Em 2017, uma pesquisa da Nielsen, com consumidores
em todo o mundo, mostrou que 81% dos consumidores acreditavam fortemente que as
empresas devem ajudar a melhorar o meio ambiente, e mais de 60% dos
consumidores estão muito ou extremamente preocupados com a poluição do ar, da
água, com o uso de embalagens e resíduos de alimentos. Boa parte destes
entrevistados são da chamada geração “Z”, a primeira que nasceu em um ambiente
completamente digital, e que cresceu vivenciando o protagonismo que as mídias
digitais (Facebook, Youtube, Twitter, Instagram) trouxeram para o dito “cidadão
comum”. Recentemente, observamos a força da chamada “política de cancelamento”
nestas mídias, e as terríveis consequências aos indivíduos, produtos e
empresas, neste mundo cada vez conectado, globalizado e engajado.
Com uma rápida busca no Google, podemos observar
que os investidores por todo o mundo se envolvem cada vez mais com o conceito
de “investimento responsável”, impulsionados pela crescente conscientização de
questões como mudanças climáticas, diversidade de gênero e impacto do uso de
plásticos no meio ambiente.
A pandemia aflorou algumas questões essenciais ao
cidadão comum, principalmente a interdependência que temos como indivíduos,
nações e empresas; nossa capacidade e poder de influenciar nosso próprio
destino e futuro. Essa nova visão do mundo e de nossa capacidade de
influenciá-lo não é uma tendência passageira, mas sim uma nova realidade.
Como forma de buscar esta “aderência” à nova
realidade, as empresas têm adotado as práticas conhecidas como ESG. Este termo,
que surgiu pela primeira vez no final de 2004, numa iniciativa chamada Who Cares
Wins, da ONU (Organização das Nações Unidas) em parceria com
instituições financeiras - advém do termo em inglês Environmental, Social and
Governance. Ele foi criado como uma métrica para avaliar o
desempenho das instituições em relação às práticas ambientais, sociais e de governança,
explicitando e acompanhando a performance destas companhias frente a tais
temáticas.
É com grande satisfação que reconhecemos que nosso
segmento já tem excelentes bases em termos de sustentabilidade e adequação ao
tema. O processo de fabricação de celulose no Brasil é reconhecido pelas
melhores práticas de manejo florestal do mundo. Produzimos 100% de nossa
celulose por meio de florestas sustentáveis e certificadas.
Em termos de processos industriais, temos um
circuito bem fechado, com aproveitamento dos principais fluxos internos de
processo. O consumo de água para fabricação de celulose, assim como a geração e
efluentes, tem diminuído significativamente ao longo dos últimos anos, com o
desenvolvimento de equipamentos e processos mais eficientes em termos
ambientais.
O impacto das emissões gasosas também tem sido
reduzido, por meio dos sistemas de abatimento de alta eficiência e
aproveitamento destes fluxos para fabricação de outros subprodutos, tais como
metanol e ácido sulfúrico.
A geração de energia é um capítulo à parte em nossa
história que nos traz muito orgulho. Há algumas décadas, éramos consumidores de
energia. A partir de combustíveis de fontes renováveis provenientes das nossas
próprias operações (como o licor negro e a biomassa proveniente de resíduos das
operações florestais) e investimentos em tecnologias de alta eficiência
energética, nos tornamos autossuficientes e passamos a comercializar parte da
energia elétrica excedente produzida. O setor de celulose e papel é hoje
reconhecido por contribuir com significativo incremento na quantidade de
energia renovável na matriz energética brasileira.
As empresas do setor têm apresentado à sociedade
programas de responsabilidade social consistentes com as demandas regionais em
que estão inseridas, e têm causado transformações significativas e positivas
nas comunidades em seu entorno. Estamos melhorando a qualidade de vida e a
expectativa de crescimento econômico de milhares de pessoas.
Nosso setor tem tudo para ser bastante atrativo
para os investidores com esta visão moderna, globalizada e social, pois somos
uma opção rentável, sustentável e responsável. Como exemplo concreto de nosso
bom posicionamento, em 2020, a Suzano foi a segunda empresa em todo mundo a
emitir o chamado sustainability linked bond, título em que o emissor se
compromete com uma série de compromissos ligados à sustentabilidade.
No entanto, o mercado e a concorrência são ágeis.
Para que possamos continuar nesta posição de vanguarda, temos que prosseguir
com os processos de modernização dos parques industriais existentes e mais
antigos, incorporando equipamentos e tecnologias que possam trazê-los aos
mesmos patamares de performance ambiental que as unidades recém-construídas no
país. São adaptações que exigem estudos complexos e grandes investimentos, mas
que são essenciais à reputação que construímos com tanto empenho.
Em termos de práticas operacionais e
administrativas, é necessário que o ESG mindset percole em todos os níveis
das instituições, norteando toda e qualquer decisão, considerando os riscos
envolvidos e impactos à reputação das empresas. Muitas vezes as metas de
produção, disponibilidade e custos a serem atingidos, acabam por sacrificar
valores inestimáveis às empresas e aos tomadores de decisão, até pela complexidade
das operações, que, muitas vezes, não percebem o equívoco.
Vejo que nosso setor tem um outro diferencial único
e que hoje é pouco valorizado ou explorado: somos reconhecidos pela
conectividade entre nossos profissionais. Somos um grupo capaz de criar, ao
longo dos anos, um incrível e efetivo networking. Trocamos experiências e
informações de maneira contínua, sempre dentro da ética profissional e das
regras de compliance de cada empresa. Não observo isso em outros
setores e países. Temos que aproveitar dessa vantagem competitiva adicional
para sermos mais assertivos, ágeis e – por que não? – mais agressivos em nossa
comunicação aos mercados e consumidores, fortalecendo nossa posição em sermos
referência quando se trata de sustentabilidade, responsabilidade social e
governança corporativa.
As empresas do futuro serão aquelas que gerarão
valores para todos, não somente para seus acionistas. Muito mais rápido do que
imaginamos, a sobrevivência das empresas não estará associada apenas em gerar
lucro, mas em gerar lucro com propósito. Aqueles que não entenderem isso e não
tomarem ações concretas e visíveis, não conseguirão se perpetuar.
Fernando Scucuglia - diretor de Celulose e Energia
da Valmet na América do Sul.
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