Relatório de MSF
alerta para a falta de apoio integral às vítimas, que sofrem os impactos físico
e psicológico causados pelos abusos
Em um novo relatório, Médicos Sem
Fronteiras (MSF) denuncia a falta de suporte para os sobreviventes da violência
sexual na República Democrática do Congo (RDC). Tendo em vista
a magnitude e o impacto do problema, a organização pede às autoridades
congolesas, à sociedade civil e seus parceiros internacionais que redobrem os
esforços para garantir atendimento integral e de boa qualidade às vítimas,
oferecendo suporte médico, psicológico, socioeconômico e jurídico.
Os números apontados pelo documento são
significativamente altos. No entanto, representam apenas a ponta do iceberg. Em 2020,
cerca de 11 mil sobreviventes de violência sexual foram assistidos por equipes
de MSF e do Ministério da Saúde em seis das 26 províncias de RDC. São,
aproximadamente, 30 pessoas por dia. Os profissionais de MSF
atenderam 4.078 vítimas de violência sexual em Kivu do Norte; 3.278 em Kasai
Central; 1.722 em Maniema; 907 em Kivu do Sul; 768 em Ituri e 57 em Haut
Katanga.
Emergência médica
A emergência é acima de tudo médica. Os dados
coletados por MSF mostram um quadro preocupante do estado físico e psicológico
dos pacientes, que procuram unidades de saúde enfrentando
gravidezes indesejadas, infecções, lesões físicas decorrentes da violência e
graves traumas psicológicos, inclusive entre menores de idade, que representam
um quinto dos pacientes tratados por MSF em 2020.
"A extensão da violência sexual em RDC é
reconhecida e denunciada por muitos atores nacionais e internacionais",
disse Juliette Seguin, coordenadora-geral de MSF em RDC. “A
denúncia é acompanhada por ações concretas, porém inadequadas, seja em termos
de prevenção ou de proteção das pessoas. As necessidades estão longe de serem
atendidas nos locais onde trabalhamos”.
Novo relatório de MSF mostra deficiências
constantes
Divulgado essa semana, o relatório “Duas
Vezes Sentenciados” destaca as deficiências observadas no atendimento aos
sobreviventes como: fornecimento inadequado de treinamento para as
equipes médicas, abastecimento insuficiente de suprimentos médicos, baixos
níveis de informação para comunidades e pacientes no sistema de atenção médica
e psicossocial e lacunas significativas no suporte socioeconômico e jurídico.
As consultas realizadas por MSF revelam a extensão
do impacto econômico e social para os sobreviventes, muitos dos quais são
estigmatizados ou rejeitados por suas comunidades, não podendo acessar os
programas de reinserção.
Financiamento insuficiente
“As necessidades imediatas e de longo prazo são
significativas, mas o financiamento que lhes permitiria serem atendidas é
bastante insuficiente”, lamenta Seguin. “No ano passado, para RDC,
foram desembolsados menos de 6% do financiamento internacional solicitado para
atender às necessidades de saúde humanitária, e apenas 18% do valor solicitado
para a proteção das populações e dos direitos humanos. Essa tendência continua
em 2021. A resultado é a falta de apoio, que constitui uma dupla penalidade
para os sobreviventes".
O relatório de MSF apela às autoridades, à
sociedade civil e seus parceiros internacionais para redobrar seus esforços
para garantir atendimento integral e de boa qualidade a sobreviventes de
violência sexual - ou seja, suporte médico, psicológico, socioeconômico e
jurídico. Esses esforços devem garantir um melhor acesso a programas urgentes e de
longo prazo para os casos de violência vinculados a conflitos ou não, e mesmo
para as agressões que ocorreram em uma zona de conflito ou em uma zona
considerada "mais estável".
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