Sempre que falarmos de Educação, devemos ter em mente que esta não se restringe ao Ensino. Certamente, o Ensino faz parte da Educação, e tem destacada importância, por isso trabalha-se muito em prol dos melhores resultados, mediante o aprimoramento e busca de métodos e estratégias, cada vez mais adequados à realidade e necessidades contemporâneas, contudo, reforça-se que Educação é muito mais que Ensino.
Diferentes registros
históricos mostram que, de maneira geral, a humanidade sempre se preocupou com
sua formação, de acordo com princípios e valores das respectivas culturas,
firmando nesse contexto a Ética e a Moral, que baseiam a própria Educação,
subsidiária de suas ações sociais.
Não obstante a Ética
estabelecida na Antiga Filosofia Grega, da qual a sociedade atual ainda nutre
seu legado, mesmo implicitamente, culturas anteriores à esta época já tinham
sua Ética e Moral. De mesmo modo, culturas contemporâneas à da Antiga Grécia, e
mesmo posteriores, também desenvolveram princípios e valores, que chegaram até
hoje, por meio da Educação.
A formação de uma
nação se norteia por um projeto educativo que deve acompanhar sua evolução,
sobretudo no âmbito do comportamento social. Novos hábitos e costumes surgem
continuamente, novas formas de conduta e de comportamento também, assim como as
profissões, mas, para se manter a identidade cultural, deve-se pensar que tais
mudanças não podem prescindir da respectiva Ética e Moral, que a caracterizam.
Estamos no início da
terceira década do século XXI, surpreendidos há quase um ano e meio por uma
pandemia, de origem e transcurso desconhecidos, diante de um futuro incerto e
com uma indagação praticamente consensual: considerando-se as perdas acumuladas
no âmbito da Educação, especialmente com relação a crianças e adolescentes, o
que fazer neste momento, o que planejar e como planejar para o futuro?
Por isso, em face
desta realidade, considero primeiramente que compete a todos, porém,
especialmente aos profissionais da Educação, pensar em modelos de formação que
sustentem as futuras gerações. Concomitantemente, é preciso mobilizar escola e
família, para que juntos se disponham a implementar um plano de reposição, a
curto prazo, e um plano amplo para o futuro. Certamente, não é fácil, mas é
necessário.
De mesma forma que em
outros momentos da história, durante e após epidemias, pandemias, revoluções
culturais e guerras, novamente hoje, o ser humano deverá se reconstruir, e não
somente em termos materiais, mas, sobretudo, comportamentais; o que coloca em
discussão a preservação ou não dos atuais princípios e valores éticos e morais.
Entendo que, como se
deu nestas outras situações, a reconstrução não deve ser do "zero",
pois o ser humano é essencialmente empírico, suas experiências lhe valerão
muito. Diante disso, reitero que o novo modelo de formação deverá ser
desenvolvido sempre com a participação efetiva da família e de profissionais da
Educação.
Nesse contexto,
recorro ao sociólogo e epistemólogo francês Edgar Morin, que no último dia 08
de julho completou 100 anos de idade, e que continua a nos privilegiar com os
registros de suas reflexões.
Morin escreveu um
livro intitulado La tête bien faite, ou "A cabeça bem-feita",
no qual deixa uma mensagem bastante interessante para os educadores
contemporâneos, apesar de ter sido escrito há 20 anos. Nessa obra, Morin mostra
a importância da constante reforma do pensamento humano, de acordo com as
peculiaridades do dia a dia e possibilidades para o futuro. Apropriando-me da celebre
frase latina da Reforma Protestante, Ecclesia Reformata et Semper Reformand
Est, atribuída por alguns ao teólogo holandês Gisbertus Voetius, e por
outros a Santo Agostinho, com todo respeito ao seu autor, independentemente de
quem tenha sido, poderia parafraseá-la, dizendo: Educatione Reformata et
Semper Reformand Est, ou seja, "Sempre é necessário reformar a
Educação", sobretudo em tempo de crise.
Estamos enfrentando
ondas e mais ondas da pandemia da covid-19, e efetivamente ninguém sabe como se
dará "the day after". Especialmente na Educação, escola e família
estão vivenciando inúmeras ações improvisadas, todas com base em suas
experiências, mas também na "tentativa e erro". Tudo isso é válido e
deve ser muito valorizado, pois essas ações legam aprendizado, útil para este
novo modelo de Educação, que deveremos implementar. Porém, nada pode ser feito
de forma atabalhoada e por francos atiradores, despreparados, autointitulados
educadores. A Educação deve ser planejada no contexto social, mediante o desenvolvimento
de políticas públicas sérias, de alcance nacional, com o consenso entre governo
e sociedade, mas sempre norteadas por educadores, que gastam seu tempo
estudando, pesquisando e reformando continuamente seu pensamento, em prol da
formação de novas gerações com "Cabeças Bem Feitas".
A caminho da conclusão
do primeiro quarto do século XXI, com vistas para uma Educação efetivamente
eficiente e eficaz, pais e educadores devem pensar em métodos e estratégias de
ensino, que propiciem os melhores proveitos, com base nos princípios éticos e
morais que defendem, incluindo o uso de novas tecnologias da informação e da
comunicação, porém, jamais prescindindo a existência da escola.
Para superar as
incertezas da Educação, família e escola devem caminhar sempre juntas, agindo
em cumplicidade recíproca, sobretudo neste tempo de reconstrução, de reposição
das inegáveis perdas ocorridas durante a pandemia, e da criação de um Projeto
Educacional Inclusivo, adequado às futuras gerações.
Educar é conduzir para
o mundo, sem egoísmo e sem exclusão!
Ítalo Francisco Curcio
- doutor e pós-doutor
em Educação. É pesquisador no curso de Pedagogia da Universidade Presbiteriana
Mackenzie.
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