Apesar das
dificuldades impostas pela covid-19, hospital SUS mantém média de mais de 80%
de conversão, ao desconstruir mitos e reforçar importância da doaçãoEnfermeiros
conversam com família de potencial doador e garantem entendimento do processo
Créditos: Freepik
Oito em cada dez famílias com quem o enfermeiro
Maykon José de Freitas e sua equipe conversam sobre doação de órgãos e de
tecidos tomam uma decisão que pode mudar até dez vidas. Ele lida com o fim e o
recomeço em sua rotina como coordenador da Comissão Intra Hospitalar de Doação
de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT), do Hospital Universitário Cajuru,
em Curitiba (PR). Após confirmada a morte encefálica do paciente, são os
familiares que autorizam ou não a doação. É quando entra o trabalho dos
enfermeiros que conversam com a família e garantem o entendimento de todo o
processo a partir dali. Um momento delicado e que não permite nenhuma falha.
Para identificar potenciais doadores, a comissão da
CIHDOTT realiza visitas diárias aos setores críticos de hospitais,
principalmente às UTIs. A partir do momento em que é declarada a morte cerebral
de um paciente, inicia-se a comunicação com os familiares. Uma etapa que passou
por mudanças e adaptações durante a pandemia. “As conversas com os parentes
precisaram ser feitas por videochamadas e essa distância criou uma barreira na
aceitação da doação. A família precisa ser acolhida, pois vai receber a pior
notícia: o falecimento do seu ente querido”, explica Maykon.
O que os números mostram
O Brasil possui o maior programa público de
transplante de órgãos, tecidos e células do mundo, que é garantido a toda
população por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), responsável pelo
financiamento de cerca de 95% dos transplantes no país. Apesar do grande volume
de cirurgias realizadas, a quantidade de pessoas em lista de espera para
receber um órgão ainda é grande. São 46.738 brasileiros que aguardam na fila de
transplante de múltiplos órgãos.
Uma espera agravada pela pandemia. Mesmo com o
aumento de 13% na taxa de notificação de potenciais doadores, foram 203
doadores efetivos a menos, na comparação entre os primeiros semestres de 2020 e
2021. Apenas na primeira onda de covid-19, a captação de órgãos reduziu entre
40% e 50% no Brasil. O principal motivo desse declínio, de acordo com a
Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), é o aumento de 44% na
taxa de contraindicação pelo risco de transmissão de covid-19.
O Hospital Universitário Cajuru (HUC) é destaque na
captação de órgãos. Ao atender 100% por meio do SUS, o HUC mantém o maior
índice de conversão estadual de entrevistas com as famílias em doações
efetivadas. Em 2020, a taxa de conversão foi de 84%, e em 2021, está em 81%,
bem acima das médias dos demais estados. Enquanto que a recusa pela doação é de
39% no país e 25% no estado, o Hospital Universitário Cajuru tem a média de
apenas 19% de recusa. Os dados são do Sistema Estadual de Transplante do
Paraná, que tem a gestão realizada pela Central de Transplantes do estado.
Um trabalho a favor da vida
Ato de amor ao próximo e que pode salvar vidas, a
doação de órgãos é a única chance de recomeço para quem aguarda na fila de
espera. As equipes de captação de órgãos trabalham para esclarecer qualquer
dúvida dos parentes do potencial doador. Após o “sim” da família, é dada a
largada para o processo de doação e de transplante. Cada segundo é importante
para que órgãos e tecidos cheguem aos receptores a tempo de salvar ou melhorar
a qualidade de vida de até dez pessoas.
Uma atividade que faz a diferença para a sociedade.
É assim que o coordenador da equipe de captação de órgãos do Hospital
Universitário Cajuru, Maykon José de Freitas, se refere ao trabalho realizado.
“Nosso serviço é pioneiro no Paraná por contar com um profissional responsável
que atua junto de uma rede de apoio, o que permite alcançarmos números
expressivos. Batemos o recorde de captação estadual em 2020 com nosso esforço
diário para desconstruir mitos e reforçar a importância da doação de órgãos”,
explica o enfermeiro.
Conscientização
Não apenas após a morte, mas também em vida,
qualquer um pode ser doador de medula óssea. Para isso, basta ser maior de 18
anos, ter condições adequadas de saúde, ser avaliado por um médico, fazer um
cadastro no Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome)
e obter o cartão de doador. “A doação de medula óssea é importante para o
tratamento de pacientes com doenças que comprometem a produção normal de
células sanguíneas, como as leucemias, além de portadores de aplasia de medula
óssea e síndromes de imunodeficiência congênita”, detalha o médico nefrologista
Alexandre Tortoza Bignelli, coordenador do Serviço de Transplante Renal do
HUC.
Doar órgãos é um gesto de
amor, solidariedade e cidadania. Para chamar a atenção e conscientizar a
população para essa causa, ao longo de todo o mês é realizada a campanha
Setembro Verde. “A doação de órgãos começa na conversa do doador com a sua
família, pois é ela que será a sua porta-voz. É preciso declarar aos familiares
a sua intenção, para que, após a sua morte, os familiares possam autorizar a
retirada e doação dos órgãos”, reforça o enfermeiro Maykon.
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