Como no filme “A vida de Truman”, o cidadão comum é
cada dia mais vigiado, não só no Brasil, mas, de modo geral, em todos os
lugares do mundo. Poucas pessoas sabem, mas o Google tem acesso a todos os seus
passos desde que você ativou uma conta de Gmail ou comprou um smartphone. Como
não ser rastreado? Não possuir smartphone e não ter conta em nenhuma rede
social. Radical, né? Pois é. Se não quiser se desconectar totalmente,
continuará sendo monitorado em seus mais cotidianos hábitos e detalhes mais
recônditos de sua vida e personalidade. Para impedir que esses dados sejam
explorados e vendidos para grandes corporações, a Lei Geral de Proteção de
Dados, já em vigor na Europa e nos Estados Unidos, começa a vigorar em agosto
de 2020 no Brasil.
Em tempos de pandemia e pós-pandemia, em que os
hábitos das pessoas estão sendo radicalmente modificados em todos os âmbitos,
tais informações podem ajudar países e grandes corporações a construir novos
impérios e fortunas, seja pelo mapeamento de novas demandas de produtos e serviços,
seja pela remodelagem de modelos de negócios já existentes.
Todas essas informações nos dias de hoje são
processadas por supercomputadores, softwares de Big Data, em grandes volumes,
denominados metadados. Some-se a esse cenário a Cyberwar entre Estados Unidos e
China na luta pela hegemonia mundial, que a cada dia se torna mais acirrada, e
eis que sem aviso surge um novo player no tabuleiro. O aplicativo TikTok,
criado e controlado por uma empresa chinesa, possui mais de 1,5 bilhão de
usuários em todo o mundo. Essa nova rede social tem como diferencial o
mapeamento global das principais tendências de hashtags do momento, além de
possibilitar criar vídeos e memes com efeitos especiais e rapidamente viralizar
vídeos de pessoas desconhecidas, tornando-as celebridades.
Assim como outras mídias sociais, possui mecanismos
de coletas de dados de seus usuários parecidos com o do Facebook e de outras
empresas americanas, e isso tem incomodado muito as autoridades estadunidenses.
Atrelado a isso, o TikTok se diferencia pela possibilidade de adquirir
criptomoedas e efetuar transações como compra de emojis, exemplo. Com o avanço
das moedas digitais, seria parte da estratégia chinesa difundir uma nova moeda
global? Penso que sim. Em um passado recente, Julian Assange, do Wikileaks, e o
ex-analista da NSA (National Security Agency), a Agência de Segurança Nacional
americana, Edward Snowden, nos revelaram a intensa Cyberwar entre EUA e China,
que desde então só tem se acirrado. Na China, atividades corriqueiras para os
brasileiros, como acessar YouTube, Facebook, WhatsApp ou buscar um assunto no
Google são quase impossíveis, uma vez que eles possuem as informações apenas
nas redes sociais e comunidades chinesas.
Tal controle é possível graças a um sistema central
de computadores e softwares que centralizam todos os acessos e trocas de
arquivos realizados em território chinês com o resto da rede no mundo,
apelidado no universo digital como “Great Firewall of China”, em alusão à
Grande Muralha da China. Tal aparato controla todo o conteúdo online em
circulação no país, barrando o que for considerado impróprio. Assim como a
expressão sugere, firewall é uma barreira de proteção que pode bloquear o
acesso a conteúdos considerados indesejados. Isso dá a eles uma vantagem considerável
nessa disputa hegemônica, porquanto, os cidadãos chineses, com raras exceções
desconhecem as redes sociais e do restante do mundo. Em razão disso, a China
hoje interage com todos os países do mundo, conhecendo e influenciando suas
culturas, mas nenhuma empresa estrangeira é capaz de influenciar e interagir
com a sociedade chinesa. Eis a principal razão do incomodo das autoridades e
empresas estadunidenses.
Nesse contexto, durante mais da metade do século
20, os EUA foram a grande potência hegemônica do mundo. No entanto, nas últimas
décadas, a China, com exceção do poderio militar, se apresenta como a grande
candidata a ocupar a liderança mundial da nova economia digital que emerge,
rompendo paradigmas, quebrando barreiras de fronteiras e estabelecendo novas
maneiras de sentir, pensar e viver. Desde priscas eras, vale o ditado de que
“saber é poder” – agora, mais do que nunca, este poder molda a mente humana e
plasma novas realidades.
Dane
Avanzi - advogado,
empresário de telecomunicações e diretor do Grupo Avanzi.
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