Gerontologia no Hospital das
Clínicas da FMUSP. Fez pós-graduação em Psicologia – Intervenções em Luto pelo
Instituto 4 Estações de Psicologia e especialização em Cuidados Paliativos pelo
Instituto Pallium e Universidade de Oxford. É sócia fundadora da Associação
Casa do Cuidar, Prática e Ensino em Cuidados Paliativos.
Instagram: @casa_do_cuidar
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