A educação de crianças com necessidades especiais, transtornos do desenvolvimento ou dificuldades de aprendizagem sempre foi um enorme desafio, tanto para escola e os educadores, quanto para os pais e os próprios alunos em questão. Essa dificuldade talvez tenha a ver com o fato de que nossa sociedade valoriza a cultura da padronização e seletividade, restringindo o espaço para as singularidades e necessidades individuais.
Quando nos vemos diante de uma pandemia que trouxe
ainda mais desafios e dificuldades para a Educação, falar em inclusão se torna
ainda mais complexo. A integração em diferentes níveis e setores de uma
sociedade, incluindo aí um dos mais essenciais - a Educação -, é o que vai
determinar o futuro e a vida do indivíduo com alguma necessidade especial. O
Abril Azul, campanha realizada todo mês de abril para promover a
conscientização sobre o autismo, traz visibilidade para o tema neste
período e precisamos então aproveitar o momento para gerar reflexão e ação no
sentido de uma sociedade cada vez mais inclusiva, mesmo diante de desafios como
a pandemia.
Manter a concentração durante as aulas remotas é um
desafio para a maior parte dos estudantes, de qualquer idade e em qualquer
nível escolar. Mas, para alunos com necessidades especiais, a experiência de só
ter contato com professores e colegas por meio de uma tela de computador é
ainda mais difícil. No caso de alunos com Transtorno do Espectro do Autismo
(TEA), surgem inúmeras questões quando são colocados para aprender por meio do
ensino remoto: o autista consegue permanecer em frente a uma tela e se
concentrar para absorver o conteúdo? Por quanto tempo isso é possível? Há que
se considerar também as dificuldades na comunicação virtual, não apenas no que
diz respeito ao aluno entender o que é dito, mas também no sentido de se fazer
entendido.
Por maior que seja a preocupação de escolas e
educadores em adaptar a realidade atual para que o ensino remoto também seja
inclusivo aos autistas, é preciso levar em conta que o isolamento e a suspensão
das aulas presenciais afetam uma das principais premissas da inclusão desse
público, que é a socialização. Quando um aluno autista entra na escola, a
socialização é um dos principais objetivos desse processo. A interação e a
comunicação com o outro podem se tornar grandes desafios. O ensino remoto para
esse estudante vai exigir estratégias personalizadas, um olhar diferente para a
aula que está sendo oferecida. O professor precisa aplicar uma metodologia,
expressão facial e corporal específicas para se conectar a esse aluno. A
integração entre família e escola é igualmente importante no processo de
aprendizagem, que também tem como finalidade a interação com os demais colegas
da turma em atividades cotidianas, que lhe permitirão a socialização tão
fundamental para seu processo de inclusão social.
Abraçar a causa da educação inclusiva - com ou sem
pandemia - é trabalhar diariamente para quebrar as barreiras que sempre se
apresentam pelo caminho. Escola e educadores precisam buscar alternativas que
garantam àqueles com necessidades especiais as adaptações necessárias para
viabilizar o aprendizado, mas sem deixar de lado uma questão importante: o
aluno precisa estar inserido no mesmo contexto dos demais, sem que tais
adaptações acabem por excluí-lo do meio ao qual deve pertencer. Sem essa
condição, a inclusão não acontece de fato. Não podemos apartar um aluno de seu
grupo apenas porque para ele a aula virtual é mais difícil. Quem sabe criar
momentos, mesmo que curtos, de interação com pequenos grupos? Os professores
podem sugerir que uma vez por semana um grupo se reúna, virtualmente, para
conversar e trocar ideias sobre algum tema das aulas ou sobre assuntos que
possam chamar a atenção dos estudantes. Dessa forma, o aluno com TEA, ou outra
necessidade, tem a oportunidade de interagir, ouvindo e participando.
Outra estratégia pedagógica é agendar um momento
individual do aluno com o professor, para que possa haver uma comunicação mais
dirigida para essa criança ou jovem, visando às expressões faciais, à fala
personalizada e até à comunicação não verbal, estratégias tão importantes
quando se trata de estabelecer o vínculo com o aluno autista e a adequação do conteúdo
para a realidade individual. É certo que o nível de autismo e as formas de
manifestação do transtorno em cada aluno também determinam o grau de
complexidade do processo de inclusão, sendo, por isso mesmo, necessário lançar
um olhar individualizado sobre cada caso. O que não se pode é incorrer no erro
da padronização ou da acomodação.
Wania
Emerich Burmester - consultora pedagógica do Sistema Positivo de Ensino.
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