A Pedagogia é a ciência do ensino que estuda
diversos temas relacionados à área educacional, tanto no aspecto teórico,
quanto no aspecto prático. Seu objetivo principal é a melhoria no processo de
ensino e aprendizagem, por meio da reflexão, sistematização e produção de
conhecimentos. Como ciência social, estuda as normas educacionais vigentes no
país e a estrutura que a compõe.
Dentro dessa estrutura, a Educação Infantil vem
ganhando cada vez mais campo de pesquisa. Por se tratar da base inicial do
desenvolvimento cognitivo - e também por ser o momento em que determinará o
sucesso da vida escolar da criança -, essa fase trabalha fatores que vão além
de conteúdos. Ela trata de fatores sociais, motores, emocionais e afetivos que
também interferem no processo de aprender. A esses fatores deve ser dado todo
tempo e atenção.
Todos esses conhecimentos, relacionados ao
desenvolvimento infantil e ao olhar cuidadoso que se deve ter à infância, são
temas pertinentes em especial à Pedagogia, pois esse profissional dedica seus
estudos e tem o conhecimento científico necessário para planejar e executar ações
que sejam realmente relevantes e significativas a essa faixa etária, assim como
pensar em mudanças, decisões e definições que modifiquem estruturas
educacionais. Decisões estas, sobre a idade de corte, que não podem ser vistas
de forma aleatória, mas sim compreendidas como pontos determinantes para o bom
desenvolvimento infantil.
Paulo Freire, em seu livro Educação como Prática da
Liberdade, de 1989, cita que “A teoria sem a prática vira 'verbalismo', assim
como a prática sem teoria vira ativismo. No entanto, quando se une a prática
com a teoria tem-se a práxis, a ação criadora e modificadora da realidade”. Ou
seja, ao se pensar em uma realidade educacional, ou em qualquer modificação que
se faça em sua estrutura, essa deve ser pensada considerando todos os saberes
elaborados em torno do desenvolvimento humano. Para que toda mudança - e
em especial ao se tratar da idade de corte - tenha significado real, ela
precisa de análise teórica e prática de especialistas na área, pois terão
propriedade me expor os motivos reais dessa tomada de decisão.
Sabe-se que se faz urgente mudanças que transformem
a realidade educacional brasileira. Algumas ações estão sendo trabalhadas
acerca desse tema, como a data de corte, que discute a transição da educação
infantil para o ensino fundamental, a qual foi aprovada no STF como sendo 4 e 6
anos completos até 31 de março respectivamente para ingresso nesses níveis.
Aliás, decisão coerente, que ressalta o valor da infância e valoriza o tempo
cognitivo da criança. No entanto, esse e outros temas relacionados a decisões
educacionais não podem ser vistos e analisados com superficialidade, mas sim
acordado frente à opinião de pedagogos e especialistas na área que, além de ter
o conhecimento teórico sobre o desenvolvimento cognitivo, conhecem a prática
escolar.
Ao se tratar de um processo de transição da
educação infantil para o ensino fundamental, muitas questões estão em jogo: a
maturidade biológica da criança, a predisposição maturacional para o processo
formal de alfabetização e aprendizagens de base matemática, o desenvolvimento
motor que está diretamente ligado ao sucesso da escrita, a socialização
adequada que permite à criança interagir com os demais e com o conhecimento
adquirido, ou seja, são muitas nuances que trazem para esse tema uma profunda
responsabilidade de decisão, que no caso da idade de corte foi assertiva. Mas,
e se os votos do STF tivessem sido contra essa idade de corte? Baseado em que
fundamentos cognitivos esses votos são aplicados? Sorte, ou realmente uma análise
detalhada do STF sobre desenvolvimento infantil antes da votação?
A educação precisa ser levada a sério. E esta
seriedade só terá visibilidade a partir do momento em que decisões que envolvam
aspectos educacionais e de aprendizagem, possam ser analisados e decididos com
a contribuição de especialistas nessa área.
Priscila Chupil -
pedagoga, psicopedagoga, mestre em Educação e professora do curso de Pedagogia
da Universidade Positivo (UP).
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