Um dos maiores impactos da pandemia Covid-19 na sociedade foi certamente o aumento significativo no nível de utilização das tecnologias digitais na vida das pessoas, é difícil de se imaginar como sobreviver em uma sociedade em um momento crítico como o atual sem dispor de acesso à internet, sem que seja possível o uso de aplicativos e softwares para desempenhar tarefas cotidianas como trabalhar, estudar, fazer compras e se relacionar com amigos e familiares estando todos limitados em suas capacidades de atuar de forma ordinária em suas vidas.
De fato, o isolamento social aumentou o número de
pessoas conectadas aos diversos sistemas e serviços da internet e também
aumentou o tempo de conexão destes usuários, como consequência, podemos afirmar
que houve uma expansão significativa no que podemos chamar de superfície de
contato para as ameaças de crimes cibernéticos.
Dados da Minsait, empresa de serviços digitais e
cibersegurança da Indra, apontam que houve um aumento de 75% nos números de
ataques por hackers durante a pandemia, sendo os mais comuns por meio de
técnicas de spam, uma espécie de publicidade em massa, vishing, que é a
utilização de engenharia social para obter vantagens ilícitas por meio de
chamada de voz, e smishing, golpe por mensagem de texto supostamente vinda de
uma fonte confiável.
A nova realidade em que ataques cibernéticos se
tornam cada dia mais comuns na vida das pessoas demanda uma pronta reação da
sociedade, incluindo empresas e governos, para se protegerem das diferentes
formas de ameaças, e isso passa não apenas pelo emprego de tecnologias – que
certamente são imprescindíveis – mas também por meio de uma nova abordagem de
entendimento das ameaças, adaptando sua cultura, processos e modelos organizacionais
para não se tornarem uma presa fácil de predadores digitais.
Um exemplo concreto de adaptação comportamental
pode ser compreendido por um estudo recente de um provedor de serviços de
segurança, o qual aponta que 90% dos dispositivos descartados contém dados
confidenciais dos antigos donos. A adoção de tecnologias para mitigar e
prevenir riscos tem se mostrado eficaz, mas é importante lembrar que investir
em treinamentos é crucial para o enfrentamento das ameaças, uma vez que os
funcionários constituem a “primeira linha de defesa” e suas ações individuais
podem comprometer a segurança da companhia como um todo.
A engenharia social é uma característica bastante
presente neste cenário: os cibercriminosos costumam entender o perfil do
usuário, suas preferências, estilos de vida, receios e criam armadilhas
personalizadas. Com isso, o internauta é induzido a clicar em um link e abrem
espaços para que hackers tenham acesso aos mais diferentes tipos de dados, como
senhas, informações bancárias, números de cartões de crédito ou simplesmente
informações pessoais. Dentre os crimes online, os mais comuns são os que
costumam oferecer algum tipo de benefício, oferta tentadora ou um serviço de
grande valor para o usuário.
Outro ponto relevante é a compreensão de como as
Fake News contribuem para este panorama. O intuito das notícias falsas nem
sempre é somente desinformar, mas também são ferramentas utilizadas para causar
algum dano a quem consome aquela informação enganosa. Atualmente, existem
aplicativos e plataformas que contribuem na disseminação das chamadas Deepfake
News, nova fronteira das notícias falsas, capazes de facilmente
manipular vozes e rostos com apenas uma pequena foto. Com isso, o
ciberdelinquente pode gravar falas e simular reações faciais cujas consequências
maléficas são incalculáveis para a vítima.
Como prevenção, o primeiro passo é estar sempre
alerta e adotar alguns hábitos que são simples, porém providenciais para não
ser alvo fácil destes ataques. Checar se a rede de Wi-Fi é confiável, manter
Antivírus, Softwares e Aplicações atualizadas, não clicar em links
desconhecidos e verificar a autenticidade de sites e domínios são algumas
práticas que podem evitar cibercrimes.
Além da desconfiança, é importante entender os
gatilhos que os ataques buscam. Os crimes mais comuns evocam sensação de medo e
de urgência, instigam a curiosidade de quem recebe essas mensagens e,
geralmente, aproveitam-se da ganância dos alvos para aplicarem estes golpes.
Usuários assíduos de serviços digitais, os
brasileiros estão constantemente online nas redes sociais. O relatório Digital
in 2019, divulgado pelas empresas We are Social e Hootsuite, constatou que 66%
da população brasileira está ativa nas redes sociais. É necessário ter o
controle e filtro do que é postado, tendo em vista que os perfis contêm
informações que podem ser valiosas para quem age com má intenção não só
virtualmente, mas também pessoalmente.
O avanço da tecnologia e dos dispositivos será
sempre acompanhado pelo desenvolvimento de novos crimes cibernéticos e
ferramentas para lesar os consumidores. Estar atento aos cuidados com a
privacidade e entender que não há dispositivo 100% a prova de hacker, pode
ajudar muito na proteção contra crimes e fraudes tanto para os consumidores
quanto para as empresas e governos.
Eduardo
Almeida - CEO da Indra e da Minsait no Brasil
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