O
acúmulo de funções e a falta de uma rede de apoio são alguns dos fatores que
contribuem para a exaustão materna
O papel de cuidar e
gerenciar as tarefas da casa e a vida da família tem sido cada vez mais intenso
para as mulheres durante a pandemia da Covid-19. E, quando falamos das mulheres
que são mães, estudos mostram alguns fatores que aumentam significativamente os
impactos na saúde mental.
De acordo com uma
pesquisa realizada pela startup Famivita, 39% das brasileiras com filhos
pequenos perderam o emprego durante a pandemia. O desemprego afeta
negativamente o bem-estar não só físico, mas também emocional dessas mães neste
momento já muito crítico, sobretudo porque muitas delas constituem, inclusive,
a única renda da família.
Não ter onde deixar os
filhos para ir trabalhar, por escolas e creches terem fechado e até mesmo o
medo de deixar com os pais idosos, também é uma preocupação constante para as
mães que precisam sair de casa. Em contrapartida, temos também aquelas que
sofrem com a rotina tripla do home office, em que é preciso cuidar dos filhos,
da casa, dar atenção ao trabalho, tudo ao mesmo tempo e no mesmo ambiente, o
que cria uma grande sobrecarga.
Somando as questões
financeiras, emocionais, os relacionamentos dentro de casa, vida pessoal e
profissional, isolamento social, a falta de contato com familiares e amigos,
além da administração de toda a situação da pandemia, da doença, do luto, do
cuidado com a higiene e limpeza, vivemos em um contexto em que mães estão
exaustas e mais propensas a desenvolver transtornos psicológicos.
Podemos observar esta
situação por meio do estudo realizado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão
Preto, com apoio da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, que mostra que 63%
das mães tiveram sintomas depressivos durante a pandemia.
Segundo Katherine de
Paula Machado, neuropsicóloga da Clínica Maia, este cenário atual pode levar as
mães a apresentarem diferentes condições mentais. "A tristeza intensa por
períodos prolongados pode se tornar debilitante, implicando no que conhecemos
por depressão. O medo e a ansiedade em excesso podem ser paralisantes e até
mesmo incapacitantes, como as fobias e transtornos de ansiedade. Assim como o
acúmulo de atividades, sem períodos de descanso ou lazer, contribui para o
desgaste emocional e pode desencadear a síndrome de burnout", aponta a
especialista.
Com muitas obrigações
no dia a dia, a casa deixa de ser um lugar de conforto e acolhimento para se
tornar um espaço de conflitos. O uso abusivo de substâncias psicoativas ou até
mesmo a dependência química, para quem tem predisposição, pode ser outro fator
agravante.
Além disso, também é
possível ocorrer estresse pós-traumático devido à repetição de vivências
negativas (embora esse transtorno seja esperado após a pandemia, também pode
ocorrer durante, devido à sua longa duração).
Para amenizar os
impactos de todo esse contexto pandêmico, Katherine recomenda que é muito
importante a construção de uma nova rotina, de acordo com a nova realidade,
estipulando horários para o início e fim das tarefas, seja trabalho, cuidado
com os filhos, refeições, pausas, lazer.
"Para ajudar na
organização do tempo, fazer uma planilha é uma alternativa válida, pois desta
maneira fica possível uma avaliação mais coerente da rotina estabelecida. Se
possível, essa organização deve incluir outros membros da casa, isso ajuda não
só a mãe, mas também os filhos que, muitas vezes, também têm seu comportamento
alterado", aconselha a neuropsicóloga.
Reconhecer e acolher
as emoções; ter um tempo para si, ter seu espaço pessoal e respeitar o das
outras pessoas; estabelecer momentos de descanso para fazer o que gosta, como
escutar música, assistir filmes ou séries, ler algum livro, meditar ou não
fazer absolutamente nada; e inserir a prática de exercícios físicos, que
liberam endorfina - um dos hormônios associados à sensação de prazer e ao
combate à depressão - são algumas medidas que podem ajudar.
Manter uma rede de
apoio social também é muito importante para dividir as angústias e
experiências; ter apoio emocional e aprender novas técnicas para lidar com a
tensão, a ansiedade e também problemas econômicos é essencial.
"É importante ter
clareza que estamos vivendo num momento atípico, onde ter tanta demanda torna
impossível realizar tudo com a eficiência desejada. Entenda que não é possível
dar conta de tudo, diminua o sentimento de culpa e tente viver um dia por vez.
Registre tudo que foi feito durante seu dia e verifique suas realizações e suas
conquistas, e não apenas o que não foi possível ser feito", recomenda
Katherine às mães.
Ao identificar que as
estratégias utilizadas não estão sendo eficientes, pode ser necessário buscar
ajuda especializada de um psicólogo e/ou psiquiatra. Lidar com sentimentos e
emoções em momentos de crise não é uma tarefa fácil, ainda mais quando existem
dependentes, como os filhos. Se for preciso, busque ajuda!
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