O consumo de ovos sempre gera muitas incertezas entre a população e, verdade seja dita, as "dietas da moda" que ora demonizam ora exaltam o alimento não ajudam! Entre as dúvidas mais frequentes levadas aos consultórios de nutricionistas estão: "ele pode ser consumido?", "aumenta o colesterol?", "qual é a quantidade recomendada?".
No Brasil, a I Diretriz sobre o consumo
de Gorduras e Saúde Cardiovascular recomenda uma limitação no consumo de
colesterol em até 300 mg ao dia. Da mesma forma, a V Diretriz Brasileira de
Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose incentiva a ingestão de menos do que
300 mg/d de colesterol para pacientes no geral, sendo que para pessoas já com
dislipidemia (elevação de colesterol e triglicerídeos), o consumo deve ser
menor do que 200 mg/d.
Ainda que ambas não
limitem a quantidade de ovos a serem ingeridos por dia, elas consideram que um
ovo contém de 50 a 250 mg de colesterol, dependendo do seu tamanho.
Na mesma linha, em
um estudo publicado em 2019 na prestigiada revista JAMA, os pesquisadores
apontaram que, para cada 300 mg adicionais de colesterol na dieta ingeridos por
dia, o risco de doenças cardiovasculares aumentou em 17% e a mortalidade por
variadas causas em 18%. Em uma análise mais detalhada, a ingestão de colesterol
foi ainda mais fortemente associada ao risco de acidente vascular cerebral do
que à doença cardíaca.
Contudo, generalizar os resultados para
populações não americanas requer cautela, uma vez que pessoas de outras localidades
são expostas a diferentes culturas nutricionais, padrões de alimentação e
epidemiologia de doenças. Além disso, trata-se de trabalho de dados
observacionais, o que não permite estabelecer uma relação de causa e efeito.
Também é importante lembrar que esses
achados devem ser interpretados paralelamente a vários importantes estudos
anteriores, que mostraram que a ingestão de ovos de baixa a moderada não está
associada a um maior risco de doença cardiovascular em pessoas geralmente
saudáveis. E vale sempre lembrar, nenhum alimento por si é responsável por
curar, tratar ou causar alguma doença!
Por isso, nos últimos anos, o foco
apenas no colesterol dietético foi diminuído à medida que mais atenção foi dada
à influência da gordura saturada e trans nos níveis de colesterol sanguíneo.
Consequentemente, o guia dietético norte-americano, o Dietary Guidelines for
Americans 2015 já removeu a recomendação anterior de limitar o consumo de
colesterol dietético a 300 mg por dia.
Segundo Fran Hu, pesquisador da Universidade
de Harvard, essas novas informações até podem reacender o debate, mas não devem
mudar as diretrizes gerais de alimentação saudável que enfatizam o aumento do
consumo de frutas, vegetais, grãos inteiros, nozes e legumes e a redução do
consumo de carne vermelha, carnes processadas e açúcar.
Por fim, ainda de acordo com a
universidade americana, embora uma gema de ovo possa apresentar, de fato, até
200 mg de colesterol, sendo uma das fontes mais ricas de colesterol, os ovos
também contêm nutrientes adicionais que podem ajudar a reduzir o risco de
doenças cardíacas. Além disso, a quantidade moderada de gordura em um ovo,
cerca de 5 gramas, é principalmente gordura mono e poli-insaturada, conhecidas
como "gorduras boas".
Além disso, o ovo é uma importante
fonte de vitaminas como a vitamina A, que previne a cegueira e a anemia,
principalmente em crianças. A colina, uma vitamina do complexo B, também está
presente e é importante para a saúde do cérebro, principalmente durante a
gestão e lactação.
Portanto, vale sempre a máxima: é
preciso olhar para o indivíduo e entender o seu padrão de alimentação como um
todo, com os diferentes grupos de nutrientes e não focar apenas em um alimento
específico.
Dra. Carolina Pimentel - Nutricionista com Mestrado e Doutorado em Ciências
da Nutrição pela Universidade de São Paulo.
Referências bibliográficas:
Zhong, V. W.;
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http://www.hsph.harvard.edu/nutritionsource/2019/03/18/eggs-and-cholesterol-back-in-the-spotlight-in-new-jama-study/
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http://www.hsph.harvard.edu/nutritionsource/2015/02/25/ask-the-expert-with-dr-walter-willett-cholesterol/
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