Crises costumam ser impulsionadoras da solidariedade. Ao longo dos últimos meses, muitas pessoas se mostraram abertas a olhar para o próximo e, principalmente, despertaram para as necessidades das engrenagens que fazem um sistema de saúde público funcionar. Em meio a tantas dificuldades, se descobriram caminhos possíveis para captar recursos financeiros, e as ações de filantropia tomaram corpo para ajudar a fortalecer a saúde do Brasil.
Desde a chegada do coronavírus, empresas, ONGs e a
sociedade civil doaram cerca de R$ 7 bilhões para causas ligadas à covid-19, de
acordo com dados do Monitor de Doações da Associação Brasileira de Captadores
de Recursos. Mas o volume de doações não acompanhou o avanço da doença no
Brasil. O aprofundamento da crise econômica no país atingiu com força o repasse
de recursos pelas empresas, que recuaram com a incerteza que tomou conta dos
mercados. Nesse cenário, os movimentos sociais lutam para colocar mais elos na
corrente solidária formada em 2020.
Adaptações e aprendizados diários são o caminho
para estabelecer novas estratégias. Dentro de um hospital com atendimento 100%
do Sistema Único de Saúde (SUS), por exemplo, a busca por recursos é um
trabalho extremamente desafiador. Os hospitais filantrópicos padecem com a
gestão de seus orçamentos devido à tabela deficitária de pagamentos do SUS. A
captação se torna uma necessidade urgente, que começa no relacionamento com
parlamentares em busca da destinação de emendas, passa pelo contato com
empresas para conseguir patrocínio e chega até as pessoas físicas, que podem
destinar uma parte do seu imposto de renda ou simplesmente doar notas fiscais.
A principal ferramenta é sempre a sinceridade.
Expor a realidade é importante para o início de qualquer conversa. Contar como
funcionam os bastidores do atendimento universal de uma instituição
filantrópica e como existem pessoas que se dedicam para a construção desse ideal
é uma forma de gerar um despertar altruísta. Mas, apesar das diversas
metodologias disponíveis, nem sempre é fácil sensibilizar os decisores da
importância que as doações têm para a manutenção de um hospital. Porém, estamos
sentindo que a cada dia, sobretudo o setor empresarial, que ainda é o maior
desafio, está olhando para a filantropia e entendendo que, quando uma sociedade
cresce de forma igualitária, quem ganha somos todos nós.
Não é possível prever o futuro, mas, mesmo assim, é
possível traçar táticas para se reinventar e se adequar ao que o novo normal
reserva e, dessa forma, garantir sobrevivência no momento atual e também
depois. O ano de 2021 foi difícil, mas, ainda assim, foi possível somar várias
conquistas. Agora, para 2022, a palavra é esperança de uma recuperação na
economia que possibilite um aumento nas doações, melhora na saúde geral da
população para desafogar as operações e retomada das atividades presenciais. A
quarentena tirou das entidades recursos geralmente obtidos em eventos presenciais,
como bazares e brechós. Coube então aos gestores recorrer às vendas por lojas
on-line próprias ou de parceiros, para repor parte dessas perdas.
Enfrentar os desafios e expandir o alcance do
investimento filantrópico também significa ampliar a disponibilidade de
recursos para ações de desenvolvimento de diferentes setores. Essa expansão não
é só urgente, como fundamental. A filantropia vai muito além do
assistencialismo ou da caridade. Ela realiza mudanças estratégicas e efetivas,
servindo como pontapé para alavancar projetos de impacto para a sociedade. Da
gripe espanhola à covid-19, as ações filantrópicas tiveram papel importante na
promoção da saúde e continuarão a ter. Independentemente das novas doenças que
virão, o sistema de saúde precisa ser, acima de tudo, humano.
O ato de doar faz tão bem para quem doa quanto para
quem recebe. O sentimento de pertencimento ao grupo que efetivamente está
fazendo algo para construir uma sociedade melhor nos torna pessoas mais
empáticas, com uma visão de mundo mais abrangente. O resultado disso é vivermos
em um mundo mais aberto ao novo e pacífico, porque, quanto melhor estiver o
nosso entorno, melhor todos estaremos. Juntos, podemos cobrar e agir para que
nenhum brasileiro perca a vida e deixe seus sonhos e familiares por falta de
leito, equipamentos ou empatia.
Carolina
Piva - gerente de Marketing e Mobilização de Recursos da Saúde do Grupo Marista
Nenhum comentário:
Postar um comentário