De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), em seu momento mais crítico, o Brasil registrou 319 mil novos casos por semana, sendo o recorde da pandemia. O número estava em queda até a semana de 2 de novembro, quando 114 mil casos foram registrados no país. No entanto, os números voltaram a crescer. Na semana de 26 de novembro, a taxa chegou a 218 mil casos por semana, dobrando novamente os números.
“Mais uma vez, enfrentamos uma fase crítica
provocada pela covid-19. Medos que haviam recuado com a queda dos casos voltam
à tona, incluindo não somente a doença, mas possíveis consequências na saúde
mental, especialmente em crianças e adolescentes”, afirma a Dra. Danielle H.
Admoni, especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria),
psiquiatra da infância e da adolescência na Escola Paulista de Medicina
UNIFESP.
Impacto na saúde mental de crianças e adolescentes é preocupante
Estudo recente da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) mostrou como o isolamento e a falta de interação social afetaram as crianças: 88% dos pediatras que participaram do estudo relataram alterações comportamentais, incluindo oscilação de humor, citada por 75% deles, seguida de fala e comportamento desorganizados, abordada por 5% dos especialistas.
Ao contrário dos adultos, a preocupação maior
em relação a esse grupo está na saúde mental. Do total de pessoas acometidas
pela covid-19, os casos diagnosticados em crianças e adolescentes ficam apenas
entre 1% e 5%. “No entanto, os mais jovens fazem parte de um grupo mais
vulnerável emocionalmente. Assistir ao estresse dos familiares, às pessoas
doentes e ainda lidar com o afastamento dos amigos são aspectos mais difíceis
de serem assimilados por indivíduos em pleno desenvolvimento neuropsicomotor,
podendo gerar danos irreversíveis”, diz a psiquiatra Danielle Admoni.
Como identificar os sinais
Filhos de profissionais da saúde (que vivem com a ameaça do vírus), crianças afastadas dos pais infectados ou as que se enquadram no grupo de risco são as mais afetadas psicologicamente. Há ainda jovens com fragilidades prévias, como aqueles que já apresentam algum tipo de transtorno, deficiências ou outros problemas de saúde.
“A criança pode dar os primeiros sinais de estresse com atitudes que antes não eram comuns. Ficam mais chorosas, não dormem bem, alteram o apetite, regridem no desenvolvimento (uma criança que já havia realizado o desfralde volta a fazer xixi na cama) e evoluem para quadros mais intensos de hiperatividade, agressividade, personalidade introspectiva, sentimento de incompetência e déficit de atenção. No estresse mais intenso, há alterações persistentes ou graves, como isolamento, falta de interesse em conversar com as pessoas ou de realizar atividades que antes eram prazerosas. Também demonstram medo de sair de casa e pensamentos repetitivos sobre sua morte ou a de familiares”, explica Danielle.
De acordo com a psiquiatra, quando a criança é exposta ao estresse, toda a sua estrutura cerebral é afetada, provocando disfunção no sistema neurológico e endocrinológico. “Essas alterações se refletem na vida adulta, com o desencadeamento de doenças crônicas, como hipertensão arterial sistêmica, diabetes melitos, doenças pulmonares, distúrbios neuropsiquiátricos e comportamentais (como depressão ou transtorno de ansiedade generalizada) e maior risco à dependência química”.
Em relação aos adolescentes, vale lembrar que
eles estão na fase de descobertas, formação de identidade e de novas
experiências sociais. Com a pandemia, esse processo natural é rompido, podendo
ser fator de risco à saúde mental do jovem. “Ainda há o agravante de que,
diferente das crianças, os adolescentes são muito mais independentes. Ou seja,
é frequente estarem fora do controle direto dos pais. Daí a importância de
ficar atento aos sinais que sugerem comportamentos atípicos. Alterações bruscas
de humor, agressividade constante, isolamento maior do que o normal e,
principalmente, uso excessivo e recorrente de álcool indicam a necessidade de
uma abordagem profissional”, alerta Danielle Admoni.
Cuidando dos nossos filhos
Segundo a Dra. Cristiane Romano, mestre e doutora em Ciências e Expressividade pela USP, em meio a todas essas situações atuais, fica evidente a importância do suporte familiar, do acolhimento, do incentivo às atividades de lazer, do estabelecimento de uma rotina saudável (alimentação, sono e exercícios) e, se necessário, de um tratamento multidisciplinar com psicoterapia.
De acordo com ela, os pais devem reconhecer
os sinais de estresse dos filhos, validar esse estresse e retransmitir a eles
respostas que possam gerar segurança. Todo esse amparo, somado a sua
maturidade, ao seu estágio de desenvolvimento e sua habilidade intrínseca,
serão determinantes para que uma nova onda de covid não cause consequências
piores à saúde mental de crianças e adolescentes.
“A fragilidade da condição humana se aflorou diante
da pandemia, nos fazendo lembrar que não temos controle de tudo. Tivemos um
grande aumento de pessoas em busca de equilíbrio emocional, psicológico e
estratégico para preservar seu bem-estar físico e mental. Esse equilíbrio é
fundamental no ganho de maturidade para lidar com os imprevistos da vida.
Estes, sairão mais fortalecidos de tudo que ainda estamos vivenciando”,
finaliza Cristiane Romano.
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