Repercutiu a entrevista do ministro Paulo Guedes sobre as suas realizações durante três anos à frente do Ministério da Economia. Segundo ele, seu fracasso em fazer o Brasil crescer economicamente tem relação direta com a falta de apoio de uma agenda liberal, a demora do Congresso Nacional em tomar decisões e o “fogo amigo” de membros do governo Bolsonaro.
Paulo Guedes se notabilizou durante a campanha
eleitoral por ser um economista de formação internacional, com experiência no
ambiente corporativo e financeiro e, para muitos, um ministro capaz de
revolucionar a realidade econômica do país, mas após longos anos no governo
Bolsonaro, se mostrou um colecionador de frases de efeito e de projetos
econômicos que não foram colocados em prática. O ministro sempre foi visto
dentro da cúpula palaciana como um defensor da chamada agenda liberal, mas
nunca se esforçou o suficiente para ver suas ideias colocadas em prática.
Durante os primeiros anos à frente da pasta, ele se mostrou uma figura muito
cara ao governo, mesmo diante da sua incapacidade de lidar com as lideranças
dentro do Congresso Nacional, e de manter um diálogo minimamente inteligível
com os parlamentares, foi bancado pelo Presidente. Inicialmente, se pensava que
o ministro estava pouco acostumado com a dinâmica política de Brasília e que a
experiência o ajudaria na construção de sua agenda, mas, mesmo depois da
guinada do governo Bolsonaro ao Centrão, o que se vê é um ministro incapaz de
entender a realidade que o cerca.
Hoje, o governo Bolsonaro conta com uma maioria
confortável dentro da Câmara dos Deputados, tendo a liderança do deputado
Ricardo Barros (PP/PR), um articulador político capaz, e o apoio irrestrito do
presidente da Casa, o deputado Arthur Lira (PP/AL). Dentro do Senado Federal, a
maioria prevalece e a presidência da Casa é muito adepta à política liberal,
além disso, boa parte do Congresso Nacional tem um posicionamento de
centro-direita, ou seja, o clima político melhor para aprovação de agendas
liberais nunca foi tão claro. O que o ministro Paulo Guedes ainda não percebeu
é que sua pasta não tem poderes absolutos, e que é necessário conversar com a
base no Congresso Nacional que aprova sua agenda. Afinal, o Brasil já passou
por períodos econômicos desafiadores, com mudança de moeda, picos inflacionários,
crises mundiais e as saídas econômicas foram encontradas por diferentes
ministros de plantão.
Outra problematização trazida pelo ministro é o
tempo de tramitação de uma proposição dentro do Congresso, uma reclamação fora
de qualquer parâmetro. Câmara e Senado, quando apoiadoras da agenda do
Presidente da República, costumam trabalhar com uma velocidade considerável,
inclusive o chefe do Poder Executivo tem em suas mãos mecanismos como medidas
provisórias, regime de urgência e alinhamento com lideranças, capazes de
colocar um projeto de debate em poucas semanas ou dias. Obviamente, quando a
articulação política é feita de forma errada ou sem a devida coordenação entre
presidência, Congresso Nacional, e ministro falastrão, os projetos receberão
resistência.
Outra queixa recorrente do ministro é o “fogo
amigo”, as famosas divergências internas de governo. Paulo Guedes tem sofrido
com tais ataques desde o início do mandato presidencial, vindos da bancada de
apoio ao governo Bolsonaro e do próprio Presidente, que se assemelha muito a um
metralhadora giratória. Apesar de ser alvo de vários membros do governo, o
ministro nunca teve seu cargo ameaçado e, aparentemente, tem apoio irrestrito
do Palácio do Planalto, diferentemente de outros membros que foram "rifados"
sem dó pelo Presidente, Guedes se mantém intocável, apesar do seu baixo
desempenho.
Guedes tem certeza de que pode implementar sozinho
uma agenda econômica, sem levar em conta os debates no Congresso e as tomadas
de decisão do próprio Presidente da República. Sua capacidade de deparar com
problemas nacionais é questionável, talvez algum dia iremos perceber que não
faltou apoio para a agenda liberal, faltou competência política.
Francis Ricken - advogado, mestre em Ciência Política (UFPR) e professor da Escola de Direito e Ciências Sociais da Universidade Positivo (UP).
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