Fonoaudióloga Daniella Sales Brom alerta pais sobre sinais
que podem indicar a necessidade de intervenção, como por exemplo a dificuldade
da criança em contar e recontar histórias cotidianas
”Meu filho não está completando
frases com começo, meio e fim” ou ”Minha filha não consegue contar como foi seu
dia na escola. Essas são frases cada vez mais comuns no consultório da fonoaudióloga
e diretora da FonoBabyKids, Daniella Sales Brom. Os pais, muito
preocupados, começaram a reparar que os filhos não conseguem se comunicar ou
interagir adequadamente. ”A ausência da escola e a falta de encontrar os amigos
fez com que as crianças passassem a consumir mais vídeos e mais expostas aos
vídeos dos youtubers. Isso tem acelerado o fenômeno do ‘youtubês’”,
explica Daniella.
Segundo ela, o mais preocupante nesse
cenário é que a criança passa a agir como se não houvesse um interlocutor com
ela, ignorando a presença de outra pessoa que é necessária para que a
comunicação aconteça. “Tenho recebido crianças que conversam como youtubers
e usam expressões como ‘Oi galerinha!’, mesmo na avaliação onde estamos apenas
nós. Como os vídeos são apenas narrados, sem a imagem da pessoa que está
falando, a ‘interação’ fica prejudicada. Quando direciono a
comunicação da criança, ela simplesmente age como se eu não estivesse ali e
continua ‘narrando’ seu vídeo como fazem as personalidades no Youtube”, conta
Daniella.
Esse comportamento é prejudicial porque as crianças estão com dificuldades de iniciar e manter diálogos com o outro, com uma pessoa real, devido ao consumo excessivo desse formato de conteúdo nas telas. “Do nada a criança começa a falar exatamente como nos vídeos, como se fosse uma ecolalia, que é o comportamento de repetição da fala que não tem função comunicativa, apenas de reprodução”, explica a fonoaudióloga. Além disso, é comum também o uso de expressões diferentes e sotaques regionais com os quais a criança não teve contato.
“Isso é prejudicial porque a criança começa a perder sua
fala própria, que aprendeu com a família, e começa a utilizar a fala que vem da
internet. Costumamos dizer que ela perde sua identidade e começa a criar uma
identidade que é do outro e não dela. Isso pode modificar as relações
interpessoais quando pensamos em crianças e até adolescentes que estão aprimorando
sua linguagem e comunicação, além de fazer imitações às vezes não condizem com
o contexto social em que ela vive”, finaliza Daniella.
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