Arquiteta Isabella Nalon explica
como é possível aplicá-lo nas residências para que todos sejam beneficiados
pelo conforto e segurança
Portas amplas marcam presença em
projetos onde o desenho universal está presente. Com elas, o acesso de qualquer
pessoa aos cômodos torna-se mais fácil e confortável | Foto: Julia Herman
Aplicado em projetos de produtos, serviços e ambientes, na
arquitetura de interiores desenho universal permite independência na vida dos
habitantes. Isso significa que a edificação não precisa de adaptações ou
modificações posteriores para que todos os moradores possam viver com conforto
e de acordo com suas características. E no que se aplica esse desenho que
abrange a todos?
Em muitos casos, simples ações como apertar um botão, vencer um
desnível ou abrir uma maçaneta é contemplada por esse conceito, resolvendo
problemas de forma muito eficaz. Originário dos Estados Unidos, o propósito é
desenvolver produtos e ambientes para serem utilizados, principalmente, por
deficientes, idosos, grávidas e mães que utilizam carrinho de bebê, pessoas
obesas, crianças ou pessoas com dificuldade na mobilidade.
“Trata-se de uma ideia macro de que qualquer ambiente ou produto
pode ser usado, alcançado e manipulado, independente das características e
habilidades do usuário, garantindo assim autonomia e segurança para todos, em
todas as fases da vida e respeitando as adversidades de cada um”, explica a
arquiteta Isabella Nalon, à frente do escritório que leva o seu nome. Na
arquitetura, esse conceito é muito aplicado em estabelecimentos como
restaurantes, lojas, bancos e espaços públicos como ruas, metrôs e parques,
entre outros lugares.
Escadas com corrimãos propiciam
mais segurança não só para pessoas com mobilidade reduzida, mas para qualquer
um precise ou que venha precisar de apoio| Foto: Julia Herman
Princípios Básicos
O desenho universal é pautado em sete princípios básicos:
Igualitário, que possa ser usufruído por pessoas com diferentes capacidades;
Adaptável, para atender pessoas com diversas habilidades e preferências; Óbvio,
que seja de fácil entendimento e compreensão ao ser humano; Conhecido, para que
a informação seja transmitida de forma clara e atendendo as necessidades de um
receptor, seja ela estrangeira e com um outro idioma, com dificuldade de visão
ou audição; Seguro, para minimizar os riscos e possíveis consequências de ações
acidentais ou não intencionais; Sem esforço para um uso eficientemente, com
conforto e o mínimo de fadiga; e por fim, Abrangente, estabelecendo dimensões e
espaços apropriados para o acesso, alcance, manipulação e o emprego,
independentemente do tamanho do corpo, postura ou mobilidade do usuário. “Estes
conceitos são essenciais para a configuração do desenho universal, facilitando
assim o dia a dia das pessoas”, reflete Isabella.
Nos banheiros, o mais indicado é
instalar torneiras de fácil manuseio para que todos os indivíduos possam lavar
as mãos sem precisar de ajuda | Foto: Julia Herman
Desenho
universal nas residências
Assim como nos estabelecimentos e espaços públicos, o desenho
universal pode estar presente nas residências, deixando os imóveis mais
acessíveis para todos com vistas a proporcionar mais qualidade de vida e
independência para as pessoas. Incluídos em ambientes do cotidiano, criam-se
ferramentas que possibilitam o exercício de sua individualidade e autonomia.
Assim, para que uma casa ou apartamento estejam inseridos nesse contexto, é
preciso pensar em soluções seguras, porém simples, para moradores e visitantes.
Entre os pontos listados pela profissional, pisos antiaderentes,
portas com 80cm de largura ou mais e ambientes de fácil circulação, por
exemplo, são muito bem-vindos. “Temos uma lista de ajustes que podem ser
trabalhados para que o lar esteja o mais acessível a todos. Janelas com
peitoril a partir de 60cm permitem o acesso a um usuário de cadeira de roda ou
que uma criança possa admirar, com a devida proteção e cautela, a paisagem”,
relaciona. A instalação de tomadas a partir de 40cm de altura em relação ao
piso, bem como torneiras com sensor ou com sistema tipo alavanca, e a
substituição de degraus por rampas ou o nivelamento no mesmo piso são outros
cuidados que contribuem para o desenho universal.
Ainda segundo Isabella, mesmo que a casa não tenha, em princípio,
moradores com mobilidade reduzida no círculo familiar ou de amizades, é sempre
recomendado considerar essas questões, haja vista que nunca se sabe quando a
demanda poderá ocorrer. Assim, ambientes com dimensões mínimas de 1,20 x 1,50 m
admitem a rotação de uma cadeira de rodas, uma escada com corrimão duplo e
largura para a passagem de duas pessoas e maçanetas de fácil manipulação são
outros acertos em projeto.
Funcionalidade
Com o desenho universal é possível abranger um maior número de
pessoas, promovendo a diversidade e transformando os espaços em lugares mais
inclusivos para a população. Com esse artifício, aumenta-se a usabilidade dos
produtos, sem a prerrogativa de custos elevados. Soluções como essas atendem
diferentes demandas e fases, evitando também que essas alterações sejam feitas
a longo prazo.
Nesse contexto, é importante respeitar as diferenças existentes
entre os perfis e investir em soluções e ideias que beneficiem pessoas com
diferentes habilidades. “Imagine viver numa cidade onde os espaços públicos
disponham de portas com largura suficiente para passar uma cadeira de rodas,
vias públicas com calçadas em boas condições e piso adequado, rampas de acesso
para atravessar nas faixas de pedestres, semáforos sonoros para os cidadãos com
deficiência visual, telefones públicos para surdos e portadores de necessidades
especiais. Seria perfeito se tudo fosse mais democrático”, relativiza a
arquiteta.
Cômodos espaçosos facilitam a
mobilidade dos moradores e visitantes, deixando todos confortáveis para
desfrutarem os espaços | Foto: Julia Herman
Benefícios
O desenho universal oportuniza diversos benefícios para as
pessoas, dando a elas mais qualidade de vida. Além disso, leva diversidade aos
espaços, já que cada um apresenta habilidades e necessidades diferentes em
relação ao outro, criando assim ambientes abrangentes e acessíveis. “A inclusão
não se trata apenas de produzir espaços acessíveis para pessoas com
deficiência, mas sim de inseri-las em ambientes do dia a dia por meio de
ferramentas que possibilitem o exercício de sua individualidade e autonomia”,
finaliza Isabella.
Isabella Nalon – arquiteta, com uma carreira sólida e
experiência proveniente de mais de 20 anos de trabalho, Isabella Nalon
percorreu uma trajetória de muitos estudos e pesquisas na área de Decoração e
Arquitetura. Sua experiência atuando como arquiteta na Prefeitura da cidade de
Münster, na Alemanha (1997), ajudou a criar uma visão plural e ampla de
diferentes culturas e públicos, o que se tornou um diferencial em seu percurso
profissional. Em 1998, inaugurou seu escritório em São Paulo e se especializou
em projetos arquitetônicos residenciais, comerciais e de decoração de
interiores. Frequentemente, tem projetos reconhecidos e publicados por
renomados portais e revistas de arquitetura e decoração, consolidando o
escritório na lista dos mais importantes da capital paulista.
Instagram:
@isabellanalon
Site: www.isabellanalon.com
Linkedin:
Isabella Nalon
Nenhum comentário:
Postar um comentário