Avanços em diagnóstico e tratamento têm aumentado consideravelmente as chances de cura dessa doença
Da triste realidade dos anos 1960, quando não havia chance de cura, para o cenário atual as perspectivas para pacientes com leucemia linfocítica aguda pediátrica (LLA pediátrica) mudaram radicalmente. O índice de crianças curadas em países da Europa e nos Estados Unidos chega a 85%/90%. Mesmo no Brasil, onde algumas novidades ainda não estão amplamente disponíveis, o percentual de cura passou de cerca de 20% na década de 1980 para aproximadamente 70% nos dias atuais.
A LLA é a leucemia que mais afeta os pequenos, principalmente na
faixa entre 2 e 5 anos. Não se sabe ao certo o que desencadeia a doença, mas
alguns fatores de risco foram elencados ao longo dos anos, como exposição da
mãe à radiação, o fato de a criança ter passado por radioterapia ou quimioterapia
anteriormente, alguns quadros virais, síndrome de Down e ter gêmeo idêntico que
desenvolveu a enfermidade.
Avanços em várias frentes
Do diagnóstico ao tratamento e à abordagem multidisciplinar, há avanços nas mais diversas frentes.
De acordo com a médica Maria Lúcia de Martino Lee, hematologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, os diferentes subtipos de leucemia linfocítica pediátrica podem hoje ser identificados com precisão e de forma precoce por meio de modernos testes moleculares, informação fundamental para definir a melhor estratégia de tratamento em cada caso.
“Os protocolos de aplicação da poliquimioterapia – combinação de diferentes medicamentos, de acordo com a classificação da doença – também foram aprimorados para uma abordagem mais assertiva. Além disso, evoluíram os recursos para prevenir complicações como as infecções virais ou fúngicas, que podem ser fatais para essas crianças”, afirma a médica.
A recidiva (nova ocorrência) da LLA também tem hoje melhor controle graças às análises mais sensíveis que detectam a chamada doença residual mínima (tecidos com pequenas remanescências de células de câncer), permitindo o tratamento para atacar esses focos.
Outra bem-vinda novidade é abordagem multidisciplinar. “Além de pediatra e oncologista, é importante contar com nutricionista, fisioterapeuta, psicólogo, pedagogo e outros profissionais que contribuem para reduzir os efeitos colaterais dos medicamentos e acompanham o desenvolvimento da criança, inclusive após a cura, avaliando qualquer eventual reflexo no crescimento, na cognição, nos ossos, etc.”, explica Maria Lúcia.
Adotado apenas no caso de pacientes que não responderam aos
tratamentos, o transplante de medula óssea também teve refinamento nas técnicas
e avanços que atualmente permitem a realização do procedimento com doador
parcialmente compatível como mãe e pai. “Anteriormente, era necessária
compatibilidade total, algo bastante difícil de conseguir. Técnicas modernas
reduziram os riscos e os efeitos colaterais do transplante de medula óssea e os
avanços nos exames diagnósticos ajudam na indicação do procedimento no momento
adequado para obtenção do melhor resultado. Quanto mais previamente for
realizado o processo, maior a chance de sucesso”, explica a médica da BP, que figura
entre os cinco principais centros transplantadores de medula óssea do País e o
principal da capital paulista.
Entre as inovações mais recentes, está o tratamento com
terapia-alvo, tipo de medicamento que ataca diretamente as células leucêmicas,
oferecendo bons resultados e com menos efeitos colaterais. Um tipo incurável de
LLA até então, causado pela anormalidade cromossômica Philadelphia, hoje é tratado com
terapia-alvo. A imunoterapia com anticorpos monoclonais, que estimula o próprio
sistema imunológico a atacar as células cancerígenas, é outra frente
promissora.
Ampliar o acesso a esses novos recursos é o desafio do Brasil
para os próximos anos. É o caminho para fazer com que também aqui o índice de
cura da LLA pediátrica chegue aos 90%.
BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo
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