A economia brasileira esboçou uma boa reação no começo do último trimestre deste ano com o abrandamento das medidas mais restritivas de Estados e municípios. Os empresários precisavam deste alívio e mostraram que sabem reagir e fazer a roda da fortuna girar quando há condições para isso.
Porém, os números da pandemia voltam a crescer, as
atividades nas cidades experimentam de novo o regime de restrições e a gangorra
entre isolamento e crescimento ameaça balançar da parada da turbina ao desejo
de fazer o País decolar rumo a um futuro melhor.
Diante deste cenário, e nesta época do ano, o nosso
desejo seria o de transmitir otimismo para o próximo ano, mostrar um horizonte
promissor para as empresas e a situação do emprego no Brasil. Se de um lado
temos o temor da doença, de outro acompanhamos com tristeza a leniência ou o
desinteresse do governo federal ante a outra grande tragédia brasileira: o
desemprego.
Aliás, o número oficial do desemprego (mais de 14
milhões de pessoas) é apenas uma parte do drama. Ao se acrescentar ocupados por
tempo insuficiente, desalentados e ainda a chamada força de trabalho potencial,
chega-se a 33,2 milhões de indivíduos. O drama ficaria ainda mais visível com a
adição dos empregados sem carteira assinada, mais nove milhões.
E quantos aos informais, que perambulam pelas ruas
em busca de sobrevivência, sem nenhuma garantia? Considerados os mais
impactados pelos efeitos do novo coronavírus sobre a economia, os informais
representam 40,6% do total de trabalhadores ocupados no País, ou 38,081 milhões
de pessoas, segundo o IBGE. O auxílio emergencial aliviou a vida dessas
pessoas, mas ainda não se sabe se haverá continuidade e a que preço.
A desocupação de 14,6% no trimestre de julho a
setembro foi a maior da série iniciada em 2012. O desemprego aumentou 1,3%
entre o segundo e o terceiro trimestres e atingiu um recorde. Nesse intervalo,
a população desocupada aumentou 10,2% (mais 1,3 milhão de pessoas) e passou a
ser 12,6% superior à de igual período de 2019.
Evidente que se observa alguma defasagem entre a
retomada econômica e a recuperação do emprego. É normal, menos no Brasil. Não
houve, no terceiro trimestre, apenas uma reação mais rápida do consumo e da
produção industrial. Houve aumento do desemprego, um aumento notável por mais
de uma razão.
Primeiro, houve um infeliz desencontro entre a
atividade econômica e as condições de emprego. No terceiro trimestre a economia
produziu 7,5% mais que no segundo, de acordo com o Monitor do PIB – FGV. Para o
Banco Central, a atividade havia sido 9,5% maior que a do período de abril a
junho.
Em muitos países as condições de emprego
melhoraram, embora permaneçam os danos causados pela crise. Nos 37 países da
Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OCDE), o desemprego
médio em agosto foi de 7,4%, menor que o de julho. Continuava superior ao de
fevereiro, mas a redução havia começado.
No Brasil, a política de reativação pouco se ocupou
do emprego. Micros e pequenos empresários, muito importantes para a criação de
vagas, continuam com dificuldade para conseguir crédito. Isso quando conseguem,
pagando 2% ao mês de juros, fato o governo conhece bem, embora não tenha
percebido ainda a tragédia do desemprego.
Os empresários estão com medo de contratar diante
de um futuro incerto. Muitos estão com problemas para pagar o 13º salário e
outras obrigações em razão do custo do crédito. E com o recrudescimento da
pandemia, o horizonte se torna ainda mais nebuloso.
Em parte por causa da situação geral, algumas
empresas estão contratando trabalhadores temporários informalmente, sem nenhum
direito. Nós, da Federação e do sindicato, somos contra essa prática. Isto
torna as empresas do nosso setor ainda mais vulneráveis à crise. E alertamos
que os empresários que desrespeitam as leis correm o risco de passivos
trabalhistas. Enfim, empresas e trabalhadores só têm a perder com essas contratações.
Seria normal sugerir um 2021 pleno de boas notícias
para conciliar com as festas de fim de ano. Mas, infelizmente, precisamos
esperar que o governo acorde e tome medidas efetivas a favor do emprego. Uma
delas seria, junto com o Congresso, aprovar as reformas tão necessárias ao
País, como a tributária.
Mas que seja uma reforma justa, mais abrangente,
que realmente desafogue as empresas para permitir o avanço do mercado de
trabalho. Porém, se anuncia uma reforma tímida para reduzir a burocracia e
aumentar encargos.
Enfim, só nos resta despedir rapidamente de 2020 e
pedir muito para que Deus ilumine a cabeça de nossos governantes em 2021. Aí,
sim, teremos um Ano Novo bom para todos.
Boas festas!
Vander
Morales - presidente da Fenaserhtt (Federação Nacional dos Sindicatos de
Empresas de Recursos Humanos, Trabalho Temporário e Terceirizado) e do
Sindeprestem (sindicato paulista da categoria).
Nenhum comentário:
Postar um comentário