Ninguém quer dizer a um médico como exercer seu ofício. Mas professores – segundo a pesquisadora Lara Marin – não costumam ser tratados como autoridade quando o assunto é Educação.
Afinal,
o que pensamos sobre a escola? De um lado, vemos essa instituição como a
responsável pela educação de crianças e jovens, pelo desenvolvimento da
humanidade e pelas soluções dos problemas sociais. De outro, ela é vista
constantemente como problemática e obsoleta. Enfim, por que a criticamos tanto
ao mesmo tempo em que apostamos todas as nossas fichas nela?
Precisamos
primeiro refletir sobre o que consideramos problemático na escola. Ninguém
ignora que há falta de estrutura, de recursos, de políticas públicas e existe
desigualdade educacional.
Além
disso, gestores escolares e educadores identificam outras questões, como a
falta de parceria das famílias e a indisciplina dos estudantes. Por sua vez,
famílias e governos criticam a escola dizendo que ela é uma instituição
obsoleta e atrasada no que se refere às metodologias de ensino e a um currículo
que forme cidadãos para um futuro cada vez mais tecnológico.
Fato
é que a escola é uma instituição. E, como qualquer outra, é gerenciada e
vivenciada por pessoas que trazem consigo conhecimentos, experiências e
formações. Certamente, é construída por aqueles que nela atuam, mas também por
toda a comunidade em seu entorno – que nem sempre reconhece a própria
responsabilidade nessa construção.
Justamente
por termos tanta expectativa com relação ao futuro, demandamos muito da escola
lavando as nossas mãos, identificando-a como a única responsável pela educação
e, aparentemente, nunca nos satisfazendo com seus resultados.
Muito
disso tem um motivo claro: não damos a devida autoridade aos seus
profissionais. Professores e professoras estudaram para atuar na escola e sabem
o que estão fazendo. Da mesma forma que experimentamos uma situação de
vulnerabilidade quando deixamos um médico fazer uma cirurgia em nossos corpos,
devemos confiar nos professores na hora de escolher os melhores caminhos para a
educação de nossos jovens e crianças.
PÚBLICA
E PRIVADA: DOIS OLHARES
Nas
escolas públicas, muitas vezes é diferente: educadores são vistos como heróis e
heroínas – o que significa, basicamente, que se empenham mesmo sem as condições
necessárias para o trabalho. São os que fazem valer cada vez mais a função
social da escola, tanto com relação à educação formal quanto no que diz
respeito ao cuidado, à assistência e à formação humana. Enquanto isso, nas
escolas privadas, docentes são questionados diariamente sobre suas escolhas
pedagógicas. E desqualificados também – afinal, “o cliente tem sempre
razão”.
De
uma forma ou de outra, ao que parece, o problema continua no outro. Apesar de
reconhecermos que a escola funciona de forma precária e sucateada no Brasil,
não nos solidarizamos com as condições de trabalho dos professores e das
professoras, e muito menos os reconhecemos como autoridade quando o assunto é
Educação.
Pensar
a escola é necessário, e as críticas e exigências são tão válidas quanto como
seria com qualquer outra instituição. Mas precisamos parar de achar que sabemos
mais do que os profissionais que a fazem existir mesmo em condições
indesejadas. Em vez disso, lutemos por ela, demos a essa instituição o seu
devido valor. Afinal, a boa escola é aquela que atua da melhor forma com o que
tem, e é isso que seus profissionais fazem diariamente. Portanto, merecem nosso
voto de confiança.
LARA MARIN - Autora
do livro “A Cultura nos Livros Didáticos” (Editora Appris), Lara Marin é mestre
em Estudos Culturais pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP. Além
de sua atuação como pesquisadora, é autora de projetos e materiais didáticos
desde 2008.
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