Pesquisar no Blog

sábado, 18 de setembro de 2021

Estresse da pandemia desencadeia e piora quadros de alergia de pele e respiratória

Insegurança, medo e preocupação com a própria saúde e de pessoas queridas e a necessidade de adaptar-se a uma nova realidade elevam o estresse na pandemia e pioram quadros alérgicos


O estresse, como conhecemos e nos referimos, hoje, surge, normalmente, a partir do medo diante de um perigo iminente, desconhecido, ou fruto de um trauma. Trata-se de um instinto natural que existe em função da sobrevivência, da necessidade de preparar-se para os perigos que, potencialmente, nos levariam à morte.

É sabido que fatores emocionais, como o estresse, têm recebido crescente atenção por serem possíveis fatores relacionados à asma, por exemplo. Sintomas como irritabilidade, características depressivas e ansiosas, dificuldades de aprendizagem podem impactar de modo negativo na qualidade de vida de crianças e adolescentes asmáticos, conforme relatou a alergista e imunologista pela USP Dra. Brianna Nicoletti.

"De acordo com um recente estudo sobre Estresse e Asma na Infância e Adolescência, identificar os agentes estressores ajuda a compreender a doença e a melhorar o tratamento. Daí a importância de zerar a negligência que esses fatores sofrem por parte de profissionais da saúde, familiares e programas de saúde pública. Por isso, a necessidade de vir a público para chamar à atenção da população, especialmente dos pais e cuidadores que, inclusive, sofrem com o estresse que o tratamento, alívio dos sintomas, idas a postos de atendimento de urgência e a rotina de consultas lhes impõe, ainda mais num contexto de pandemia", alerta a alergista.

Os fatores internos que geram estresse nas crianças mais comuns são: doenças crônicas, mudanças de escola, conflitos frequentes e separação entre os pais, precariedade econômica, exigências excessivas de pais e professores, questões de personalidade como insegurança, timidez ou ansiedade e até as mudanças bruscas corporais e hormonais. Os externos podem decorrer das necessidades de adaptação por conta da doença como evitar correr, pular ou realizar atividades físicas, sentir-se excluído do grupo por sentir-se cansado ou tossir com frequência, dificultando o relacionamento social e gerando isolamento, por sentirem-se incapazes e/ou inadequadas.

A boa notícia é que, hoje, sabemos que há maneiras de evitar o aparecimento de problemas respiratórios crônicos como a asma, por exemplo, por meio de um bom acompanhamento pré-natal, de uma rede de apoio para aliviar o estresse materno no puerpério, e a realização de visitas frequentes ao pediatra para que um possível diagnóstico seja feito o quanto antes e encaminhado ao alergista. Tudo isso pode ajudar a evitar as condições favoráveis ao aparecimento de respostas alérgicas do organismo sob estresse.

"A desinformação é a melhora amiga dos quadros estressantes e o desconhecimento em relação às doenças alérgicas atrapalha a prevenção e a adesão a um tratamento com foco na cura ou na eliminação dos sintomas que, por sua vez, aumentam o estresse, como expliquei", frisa a imunologista. Dra Brianna acredita que o médico deve sempre considerar a participação de um psicólogo ou terapeuta para o alívio ou eliminação dos gatilhos estressantes nos pacientes.

Para a dermatologista Dra Maria Paula Del Nero, outras doenças de fundo psicossomático como as urticárias, dermatites, psoríase e vitiligo são algumas das enfermidades que podem surgir ou se agravar diante do estresse.

Segundo estudo realizado, entre abril e julho de 2020, com 140 pacientes com urticária crônica, em São Paulo, consequências psicológicas, como depressão e transtorno do estresse pós-traumático, presentes na pandemia da COVID-19, trouxeram grande impacto em 80 desses pacientes com doenças alérgicas e urticária, ou seja, em 57,1% deles; sendo que 27 deles (33,8%) já apresentavam registro de problema emocional.

"O importante nesse estudo é perceber que o controle do estresse é essencial para evitar o aumento dos sintomas e o agravamento das doenças alérgicas", explica Dra Brianna.

"É um círculo vicioso que precisa ser rompido, porque a pessoa com urticária crônica, segundo o estudo, diante da pandemia, ficou mais estressada e isso parece estar associado à piora do quadro. E o aumento dos sintomas leva a um maior nível de estresse, também devido aos incômodos que acarreta", indicou Maria Paula, dermatologista reconhecida pela Sociedade Brasileira de Dermatologia.

Diante dos casos observados e relatados nessas duas pesquisas, a pandemia trouxe novos casos alérgicos decorrentes do estresse e agravamento de sintomas em pessoas que já sofriam com essas comorbidades.

Dicas para aliviar o estresse - Sendo um mecanismo fisiológico de defesa do organismo em vista da sobrevivência, o estresse libera neurotransmissores, como a adrenalina, que nos colocam em constante estado de alerta diante de perigos iminentes. Se esse quadro se torna crônico, traz danos à saúde. Por isso, ao primeiro sinal de mudanças - como dificuldade para dormir, ou não conseguir dormir a noite toda, ou ainda, despertar cansado ou sem energia para trabalhar, estudar ou realizar tarefas do cotidiano, irritar-se frequentemente com os outros -, é necessário tomar uma ação.

Passos para prevenir a piora do estresse:

• Identificar a causa do estresse. Afastar-se dela, se possível;

• Se não for, buscar uma forma de conviver com a situação, dando novo significado à situação passada ou presente;

• Fazer higiene do sono, distanciando-se de dispositivos eletrônicos ao menos por 2 horas antes de ir para a cama e preparar-se para dormir;

• Acordar com tempo para cuidar de si, antes de desempenhar papéis e após dormir horas suficientes;

• Fazer terapia, submeter-se a seções de hipnose com terapeutas certificados ou outras seções terapêuticas, é uma maneira de ressignificar traumas e gatilhos do subconsciente;

• Programar e realizar momentos de lazer religiosamente;

• Estar com quem você gosta e realizar atividades que tragam prazer e realização pessoal;

• Praticar atividade física sem cobrança relacionada ao desempenho, apenas por prazer e com foco na saúde e bem-estar;

• Gastar tempo com atividades não ligadas ao trabalho profissional, como hobbies e ações voluntárias sem cobranças;

• Praticar meditação e/ou yoga;

• Não tomar remédios nem mesmo fitoterápicos sem consultar um médico ou especialista;

• Não adiar o tratamento fazendo uso de álcool ou drogas para alívio de sintomas.

Os passos do estresse no organismo - No passado, as respostas negativas que traziam danos ao organismo eram designadas como síndrome geral de adaptação e só mais tarde surgiu o termo estresse. Ou seja, os sinais estressantes nada mais são do que uma resposta complexa clínica que envolve reações físicas, como a urticária e a asma, por exemplo, e psicológicas, como a ansiedade, a depressão ou o pânico.

Esse quadro de estresse tem três fases: "a primeira é a fase de alarme: é a resposta inicial diante de qualquer estímulo que desequilibre a regulação interna (aumento da frequência cardíaca, motivação e preparação do organismo para a ação); a segunda é a fase de resistência, com a motivação inicial sendo substituída pelo desgaste decorrente da tentativa contínua de adaptação e da regulação homeostática; e a última é a fase de exaustão que demonstra o fim da capacidade de adaptação, ou seja, com a permanência desse estímulo estressante, ocorrem doenças de maior gravidade ou fatais, como problemas de coração e rins", explica a Dra Brianna com base no estudo acerca da asma na infância e adolescência.

As duas médicas estão à disposição para falar sobre o estudo de observação no início da pandemia, relacionado a urticária, ou sobre o estudo sobre o aparecimento ou agravamento da asma em crianças e adolescentes associado ao estresse.

 

 

Dra. Brianna Nicoletti - CRM-SP: 74.594 / RQE: 103.535 • Médica graduada pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (2003) • Residência médica em Medicina Interna pela Universidade Estadual de Campinas (2006) • Residência médica em Alergia e Imunologia Clínica pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (2009) • Associada à Sociedade Brasileira de Alergia e Imunopatologia • Médica Especialista em Alergia e Imunologia do Corpo Clínico do Hospital Israelita Albert Einstein (desde 2013) • Integrante da equipe de Qualidade da UnitedHealth Group (desde 2011) .


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Posts mais acessados