No relógio do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Brasil entrou novembro de 2020 com 212,2 milhões de habitantes. Destes, estima-se que a população economicamente ativa, aquela em condições de trabalhar, seja de 106 milhões. Em torno de 13 milhões trabalham no setor estatal, sobram 93 milhões para o setor privado e, destes, havia 38 milhões de celetistas em março passado, sendo 40% mulheres (15,2 milhões) e 60% homens (22,8 milhões).
Segundo o Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados (Caged), publicado pelo governo federal, 897,2 mil perderam o
emprego de março a setembro, em função da pandemia e do isolamento social,
sendo 588,5 mil mulheres, ou seja, 65,6% dos demitidos. Os homens são 60% do
total de trabalhadores com carteira profissional, mas representam apenas 34,4%
dos demitidos no período citado. As mulheres foram as mais atingidas, e uma das
razões é que elas são maioria nas atividades mais prejudicadas pela crise, a
exemplo do setor de serviços.
Nas análises sobre o mercado de trabalho, três
problemas merecem destaque. Um, além de serem maioria entre os demitidos, as
mulheres demoram mais a retornar ao emprego formal. Dois, as mulheres têm mais
dificuldade de reorganizar o esquema doméstico para voltarem ao trabalho,
sobretudo as que têm filhos e estão sem a opção de deixá-los na escola, ainda
fechada. Três, os efeitos da reestruturação e da automação nas empresas reduzem
a quantidade de trabalhadores necessários.
A professora Simone Wajnman, da Universidade
Federal de Minas Gerais, é estudiosa do mercado de trabalho feminino e levantou
outro tema interessante: o efeito cicatriz, ou seja, quanto mais tempo a mulher
fica afastada do emprego, menor é a chance de ela retornar. O mercado de
trabalho merece especial atenção por ser um dos três principais mercados, ao
lado do mercado de crédito e do mercado de bens e serviços, e por ter grande
impacto sobre as pessoas e suas famílias.
Acompanho a situação do emprego no Brasil e no
mundo por ser objeto de estudo de minha profissão e por interesse pessoal e
familiar. Escrevi dois livros sobre educação financeira, um em 2004 e outro em
2011, nos quais trato de finanças pessoais e seus problemas, principalmente na
velhice, com destaque para as mulheres. A expectativa média de vida no Brasil
está em 75 anos, sendo 79 anos para as mulheres e 71 anos para os homens.
Portanto, as mulheres vivem oito anos mais que os homens, serão maioria entre
os idosos e a segurança financeira na velhice se torna essencial.
Os economistas são vistos como alarmistas e pregadores
de catástrofes. A questão não é essa, mas sim o fato de que o objeto da ciência
econômica é a sociedade em sua luta pela sobrevivência e para atender as
necessidades físicas, psicológicas e espirituais do ser humano. O animal homem
(que, por óbvio, inclui as mulheres) é um ser social, e suas necessidades vão
muito além daqueles que podem ser atendidas por bens e serviços materiais.
A economia é o sistema de produção, circulação,
distribuição e consumo dos bens e serviços que a sociedade produz, geralmente
em ambiente hostil e condições de riscos e incertezas. O mercado de trabalho
deve ser analisado muito além de seus aspectos materiais e financeiros, pois
seu funcionamento altera crenças, hábitos, costumes, comportamentos e afeta
fortemente atos individuais e sociais, inclusive os índices de violência.
Não é por outra razão que têm sido publicados
livros, pesquisas e matérias sobre a ciência da felicidade, em cujos conteúdos
a vinculação entre o mundo do trabalho e os dramas individuais e sociais
aparece com destaque. Um exemplo é a gravidade do desemprego entre os jovens,
bem maior do que o desemprego nas demais faixas etárias.
O desespero e o desencanto com a falta de
oportunidade para trabalhar, ganhar a vida e se realizar, justamente na fase de
maior empolgação e energia, têm levado a falar-se em duas gerações perdidas.
Para uma humanidade que saltou de 1 bilhão de habitantes em 1830 para 7,8
bilhões hoje, a vida não tem sido um show de facilidades. É uma luta árdua! O
desafio é ser feliz enquanto a luta se faz.
José Pio Martins - economista, reitor da Universidade Positivo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário