Depois de estrondoso sucesso nos CCBBs de
Belo Horizonte e Rio de Janeiro, chegou a vez de São Paulo conferir a mostra do
artista argentino, a partir de 13/04;
Leandro Erlich é conhecido mundialmente por
criações baseadas em “lugares-comuns”, mas representadas de maneira a subverter
sua condição de “normalidade”;
Uma das obras mais emblemáticas do artista,
“A Piscina”, ficará instalada no térreo do CCBB São Paulo, prédio histórico da
capital paulista
A Piscina de Erlich, no CCBB Belo Horizonte foto: Agência Galo/divulgação
Vai parecer que o CCBB foi reformado,
mas é uma exposição. A partir de 13 de abril, um conjunto de 16 obras vai
transformar os espaços do Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo. Barco e
elevador flutuantes, janelas para jardins imaginários e até uma piscina em que
o visitante pode ficar submerso sem medo de se afogar fazem parte da mostra de
um dos nomes mais provocativos e populares da arte contemporânea, o argentino
Leandro Erlich.
A exposição que chegará em
São Paulo, depois de passagens pelo CCBB BH e CCBB RJ, tem um nome bastante
explícito, “A tensão” (e sonoramente ambíguo: quem não lê pode ouvir
“atenção”), revelador de um dos prováveis sentimentos que os visitantes
sentirão diante das instalações do artista. Isso porque Erlich trabalha com
referências que são, literalmente, “lugares-comuns”, espaços que estamos
acostumados a ver no dia a dia, mas deslocados da condição de normalidade. Como
afirma o curador, Marcello Dantas, “a obra de Leandro Erlich é estruturada no
mecanismo da dúvida. O que nossos olhos veem está em desacordo com o que nossa
mente conhece”, sintetiza.
Leandro Erlich, nascido em
1973 e produzindo suas obras nos seus ateliês em Buenos Aires e Montevidéu,
está constantemente rompendo as fronteiras que normalmente acreditamos existir
entre a realidade e a ilusão. Em entrevista ao jornal argentino Clarín, o
artista explicou seu projeto: “Estou interessado principalmente em transformar
elementos que as pessoas acreditam que não podem ser transformados, que não
podem ser diferentes. Trata-se de uma utopia de apresentar a possibilidade de
transformar o que existe em uma outra coisa, e essa ação nos convida a imaginar
a realidade de uma maneira diferente”.
Uma das mais bem sucedidas
experiências nesse sentido – que se tornou uma de suas obras mais populares e
desconcertantes – é “Swimming Pool” (piscina, em português), que será instalada
no piso térreo do CCBB SP. Atração onde quer que seja exposta, a piscina de
Erlich provoca sensações absurdas tanto por quem entra nela – sem se molhar –
quanto para quem está do lado de fora: uma camada de água entre um lado e outro
cria a ilusão de que as pessoas ao fundo estão de fato mergulhadas numa piscina.
Outra obra desconcertante e
grande destaque entre as instalações de Erlich que estarão presentes na
exposição de São Paulo é “Classroom”. Nela, quando o público entra na sala, sua
imagem é refletida num vidro, como se ele fizesse parte de uma cena diferente.
Os visitantes ficam parecidos com fantasmas, como se estivessem numa sala de
aula abandonada – as memórias de infância se projetam para um cenário de crise
e de abandono.
Acima e abaixo, a
obra “Classroom” (1999), de Leandro Erlich, em versão criada para o Malba.
Foto: Guyot/Ortiz
Em diferentes obras, Erlich recorre à ideia de recorte visual sugerida pelas janelas. Um desses trabalhos se chama, justamente, “Blind Window”. “O que guarda a memória? Nosso cérebro ou nossos olhos?”, perguntou o artista, de forma retórica, durante uma entrevista no Japão. “Gosto da ideia de pensar que o olho, ou o vidro, também são capazes de guardar histórias”. É justamente essa a proposta de Erlich ao fixar paisagens, situações imaginárias e inusitadas, em objetos arquitetônicos ou decorativos, como uma janela ou um falso espelho num elevador.
Erlich participou de algumas
grandes exposições no Brasil. Em 1997, integrou o rol de artistas que estiveram
na 1ª Bienal do Mercosul e, em 2004, figurou entre os nomes da 26ª Bienal de
São Paulo. Em 2001, representou a Argentina na 49ª Bienal de Veneza, onde
voltou a estar em 2005. São, também, dezenas as grandes exposições coletivas em
que Erlich esteve, assim com são dezenas as exposições individuais de Erlich
pelo mundo: New York, Barcelona, Londres, Seul, Paris, Buenos Aires: onde quer
que seja exposta, a arte de Leandro Erlich provoca o público.
Ao deslocar o conhecimento
prévio do espectador daquilo que poderíamos chamar, agora recorrendo a um
lugar-comum da linguagem, de “zona de conforto”, Erlich coloca o expectador
necessariamente em confronto com o que dizia sua experiência sobre dada
situação, exigindo “um engajamento e uma atenção participativa para desvendar
cada obra”, explica o curador Marcello Dantas: “cada situação só se materializa
com a presença do público, em que a obra abre um espaço de acontecimento. O
título da exposição já conclama essa dúvida: pede-se atenção ao mesmo tempo em
que carrega em si o mistério provocado pela tensão que existe no espaço vazio
antes da participação”, completa.
As ilusões óticas e a
subversão da realidade propostas por Erlich fazem dele um artista,
simultaneamente, conceitual e tremendamente popular. A exposição “Ver e crer”,
no Museu Mori de Tokio, aberta no fim de 2017, atraiu 400 mil espectadores
pagantes nos três primeiros meses, superando a bilheteria alcançada pelo
japonês Takashi Murakami (315 mil ingressos) e se aproximando do resultado
obtido pelo Ai Weiwei (460 mil) no mesmo período. À época, o museu destacou o
interesse que a obra do argentino provocava entre os jovens e adolescentes, que
representavam cerca de metade dos visitantes.
Além de provocar o olhar
dessas pessoas em particular, as obras de Erlich convidam à interação nas redes
sociais. Por onde passa, o Instagram fica cheio de fotos de pessoas integradas
ao espaço expositivo. Quando expôs no Museu de Arte Latino-americana de Buenos
Aires (Malba), em 2015, fez “desaparecer” um pedaço de um grande obelisco da
capital argentina enquanto uma réplica da ponta do monumento era exibida na
porta do museu.
Montar uma exposição de
Leandro Erlich não é tarefa simples. Ao trabalhar com peças grandes e
instalações que exigem adaptações específicas para os espaços expositivos, e
que rompem com a lógica cotidiana da arquitetura e do urbanismo, parte das
obras exige uma montagem prévia, feita em galpões no próprio Brasil, antes de
serem levadas ao CCBB.
Desse modo, a tensão
provocada pelo artista é resultado não apenas de uma percepção aguda das
possibilidades visuais de uma dada situação, mas também de uma preocupação com
o próprio espaço que abriga as mostras, que se tornam, desse modo, únicas. A
percepção da piscina em São Paulo, por exemplo, em num prédio de importância
histórica, será bastante diferente da provocada pela instalação no Malba, de
Buenos Aires.
Justamente por dialogar com o
entorno e com as experiências prévias dos visitantes, o trabalho de Leandro
Erlich expressa, como poucos, nossa época. Como explica Marcello Dantas, essa é
também uma sensação progressiva: “A cada etapa dessa viagem pela exposição, nos
damos conta da relação entre expectativa, tensão e atenção que traduzem o
espírito de um tempo de incertezas”.
“A exposição propõe um olhar
diferente para aquilo que seria cotidiano. Isso tem muita relação com o nosso
dia a dia na BB DTVM, onde estamos sempre buscando oportunidades para inovar e
trazer o que existe de melhor para o nosso investidor, contribuindo para uma
sociedade cada vez mais sustentável”, afirma Isaac Marcovistz, gerente
executivo de produtos, comunicação e marketing da BB DTVM, patrocinadora da
exposição.
“Trazer um nome de peso
internacional como Erlich, reafirma o compromisso do Banco do Brasil em
democratizar o acesso à cultura e contribuir com a promoção, divulgação e
incentivo à arte”, afirma Cláudio Mattos, gerente geral do CCBB SP.
REGRAS PARA VISITAÇÃO
- O CCBB São Paulo permanece aberto
todos os dias, das 09h às 19h (exceto às terças)
- A entrada do público é permitida
apenas com apresentação do comprovante de vacinação contra a COVID-19
- Os ingressos podem ser reservados
pelo aplicativo ou site Eventim.
Serviço:
Exposição “A tensão”
– Leandro Erlich
Local: Centro Cultural Banco do Brasil São
Paulo
Período: 13 de abril a 20 de junho
Ingressos: Agendamento no site
bb.com.br/cultura
Classificação
indicativa: Livre
Entrada gratuita
Endereço: Rua Álvares Penteado, 112 – Centro
Histórico, Triângulo SP, São Paulo–SP
Acesso ao calçadão pela
estação São Bento do Metrô
Funcionamento: Aberto todos os dias, das 9h às 19h,
exceto às terças
Informações: (11) 4297-0600
Estacionamento conveniado:
Rua da Consolação, 228.
Valor: R$ 14 pelo período de até 6 horas. É
necessário validar o ticket na bilheteria do CCBB.
Traslado gratuito até o CCBB.
No trajeto de volta, a van tem parada na estação República do Metrô.
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