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segunda-feira, 10 de maio de 2021

“Youtubês”: fenômeno prejudica desenvolvimento da comunicação e interação infantil

Fonoaudióloga Daniella Sales Brom alerta pais sobre sinais que podem indicar a necessidade de intervenção, como por exemplo a dificuldade da criança em contar e recontar histórias cotidianas

 

”Meu filho não está completando frases com começo, meio e fim” ou ”Minha filha não consegue contar como foi seu dia na escola. Essas são frases cada vez mais comuns no consultório da fonoaudióloga e diretora da FonoBabyKids, Daniella Sales Brom. Os pais, muito preocupados, começaram a reparar que os filhos não conseguem se comunicar ou interagir adequadamente. ”A ausência da escola e a falta de encontrar os amigos fez com que as crianças passassem a consumir mais vídeos e mais expostas aos vídeos dos youtubers. Isso tem acelerado o fenômeno do ‘youtubês’”, explica Daniella.

Segundo ela, o mais preocupante nesse cenário é que a criança passa a agir como se não houvesse um interlocutor com ela, ignorando a presença de outra pessoa que é necessária para que a comunicação aconteça. “Tenho recebido crianças que conversam como youtubers e usam expressões como ‘Oi galerinha!’, mesmo na avaliação onde estamos apenas nós. Como os vídeos são apenas narrados, sem a imagem da pessoa que está falando, a ‘interação’ fica prejudicada. Quando direciono a comunicação da criança, ela simplesmente age como se eu não estivesse ali e continua ‘narrando’ seu vídeo como fazem as personalidades no Youtube”, conta Daniella.

Esse comportamento é prejudicial porque as crianças estão com dificuldades de iniciar e manter diálogos com o outro, com uma pessoa real, devido ao consumo excessivo desse formato de conteúdo nas telas. “Do nada a criança começa a falar exatamente como nos vídeos, como se fosse uma ecolalia, que é o comportamento de repetição da fala que não tem função comunicativa, apenas de reprodução”, explica a fonoaudióloga. Além disso, é comum também o uso de expressões diferentes e sotaques regionais com os quais a criança não teve contato. 

“Isso é prejudicial porque a criança começa a perder sua fala própria, que aprendeu com a família, e começa a utilizar a fala que vem da internet. Costumamos dizer que ela perde sua identidade e começa a criar uma identidade que é do outro e não dela. Isso pode modificar as relações interpessoais quando pensamos em crianças e até adolescentes que estão aprimorando sua linguagem e comunicação, além de fazer imitações às vezes não condizem com o contexto social em que ela vive”, finaliza Daniella.


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