Historicamente, a medicina sempre foi baseada em evidências. Ao longo da evolução médica, no entanto, estas evidências foram aprimoradas e conquistaram níveis mais elevados de qualidade, tornando-se ainda mais essenciais no suporte à decisão clínica . O grande desafio, neste sentido, é a sensibilidade de conseguir incutir nos estudantes de medicina a aplicabilidade de critérios para análise dos níveis destas evidências, principalmente neste momento em que as aulas remotas tornaram-se inevitáveis e a transformação para o ensino online aconteceu de forma abrupta.
Neste sentido, desde
os momentos iniciais na universidade, é imperativo o ensino e a aplicação de
noções básicas de estatísticas, para que o conceito de Medicina Baseada em Evidências (MBE) perpetue-se como uma realidade para os
estudantes. E, que estes, consigam avaliar o nível de determinada evidência,
sem vieses e sem distorções, para que não se afete a tomada de decisão clínica
e a conduta médica.
Nos últimos anos,
observamos que alguns profissionais reduziram o foco de aplicação da
estatística no processo de julgamento crítico dos níveis de evidência clínica,
optando por seguir a conduta médica conforme a indicação de artigos, muitas
vezes, com descobertas incipientes da indústria farmacêutica ou de acordo com a
cultura da prática cotidiana, sem a comparação consistente e olhar crítico ao
que já existia por consenso ou novos estudos que possam trazer um impacto
eficaz com respaldo científico. Este tipo de comportamento aumenta o risco de
falhas, o que impacta diretamente na qualidade da gestão da saúde como um todo.
Saber diferenciar o
que interfere de forma consistente ou não nas condutas e saber estratificar
isto, a partir de estudos, é a principal chave para garantir que a Medicina
Baseada em Evidências se torne uma regra e não uma exceção dentro da cultura
médica. E, para que este processo aconteça de maneira eficiente, é necessário
que a preparação desta base de conhecimentos e aptidões tenha início nas salas
de aula das universidades.
Medicina Baseada em
Evidências nas universidades
Como visto
anteriormente, um dos principais obstáculos da Medicina Baseada em Evidências
no universo acadêmico é torná-la aplicável para o aluno. De modo geral, a
chegada da pandemia trouxe diversos desafios para os estudantes neste contexto,
desde o ciclo básico até o internato, considerando que o ensino da MBE deve ser
aplicado durante todo o processo de aprendizagem, iniciando no ciclo teórico e
difundindo-se no estágio curricular obrigatório, ou internato médico.
O primeiro passo para
a implementação desta cultura é a aplicação de métodos que possibilitem o
aprendizado teórico deste conceito logo no início do curso, para garantir que o
aluno entenda como é estratificada a evidência e em que ela se baseia. Desta
forma, é possível desenvolver um raciocino crítico que suporte as tomadas de
decisão do futuro profissional, seja para a aplicação individual em um
paciente, ou no cenário clínico em um contexto geral.
Paralelamente, os
projetos de iniciação científica, coordenados por um professor, são essenciais
para auxiliar na fixação e construção de uma base de informações para o aluno,
uma vez que o assentamento do conhecimento é promovido a partir de processos
práticos. Ou seja, acontece a partir da criação de ambientes de atividades
integradoras e de situações problemas, em que os estudantes precisam centrar o
raciocínio na união e na relação desses conhecimentos.
Com a chegada da
pandemia e a transformação da rotina de ensino, as universidades precisaram se
adaptar a novas ferramentas para garantir que esse processo continuasse
vigorando. A suspensão das aulas e do atendimento realizado pelos internos
interrompeu este processo justamente no momento em que a aplicabilidade do
conceito entrava em cena, uma vez que, no internato, os desenhos de estudo e
discussões de conduta são introduzidos na prática clínica. Diante deste
cenário, as universidades apostaram em plataformas e recursos online para
reforçar o processo de raciocínio e aplicabilidade da Medicina Baseada em
Evidências.
O papel da tecnologia
como suporte à Medicina Baseada em Evidências
Vivenciamos um momento
em que nunca se falou tanto em medicina baseada em evidências. As
transformações resultantes da COVID-19 foram muito além das universidades. A
rotina de atendimento médico em instituições hospitalares foi alterada como um
todo. Em um primeiro momento, a ausência de informações impactou diretamente na
conduta clínica, já que as poucas informações existentes não tinham respaldo de
evidências de qualidade que justificassem determinadas condutas. Em um segundo
momento, o excesso de informações dificultava a análise do profissional sobre
qual a melhor evidência a ser seguida.
Neste sentido, as
tecnologias transformaram-se em fortes aliadas, tanto para os alunos, quanto
para os profissionais da linha de frente. Ou seja, no que diz respeito à busca
e escolha das melhores evidências, alinhar o raciocínio crítico desenvolvido na
universidade à utilização de recursos tecnológicos garante mais agilidade e preparo
durante todo o processo de tomada de decisão.
No contexto acadêmico,
as universidades adotaram plataformas virtuais de discussão realística, com
objetivo de reforçar este processo de raciocínio, bem como a aplicabilidade da
Medicina Baseada em Evidências. Assim, do ponto de vista da formação do aluno,
existem instrumentos potentes para que ele desenvolva uma cultura que culmine
na capacidade de utilizar corretamente as informações que envolvam a Medicina
Baseada em Evidências, sem eximir, é claro, a responsabilidade do aluno de
saber analisar e aplicar estas informações da maneira mais adequada, a partir
do aprendizado adquirido nas salas de aula e estágios curriculares.
Do ponto de vista do
profissional, a situação é a mesma. As plataformas de suporte à decisão clínica
mostram-se as principais responsáveis por agilizar o processo de conduta
médica, sinalizando as evidências, com nível de qualidade elevado e que devem
ser o norte para o suporte na tomada de decisão mais assertiva.
Juliana Gomes - líder de novos negócios e projetos da Wolters Kluwer
,
Health no Brasil.
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