Para orientar
pacientes, médicos listam sintomas que não devem ser negligenciados por
pacientes
O recente aumento de casos de COVID-19 em nosso
país pode desencadear um outro problema: casos de urgência e emergência
cirúrgicas que chegam em situação mais grave aos hospitais. Isso acontece
porque as pessoas têm medo de se contaminarem em ambiente hospitalar e adiam a
ida ao médico quando começam a sentir os primeiros sintomas. Essa atitude pode
dificultar o tratamento e colocar a vida do paciente em risco.
O cirurgião de urgência, emergência e trauma Bruno
Pereira, CEO do Grupo Surgical, responsável por este tipo de atendimento em
oito hospitais de Campinas, Valinhos e Vinhedo, conta que nos meses em que a
pandemia ficou mais crítica, houve um aumento de casos cirúrgicos mais graves
nas urgências e emergências. “As pessoas demoravam mais para buscar o hospital.
Em muitos casos, essa demora pode ser bem significativa, aumentando os riscos
para o paciente”, explica. “Nossa preocupação é que com o aumento dos casos de
COVID-19, isso volte a se repetir. É importante que o paciente entenda que a
prevenção em ambiente hospitalar é grande, estamos tomando muitos cuidados para
evitar a contaminação. Portanto, é muito mais arriscado ele protelar a ida a um
pronto-socorro, se apresentar algum sintoma de doenças que podem ser graves ou
se agravar com a demora”, afirma.
De acordo com Pereira, é fundamental que o paciente
procure um hospital ao sentir alguns sintomas, como mudança no hábito
intestinal, que pode ser tanto constipação quanto diarreia, dor abdominal
insistente, cólica forte, sangramento ou escurecimento das fezes, vômito com
sangue, falta de apetite, náusea e dor abdominal migratória.
Mudança no hábito intestinal, por exemplo, pode ser
sinal de câncer colorretal e, nesse caso, quanto antes fizer o diagnóstico e o
tratamento, maiores são as chances de cura do paciente. “Pacientes com
sangramento do trato gastrointestinal, ou seja, nas fezes ou no vômito, também
precisam ser avaliados porque pode ser hemorragia digestiva. Pode ser algo
simples, mas 2% a 10% dos pacientes com Hemorragia Digestiva acabam morrendo,
então, é um sintoma que realmente precisa ser investigado”, orienta. Há várias
causas para o sangramento, como úlceras pépticas, gastrite hemorrágica,
esofagite, neoplasias (câncer), varizes esofágicas, uso de anticoagulantes,
entre outras.
Outro problema muito comum é a apendicite. Os
sintomas mais frequentes são dor abdominal e falta de apetite, que atingem 100%
dos pacientes, seguido por náuseas (90%), vômitos (75%) e dor migratória (50%).
Quanto mais cedo houver o diagnóstico, melhor, já que complicações da doença
podem causar perfuração do órgão e até infecção na corrente sanguínea (sepse ou
septicemia). O quadro do paciente costuma mudar a cada 12 ou 24 horas e a
demora também pode resultar em dificuldades cirúrgicas, complicações
pós-operatórias, longos períodos de internação e até a morte.
Já as crises de dor intensa podem ser sinal de
colecistite, que é a inflamação da vesícula biliar. “Nos casos agudos, a cólica
biliar costuma ser mais forte e duradoura, podendo durar até mais de 12 horas,
com pico entre 15 e 60 minutos após o início. Os pacientes relatam que, muitas
vezes, a dor é insuportável e vem acompanhada de enjoos e vômitos”, complementa
o cirurgião. De acordo com ele, cerca de 30% dos pacientes com colecistite
aguda também apresentam febre e, em alguns casos, calafrios.
O paciente com colecistite aguda precisa ser
operado logo após o aparecimento dos primeiros sintomas porque o quadro pode
ser agravar e causar outros problemas, que podem até levar à morte. Entre as
complicações mais comuns, estão a peritonite (inflamação do peritônio),
formação de fístula para o intestino, septicemia (infecção generalizada),
formação de abcessos causados pela necrose provocada pelas bactérias e
pancreatite. “Essas complicações costumam ser muito graves. Por isso, é
importante agir rapidamente”, afirma Pereira.
“Sabemos que este é um momento que exige cuidados.
Não é hora de ir a um hospital por qualquer coisa, mas a pessoa não pode ficar
‘esperando passar’ se tiver alguns desses sintomas. Na maioria das vezes, é uma
corrida contra o tempo e, certamente, quanto mais precoces forem o diagnóstico
e o tratamento, maiores as chances de cura e menores os riscos”, reforça o
cirurgião.
Grupo Surgical
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