Percevejo barriga-verde |
Entra safra e termina safra, e o produtor rural
deve estar sempre atento à incidência de pragas e doenças nas lavouras. Os
percevejos devem estar na pauta de cuidados, já que o problema, principalmente
na soja, ocorre todos os anos e causa danos diretos, com ataques às vagens e
grãos. No estado de Mato Grosso a espécie Euschistus heros –
percevejo-marrom é mais abundante na cultura, entretanto, nos últimos anos, a
espécie Diceraeus melacanthus – percevejo barriga-verde tem ocorrido
em altas populações desde o início de desenvolvimento das plantas.
Este será um dos assuntos destaques durante uma das
etapas do Fundação MT em Campo Safra, em Nova Mutum-MT. O evento, que ocorre no
próximo dia 27 de janeiro, é realizado pela Fundação de Apoio à Pesquisa
Agropecuária de Mato Grosso no Centro de Aprendizagem e Difusão (CAD) da
instituição, nesta cidade.
Segundo a pesquisadora em entomologia, Dra. Lúcia
Vivan, a predominância de uma dessas espécies varia em função do local, do
clima, das cultivares e do estágio e desenvolvimento da cultura. “Da mesma forma,
a extensão dos danos depende, entre outros fatores, do estágio de
desenvolvimento das plantas durante o período de infestação, visto que estes
ocorrem desde a fase vegetativa”, relata. Após esse período eles aumentam
progressivamente na fase reprodutiva, com crescimento exponencial e acelerado
no final do ciclo da cultura, em especial, nas cultivares de ciclo médio e
tardio.
Grandes prejuízos
Quando o ataque dos percevejos acontece nas vagens,
as perdas podem atingir valores superiores a 30%. “Se o ataque ocorrer em fase
de granação, é possível aparecer deformações, murchamentos e manchas nos grãos.
Neste caso, eles perdem o valor para a comercialização por terem o teor de óleo
reduzido”, explica a entomologista.
As perdas no poder germinativo das sementes podem
ultrapassar 50%, além de terem queda no vigor. Já a infestação durante a fase
de desenvolvimento das sementes torna-as pequenas, enrugadas e deformadas.
“Quando o ataque dos percevejos se dá nos grãos, ocorre perda na qualidade
destes e das sementes, principalmente pela inoculação do fungo Nematospora
corylii, que causa a mancha-de-levedura, também conhecida como
mancha-de-fermento”, detalha Lúcia.
Impacto no milho
Dano causado pelo Dichelops na cultura do milho
Quando falamos em percevejo barriga-verde, o
cuidado começa na safra de soja, que serve de alimento e proteção a este
inseto, aumentando sua população e se mantendo na área, onde atacará a cultura
do milho. “O cereal estará suscetível a este percevejo poucos dias após a
emergência , podendo matar a plântula ou a gema apical, gerando um
perfilhamento. Dependendo do ataque, algumas folhas do cartucho não conseguem
desenrolar, encharutando”, relata a pesquisadora da Fundação MT.
Por isso, é importante a realização de tratamento
de sementes na cultura do milho, e pulverizações foliares de 3 a 5 dias após a
emergência e repetir a aplicação aos 7 a 10 dias após a emergência “O
milho é suscetível ao ataque desse inseto até o estágio V4-V5. Também a
aplicação na palhada após a colheita da soja pode ser uma estratégia para
reduzir a população que se manterá na área. Outro ponto importante e de estudo
é a pulverização na forma plante e aplique, em que se faz a aplicação de
inseticida logo após o plantio de milho”, completa Lúcia.
Manejo é fundamental em ambos os casos
Tanto para um percevejo quanto para outro, é
fundamental realizar o manejo correto. Para a espécie marrom recomenda-se o
monitoramento das áreas para identificar o momento em que ocorre a entrada do
inseto nas lavouras. “A partir disso, deve-se realizar o controle e acompanhar
o desenvolvimento da população logo no início, a fim de não gerar populações
altas para as áreas mais tardias. Em média se utiliza entre 1 a 2 percevejos/m
para realizar o controle em áreas de produção de grãos, para áreas de sementes
o nível tem sido de 0,5 percevejo/m”, detalha a entomologista.
Para o percevejo barriga-verde o manejo deve ser
feito dentro do sistema de produção, cuidando com a população durante todo o
ano, já que este possui muitas plantas hospedeiras. Vale lembrar que áreas com
presença de plantas daninhas irão favorecer o desenvolvimento dessa praga,
oferecendo alimento e local para oviposicão. Assim, áreas em pousio têm grande
probabilidade de manter populações.
No momento do plantio da soja é importante avaliar
a palhada e verificar se tem a presença do inseto, neste caso, pode-se optar
por dessecação pré-plantio da soja e uso de tratamento de sementes com foco em
sugadores. “Durante o desenvolvimento da soja é importante monitorar essa
espécie também, no entanto, como o hábito dele é mais rasteiro e fica sob a
palhada isso pode dificultar a quantificação da população”, reforça Lúcia.
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