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quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Cirurgiões alertam: medo de procurar hospital na pandemia pode agravar problemas de saúde

Para orientar pacientes, médicos listam sintomas que não devem ser negligenciados por pacientes


O recente aumento de casos de COVID-19 em nosso país pode desencadear um outro problema: casos de urgência e emergência cirúrgicas que chegam em situação mais grave aos hospitais. Isso acontece porque as pessoas têm medo de se contaminarem em ambiente hospitalar e adiam a ida ao médico quando começam a sentir os primeiros sintomas. Essa atitude pode dificultar o tratamento e colocar a vida do paciente em risco.

O cirurgião de urgência, emergência e trauma Bruno Pereira, CEO do Grupo Surgical, responsável por este tipo de atendimento em oito hospitais de Campinas, Valinhos e Vinhedo, conta que nos meses em que a pandemia ficou mais crítica, houve um aumento de casos cirúrgicos mais graves nas urgências e emergências. “As pessoas demoravam mais para buscar o hospital. Em muitos casos, essa demora pode ser bem significativa, aumentando os riscos para o paciente”, explica. “Nossa preocupação é que com o aumento dos casos de COVID-19, isso volte a se repetir. É importante que o paciente entenda que a prevenção em ambiente hospitalar é grande, estamos tomando muitos cuidados para evitar a contaminação. Portanto, é muito mais arriscado ele protelar a ida a um pronto-socorro, se apresentar algum sintoma de doenças que podem ser graves ou se agravar com a demora”, afirma.

De acordo com Pereira, é fundamental que o paciente procure um hospital ao sentir alguns sintomas, como mudança no hábito intestinal, que pode ser tanto constipação quanto diarreia, dor abdominal insistente, cólica forte, sangramento ou escurecimento das fezes, vômito com sangue, falta de apetite, náusea e dor abdominal migratória.

Mudança no hábito intestinal, por exemplo, pode ser sinal de câncer colorretal e, nesse caso, quanto antes fizer o diagnóstico e o tratamento, maiores são as chances de cura do paciente. “Pacientes com sangramento do trato gastrointestinal, ou seja, nas fezes ou no vômito, também precisam ser avaliados porque pode ser hemorragia digestiva. Pode ser algo simples, mas 2% a 10% dos pacientes com Hemorragia Digestiva acabam morrendo, então, é um sintoma que realmente precisa ser investigado”, orienta. Há várias causas para o sangramento, como úlceras pépticas, gastrite hemorrágica, esofagite, neoplasias (câncer), varizes esofágicas, uso de anticoagulantes, entre outras.

Outro problema muito comum é a apendicite. Os sintomas mais frequentes são dor abdominal e falta de apetite, que atingem 100% dos pacientes, seguido por náuseas (90%), vômitos (75%) e dor migratória (50%). Quanto mais cedo houver o diagnóstico, melhor, já que complicações da doença podem causar perfuração do órgão e até infecção na corrente sanguínea (sepse ou septicemia). O quadro do paciente costuma mudar a cada 12 ou 24 horas e a demora também pode resultar em dificuldades cirúrgicas, complicações pós-operatórias, longos períodos de internação e até a morte.

Já as crises de dor intensa podem ser sinal de colecistite, que é a inflamação da vesícula biliar. “Nos casos agudos, a cólica biliar costuma ser mais forte e duradoura, podendo durar até mais de 12 horas, com pico entre 15 e 60 minutos após o início. Os pacientes relatam que, muitas vezes, a dor é insuportável e vem acompanhada de enjoos e vômitos”, complementa o cirurgião. De acordo com ele, cerca de 30% dos pacientes com colecistite aguda também apresentam febre e, em alguns casos, calafrios.

O paciente com colecistite aguda precisa ser operado logo após o aparecimento dos primeiros sintomas porque o quadro pode ser agravar e causar outros problemas, que podem até levar à morte. Entre as complicações mais comuns, estão a peritonite (inflamação do peritônio), formação de fístula para o intestino, septicemia (infecção generalizada), formação de abcessos causados pela necrose provocada pelas bactérias e pancreatite. “Essas complicações costumam ser muito graves. Por isso, é importante agir rapidamente”, afirma Pereira.

“Sabemos que este é um momento que exige cuidados. Não é hora de ir a um hospital por qualquer coisa, mas a pessoa não pode ficar ‘esperando passar’ se tiver alguns desses sintomas. Na maioria das vezes, é uma corrida contra o tempo e, certamente, quanto mais precoces forem o diagnóstico e o tratamento, maiores as chances de cura e menores os riscos”, reforça o cirurgião.

 

 

Grupo Surgical

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