Práticas alimentares não-saudáveis adotadas para emagrecer, como pular refeições, podem causar prejuízos de curto a longo prazo. Segundo a nutricionista e docente do Centro Universitário São Camilo – SP, Aline de Piano, tais hábitos podem ser fatores de risco para desenvolver transtornos alimentares
Perder peso de maneira
rápida e “fácil” pode ser tentador, ainda mais quando as dicas estão ao alcance
de um clique nas redes sociais. Mas quando essas orientações são repassadas por
pessoas sem a devida qualificação, experiência e expertise, os riscos para a
saúde são altos. Um deles é o desenvolvimento do comer transtornado.
O termo remete a transtornos
alimentares, mas sua definição é totalmente diferente. A nutricionista Aline de
Piano Ganen, coordenadora do Mestrado Profissional em Nutrição do Centro
Universitário São Camilo – SP, explica do que se trata essa condição, quais os
principais perigos associados a ela e como tratá-la. Confira:
O que é exatamente o comer
transtornado, e como podemos identificá-lo?
"É importante trazer o
conceito adequado do comer transtornado porque muitas vezes as pessoas podem
confundi-lo com um transtorno alimentar. O comer transtornado é caracterizado
por práticas alimentares que o indivíduo realiza na tentativa de perda ou
manutenção de peso. São práticas não-saudáveis, como pular refeições e dietas
restritivas. Já o transtorno alimentar é uma doença com características
psiquiátricas.
O comer transtornado pode
ser uma etapa anterior ao desenvolvimento de um transtorno. Não necessariamente
a pessoa que tem isso terá transtorno alimentar, mas pode ser um grande fator
de risco."
O acesso fácil e livre a
conteúdos sobre Nutrição na Internet pode ser um fator agravante para o comer
transtornado? Como?
"Com certeza. Esse é um
dos grandes problemas que vivemos atualmente. Existem aspectos positivos nesse
fácil acesso às informações, principalmente nas redes sociais, mas o lado ruim
é que essas informações nem sempre são embasadas cientificamente, e podem
acabar sendo formas de incitar práticas inadequadas.
Observamos muitas pessoas
que são leigas no assunto divulgando práticas alimentares disfuncionais por
falta de conhecimento, e isso pode levar ao comer transtornado. Essa
disseminação de “fake news” da Nutrição pode prejudicar principalmente pessoas
que não conseguem identificar se a informação é verdadeira ou falsa e, para
muitos, o que vale é o emagrecimento, independentemente de ser de forma
saudável ou não.
É importante ter cuidado e
buscar sempre um nutricionista."
Existem, de fato, alimentos
que influenciam na ansiedade?
"Existem alimentos que
contêm nutrientes específicos como o magnésio, ômega 3 e probiótico, que são
elementos nutricionais importantes para a produção da serotonina, que é um
hormônio responsável por esse controle de ansiedade. Alimentos que contêm esses
nutrientes na sua composição podem ajudar no controle da ansiedade.
Não só esses alimentos, mas
também um estilo de vida saudável, com prática de exercícios. São várias
componentes importantes no combate à ansiedade. Ao mesmo tempo que alimentos
ricos em açúcar e em gordura saturada podem aumentar a produção de serotonina.
Então uma alimentação saudável, buscando os alimentos-fontes desses
componentes, pode ser um coadjuvante no combate à ansiedade."
Quais são as formas de
tratar o comer transtornado?
"O primeiro passo é
identificar quais são os comportamentos que podem estar associados a esse comer
transtornado para que a gente desmistifique e oriente da melhor forma mudanças
de hábitos e comportamentos. Por mais que pular refeições possa estar associado
à perda de peso, vai ter um efeito rebote dessas condições, desses artifícios
usados para o emagrecimento.
Já foi observado nitidamente
que a restrição leva à compulsão, então teremos um efeito rebote e um ganho de
peso muito maior, levando a alterações metabólicas importantes.
Existem instrumentos na
literatura que nos ajudam a identificar esses sintomas do comer transtornado.
Um exemplo seria o questionário que o nutricionista pode aplicar para
identificar esses sinais, que é a Escala de Atitudes Alimentares Transtornadas
(EAAT).
Outro requisito importante
para tratar o comer transtornado é reestabelecer uma melhor aceitação com o seu
corpo. Trabalhar a percepção, a satisfação com a imagem corporal, questões
relacionadas ao comportamento alimentar. Isso é importante para mostrar que
através de uma alimentação saudável e natural, sem utilizar esses recursos de
restrição, vai fazer com que o indivíduo consiga atingir sua meta sem o risco
de gerar malefícios para sua saúde de curto a longo prazo."
Para ouvir a
entrevista completa, acesse o link: https://open.spotify.com/episode/28BC4vVMkN3dmVUrR3apMP?si=0db77ea0c79d4807
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