Está claro para todos nós que os avanços
tecnológicos são exponenciais. Mas, como pensar nessa tecnologia dentro de um
contexto que leve a educação a um novo patamar? Há alguns anos, a inteligência
artificial tem sido posicionada como o ápice da tecnologia para a educação.
Muitos acreditam que somente a tecnologia, de modo geral, é capaz de abrir
espaço para a inovação educacional, sobretudo em um contexto em que crianças e
jovens gastam duas vezes mais tempo diante das telas – televisão, computador, smartphonee
tablet
– do que na escola. Essa forma de pensar ganhou reforço desde 2010,
quando a revolução digital passou a ser incorporada à escola. Um pensamento
mais criterioso, entretanto, mostra que a educação inovadora nem sempre está
atrelada a soluções tecnológicas do momento, como a da inteligência artificial.
Inovar na educação requer analisar os contextos específicos e os objetivos mais
amplos, antes de depositar toda a esperança de mudança educacional em uma
abordagem única.
A Geekie, referência em educação com apoio de
inovação no Brasil e no mundo, há sete anos tem usado a inteligência artificial
em ferramentas e plataformas criadas pela empresa. Com uma visão pragmática e
especializada, temos desenvolvido formas inovadoras de fazer uso da tecnologia
e de metodologias para elevar os processos de aprendizagem a um nível coerente
com as necessidades de estudantes do século XXI. Não se trata de automatização,
mas da possibilidade inovadora de personalizar, canalizar o tempo dos
educadores e gestores para o que realmente importa e utilizar os recursos e
metodologias capazes de apoiar uma educação coerente com as necessidades dos
nossos alunos. Na sala de aula, os ganhos do uso da tecnologia são
indiscutíveis: ela ajuda a personalizar o aprendizado, auxilia professores no
planejamento de aulas e habilita os alunos com as capacidades digitais. O cerne
da questão – e um contraponto que trago – é que as tecnologias trazem
benefícios exponenciais quando voltadas aos professores. Um computador nas mãos
dos professores, por exemplo, elevou a notas dos alunos brasileiros no PISA em
2,7 pontos.
O que defendo é um olhar mais crítico para o uso da
tecnologia na sala de aula; enxergar e refletir para além da novidade. Aliás,
inclusive, devemos lembrar que a inteligência artificial não é uma novidade;
ela está entre nós desde a década de 1950. O cientista J. McCarthy, da
Universidade de Stanford – onde cursei o mestrado em Educação –, usou o termo
pela primeira vez em uma conferência, em 1956, na Dartmouth University, nos
Estados Unidos. Na ocasião, classificou teorias de complexidade, simulação de
linguagem, redes neurais e máquinas de aprendizagem; na prática, sistemas de
imaginação humana que usam a ciência da computação.
Uma das chaves da inteligência artificial aplicada
à educação é a machine learning – um programa ou sistema que constrói
um modelo preditivo a partir da análise de correlações entre os dados
disponíveis para aplicar sobre dados não conhecidos. Esse sistema usa o modelo
aprendido para traçar previsões úteis a partir de novos dados; o aprendizado de
máquina também se refere ao campo de estudos relacionado a esses programas e
sistemas. A machine learningé a prática de usar algoritmos para coletar
dados, aprender com eles e fazer predição de algo. A partir desses dados e
algoritmos, a máquina é “treinada” e adquire habilidade de aprender a executar
determinada tarefa. Com a automação de funções analíticas, cada vez mais será
exigido dos seres humanos habilidades criativas e sociais – algo que a escola
tradicional, muito comum ainda hoje, não está preparada para desenvolver.
A trajetória e visão da Geekie mostra a importância
da inclusão do professor em todas as propostas educacionais; com ou sem
tecnologia, o envolvimento desse profissional é essencial para potencializar o
aprendizado. Na empresa, aliamos a tecnologia de ponta às metodologias
pedagógicas inovadoras que potencializam o aprendizado. Ao contrário do pregado
pelos críticos, a tecnologia tem se tornado uma importante aliada dos
educadores, sobretudo no desafio de gerenciar melhor o tempo dentro e fora da
sala de aula. No Brasil, os docentes utilizam 12% da carga horária para
administrar tarefas operacionais (corrigir exercícios e provas, preencher
listas e tabelas, elaborar e revisar o planejamento, calcular notas); 20% é
usado para manter a disciplina na sala de aula; e 67% é dedicado ao ensino e
aprendizagem propriamente dita. Essa é a conclusão da pesquisa conduzida pela Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Com a experiência do atendimento de mais de 12
milhões de alunos e 5 mil escolas públicas e privadas, posso afirmar que o
principal aprendizado é que a tecnologia a serviço da educação se torna mais
poderosa quando está nas mãos dos professores. Quando auxiliamos o docente a
ter informações de forma rápida e eficiente, ele se torna um verdadeiro
super-herói que pode melhorar a qualidade da educação no Brasil. O processo de
visto, correção e cálculo de notas de atividades alternativas pode levar muito
tempo, demandando um tempo precioso que poderia ser investido pelo educador no
desenvolvimento de planos de aula e no atendimento um a um com estudantes. A
inteligência de dados pode trazer uma experiência mais personalizada e
personalizável; aprendizado adaptável no qual os professores passam a ter
acesso exatamente quando o aluno está consumindo o conteúdo; o envio de
informações sobre como estão lidando com esses conceitos. Esse conhecimento oferece
ao professor a oportunidade de fazer ajustes nas aulas de acordo com a
necessidade do aluno.Podem, inclusive, oferecer conteúdo adicional para que o
aluno possa ter um reforço necessário a ir mais adiante.
Com o apoio da inteligência de dados, o trabalho do
professor não se restringe a passar os conceitos, mas sim moldar comportamentos
como resiliência e inteligência emocional para lidar com desafios. Além disso,
todos nós temos aquela lembrança de um professor que moldou nossas vidas e nos
inspirou a escolher uma carreira profissional ou tomar uma decisão de longo
prazo nas nossas vidas. A tecnologia pode colaborar para conectar estudantes e
tutores por meio de feedbacksconstantes e customizados. A
interação do aluno com o docente, face a face, é responsável pelo
desenvolvimento das habilidades do século XXI – incluindo habilidades
cognitivas como resolução de problemas e desenvolvimento de pensamento crítico,
além de características como determinação e perspectiva.
A tecnologia na sala de aula extrapola a visão
sobre a capacitação de professores para o uso da ferramenta. Estou falando de
como os recursos tecnológicos ajudam a tornar a aula uma experiência mais
dinâmica e completa. Algo que é almejado por alunos, professores, pais e toda a
comunidade educacional. Para finalizar, quanto aos perigos da criação das
máquinas superinteligentes, acredito que devemos investir na criação de um
ambiente para que os humanos desenvolvam todo o potencial de aprendizado: ativo
e repleto de significado. Como diz Howard Gardner, cientista das inteligências
múltiplas e diretor-sênior do Project Zero: “A qualidade do sistema educacional de uma nação
será uma das principais determinantes – talvez a principal – de seu êxito
durante o próximo século e para além dele."
Claudio Sassaki - mestre
em Educação pela Stanford University e cofundador da Geekie, empresa referência
em educação com apoio de inovação no Brasil e no mundo.
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