Insegurança, medo e preocupação com a própria saúde e de
pessoas queridas e a necessidade de adaptar-se a uma nova realidade elevam o
estresse na pandemia e pioram quadros alérgicos
O estresse, como
conhecemos e nos referimos, hoje, surge, normalmente, a partir do medo diante
de um perigo iminente, desconhecido, ou fruto de um trauma. Trata-se de um
instinto natural que existe em função da sobrevivência, da necessidade de
preparar-se para os perigos que, potencialmente, nos levariam à morte.
É sabido que fatores
emocionais, como o estresse, têm recebido crescente atenção por serem possíveis
fatores relacionados à asma, por exemplo. Sintomas como irritabilidade,
características depressivas e ansiosas, dificuldades de aprendizagem podem
impactar de modo negativo na qualidade de vida de crianças e adolescentes
asmáticos, conforme relatou a alergista e imunologista pela USP Dra. Brianna
Nicoletti.
"De acordo com um
recente estudo sobre Estresse e Asma na Infância e Adolescência, identificar os
agentes estressores ajuda a compreender a doença e a melhorar o tratamento. Daí
a importância de zerar a negligência que esses fatores sofrem por parte de
profissionais da saúde, familiares e programas de saúde pública. Por isso, a
necessidade de vir a público para chamar à atenção da população, especialmente
dos pais e cuidadores que, inclusive, sofrem com o estresse que o tratamento,
alívio dos sintomas, idas a postos de atendimento de urgência e a rotina de
consultas lhes impõe, ainda mais num contexto de pandemia", alerta a
alergista.
Os fatores internos
que geram estresse nas crianças mais comuns são: doenças crônicas, mudanças de
escola, conflitos frequentes e separação entre os pais, precariedade econômica,
exigências excessivas de pais e professores, questões de personalidade como
insegurança, timidez ou ansiedade e até as mudanças bruscas corporais e
hormonais. Os externos podem decorrer das necessidades de adaptação por conta
da doença como evitar correr, pular ou realizar atividades físicas, sentir-se
excluído do grupo por sentir-se cansado ou tossir com frequência, dificultando
o relacionamento social e gerando isolamento, por sentirem-se incapazes e/ou
inadequadas.
A boa notícia é que,
hoje, sabemos que há maneiras de evitar o aparecimento de problemas
respiratórios crônicos como a asma, por exemplo, por meio de um bom
acompanhamento pré-natal, de uma rede de apoio para aliviar o estresse materno
no puerpério, e a realização de visitas frequentes ao pediatra para que um
possível diagnóstico seja feito o quanto antes e encaminhado ao alergista. Tudo
isso pode ajudar a evitar as condições favoráveis ao aparecimento de respostas
alérgicas do organismo sob estresse.
"A desinformação
é a melhora amiga dos quadros estressantes e o desconhecimento em relação às
doenças alérgicas atrapalha a prevenção e a adesão a um tratamento com foco na
cura ou na eliminação dos sintomas que, por sua vez, aumentam o estresse, como
expliquei", frisa a imunologista. Dra Brianna acredita que o médico deve
sempre considerar a participação de um psicólogo ou terapeuta para o alívio ou
eliminação dos gatilhos estressantes nos pacientes.
Para a dermatologista
Dra Maria Paula Del Nero, outras doenças de fundo psicossomático como as
urticárias, dermatites, psoríase e vitiligo são algumas das enfermidades que
podem surgir ou se agravar diante do estresse.
Segundo estudo
realizado, entre abril e julho de 2020, com 140 pacientes com urticária
crônica, em São Paulo, consequências psicológicas, como depressão e transtorno
do estresse pós-traumático, presentes na pandemia da COVID-19, trouxeram grande
impacto em 80 desses pacientes com doenças alérgicas e urticária, ou seja, em
57,1% deles; sendo que 27 deles (33,8%) já apresentavam registro de problema
emocional.
"O importante
nesse estudo é perceber que o controle do estresse é essencial para evitar o
aumento dos sintomas e o agravamento das doenças alérgicas", explica Dra
Brianna.
"É um círculo
vicioso que precisa ser rompido, porque a pessoa com urticária crônica, segundo
o estudo, diante da pandemia, ficou mais estressada e isso parece estar
associado à piora do quadro. E o aumento dos sintomas leva a um maior nível de
estresse, também devido aos incômodos que acarreta", indicou Maria Paula,
dermatologista reconhecida pela Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Diante dos casos
observados e relatados nessas duas pesquisas, a pandemia trouxe novos casos
alérgicos decorrentes do estresse e agravamento de sintomas em pessoas que já
sofriam com essas comorbidades.
Dicas para aliviar o
estresse
- Sendo um mecanismo fisiológico de defesa do organismo em vista da
sobrevivência, o estresse libera neurotransmissores, como a adrenalina, que nos
colocam em constante estado de alerta diante de perigos iminentes. Se esse
quadro se torna crônico, traz danos à saúde. Por isso, ao primeiro sinal de
mudanças - como dificuldade para dormir, ou não conseguir dormir a noite toda,
ou ainda, despertar cansado ou sem energia para trabalhar, estudar ou realizar
tarefas do cotidiano, irritar-se frequentemente com os outros -, é necessário
tomar uma ação.
Passos para prevenir a
piora do estresse:
• Identificar a causa
do estresse. Afastar-se dela, se possível;
• Se não for, buscar
uma forma de conviver com a situação, dando novo significado à situação passada
ou presente;
• Fazer higiene do
sono, distanciando-se de dispositivos eletrônicos ao menos por 2 horas antes de
ir para a cama e preparar-se para dormir;
• Acordar com tempo
para cuidar de si, antes de desempenhar papéis e após dormir horas suficientes;
• Fazer terapia,
submeter-se a seções de hipnose com terapeutas certificados ou outras seções
terapêuticas, é uma maneira de ressignificar traumas e gatilhos do
subconsciente;
• Programar e realizar
momentos de lazer religiosamente;
• Estar com quem você
gosta e realizar atividades que tragam prazer e realização pessoal;
• Praticar atividade
física sem cobrança relacionada ao desempenho, apenas por prazer e com foco na
saúde e bem-estar;
• Gastar tempo com
atividades não ligadas ao trabalho profissional, como hobbies e ações
voluntárias sem cobranças;
• Praticar meditação
e/ou yoga;
• Não tomar remédios
nem mesmo fitoterápicos sem consultar um médico ou especialista;
• Não adiar o
tratamento fazendo uso de álcool ou drogas para alívio de sintomas.
Os passos do estresse
no organismo - No passado, as respostas negativas que traziam danos ao
organismo eram designadas como síndrome geral de adaptação e só mais tarde
surgiu o termo estresse. Ou seja, os sinais estressantes nada mais são do que
uma resposta complexa clínica que envolve reações físicas, como a urticária e a
asma, por exemplo, e psicológicas, como a ansiedade, a depressão ou o pânico.
Esse quadro de
estresse tem três fases: "a primeira é a fase de alarme: é a resposta
inicial diante de qualquer estímulo que desequilibre a regulação interna
(aumento da frequência cardíaca, motivação e preparação do organismo para a
ação); a segunda é a fase de resistência, com a motivação inicial sendo
substituída pelo desgaste decorrente da tentativa contínua de adaptação e da
regulação homeostática; e a última é a fase de exaustão que demonstra o fim da
capacidade de adaptação, ou seja, com a permanência desse estímulo estressante,
ocorrem doenças de maior gravidade ou fatais, como problemas de coração e
rins", explica a Dra Brianna com base no estudo acerca da asma na infância
e adolescência.
As
duas médicas estão à disposição para falar sobre o estudo de observação no
início da pandemia, relacionado a urticária, ou sobre o estudo sobre o
aparecimento ou agravamento da asma em crianças e adolescentes associado ao
estresse.
Dra. Brianna Nicoletti - CRM-SP: 74.594 / RQE: 103.535
• Médica graduada
pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (2003) • Residência médica em Medicina Interna pela
Universidade Estadual de Campinas (2006) •
Residência médica em Alergia e Imunologia Clínica pelo Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (2009) • Associada à Sociedade Brasileira de Alergia e
Imunopatologia • Médica
Especialista em Alergia e Imunologia do Corpo Clínico do Hospital Israelita
Albert Einstein (desde 2013) • Integrante da
equipe de Qualidade da UnitedHealth Group (desde 2011) .
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