Neurocirurgião da Unicamp explica as inúmeras causas dessa reação do organismo, que também pode sinalizar doenças
O tremor é um movimento involuntário, oscilatório e rítmico que costuma surgir em diferentes situações, podendo ser fisiológico, com uma reação ao frio, psicológico, como em situações de estresse e ansiedade, ou patológico, quando está associado a algumas enfermidades, como a Doença de Parkinson, o diabetes, o AVC, o hipertireoidismo, entre outros casos.
“Esse tipo de sintoma precisa ser investigado, principalmente quando passa a ocorrer com frequência, prejudicando a saúde e a qualidade de vida do paciente. Dependendo da análise clínica, podemos entender a gravidade do tremor e tratá-lo”, esclarece o neurocirurgião Marcelo Valadares, da Disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e do Hospital Albert Einstein.
Ainda de acordo com o médico, existem tipos
diferentes de tremores que podem acometer as pessoas em estado de repouso ou em
movimento, sendo que a maioria envolve mãos, braços e, menos frequentemente,
cabeça, face, tronco, pernas e cordas vocais. Para entender melhor quando o
tremor é um sinal de alerta de algo mais complexo, o médico esclarece abaixo a
origem deles.
Reação ao frio - Está na
lista dos tremores mais comuns e acontece porque a queda na temperatura faz com
que os músculos se contraiam rapidamente. É uma forma que o corpo encontra para
manter-se aquecido: com uma contração involuntária que garante a produção de
calor. Para contornar a situação, basta proteger-se do frio. Em casos graves,
pode ocorrer uma situação crítica, chamada de hipotermia (quando a temperatura
do organismo cai para menos de 35°C).
Além dos tremores, outros sintomas estão associados, como a redução no
batimento cardíaco, comprometimento da função renal, entre outras
consequências, que podem levar até mesmo à morte.
Estresse, medo ou ansiedade - O organismo
encara esses momentos de tensão e se prepara para uma reação de ataque. Uma
série de hormônios estimulantes são liberados para manter a pessoa em alerta,
como a adrenalina. Tais substâncias também levam à contração muscular involuntária
que causa tremores, espasmos ou dores. Uma forma de controlar o estresse é
recorrer a atividades que ajudam a manter a calma e a concentração, como
meditação, yoga, exercícios físicos, entre outras tarefas prazerosas.
Doença neurodegenerativa - Um dos principais
sintomas da Doenças de Parkinson é o tremor, notado quando o paciente está em
repouso. Neste caso, costuma acometer primeiramente as mãos e, normalmente,
começa de um lado do corpo, afetando depois o outro. Grande parte desses
tremores podem ser controlados com medicações. Porém, quando o tratamento com
remédios não é eficaz, existem outras formas seguras de controle. Chamada de
DBS (do inglês, deep brain stimulation), a estimulação profunda do cérebro
consiste na implantação de um dispositivo médico cirurgicamente, semelhante a
um marca-passo cardíaco, que leva ao controle desse tipo de movimento
involuntário.
Tremor essencial - Confundido
erroneamente com o Parkinson, o tremor essencial afeta 1 em cada 20 pessoas com
mais de 40 anos, e uma em cada 5 com mais de 65 anos. Embora não seja um risco
à saúde, a doença pode ser debilitante, impedindo que o paciente realize
atividades básicas do dia a dia, como comer ou amarrar os sapatos, por exemplo.
Muitas pessoas reclamam do incômodo causado pela constante observação por parte
de outras, que sempre questionam por que o paciente está tremendo em situações
normais do dia a dia, como o trabalho. As causas do tremor essencial ainda são
desconhecidas, mas a desordem pode aparecer na juventude, agravando-se com a
idade. A estimulação cerebral profunda costuma ser indicada para esses casos
também.
Medicamentos e outras
substâncias - As medicações que interferem no sistema nervoso
podem ter os tremores como efeito colateral, como alguns antidepressivos e
ansiolíticos. Os broncodiladores, para controle da asma, também levam a
tremores. A situação pode ser contornada com a substituição das terapias,
sempre com indicação médica. Quem sofre de alcoolismo também costuma apresentar
tremores em crises de abstinência. Em casos de overdose de determinadas drogas
ilícitas e intoxicações, o tremor também pode ocorrer, como em situações de uso
de cocaína e crack.
Outras doenças - O tremor
também pode ser indício de doenças, como por exemplo, o hipertireoidismo,
quando há excesso de hormônio da glândula tireoide no organismo, diabetes
(queda na glicemia), esclerose múltipla, doenças hepáticas e consequência de
AVC (Acidente Vascular Cerebral). Na dúvida, o ideal é procurar ajuda médica o
quanto antes possível para que seja feito o diagnóstico e indicado o
tratamento.
Dr. Marcelo Valadares - médico
neurocirurgião da Disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas
da Unicamp e do Hospital Albert Einstein. A Neurocirurgia Funcional é a sua
principal área de atuação, sendo que o neurocirurgião trabalha em São Paulo e
em Campinas. Seu enfoque de trabalho é voltado às cirurgias de neuromodulação
cerebral em distúrbios do movimento, cirurgias menos invasivas de coluna
(cirurgia endoscópica da coluna), além de procedimentos que envolvem dor na
coluna, dor neurológica cerebral e outros tipos de dor. O especialista também é
fundador e diretor do Grupo de Tratamento de Dor de Campinas, que possui uma
equipe multidisciplinar formada por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas,
psicólogos e educadores físicos. No setor público, recriou a divisão de
Neurocirurgia Funcional da Unicamp, dando início à esperada cirurgia DBS (Deep
Brain Stimulation -- Estimulação Cerebral Profunda) naquela instituição.
Estabeleceu linhas de pesquisa e abriu o Ambulatório de Atenção à Dor afiliado
à Neurologia.
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