Quando a bancada do ainda minúsculo PT da Assembleia Nacional
Constituinte eleita em 1986 se recusou a assinar a Constituição, não estava
antevendo os problemas que forçosamente dela adviriam. Era por motivos errados
que o partido a rejeitava. Reprovava-a por não ser suficientemente socialista,
estatista, coletivista, corporativista e sindicalista, nem suficientemente
avessa à propriedade privada, ao cristianismo e à civilização ocidental. Tudo que
ela tinha de ruim, o PT queria ainda pior. Para quase todas as teses derrotadas
ou não tão vitoriosas quanto desejava, o partido tinha apoio da ala esquerda do
PMDB, que nos últimos meses do processo constituinte rompeu com o governo Sarney
e fundou o PSDB. É bom não esquecer: o PSDB nasceu mais próximo do PT que do
PMDB e muito distante do DEM (então PFL), com o qual viria a andar por bom
tempo.
A plataforma e as posições políticas que o PT sustentara na
constituinte serviram para atazanar todos os governos subsequentes. O partido
foi contra o Plano Real, o pagamento da dívida externa, a Lei de
Responsabilidade Fiscal, o superávit fiscal, as privatizações, a abertura ao
mercado externo, o agronegócio, bem como a toda e qualquer proposta que
significasse redução do tamanho e do peso do Estado. Na oposição, o PT fez
muito mal ao Brasil. O partido pode ser representado por uma figura de costas
para o século XXI, empacada com um pé na primeira metade do século XX, outro na
segunda metade do século XIX. Não apenas impediu, ou dificultou, de modo
sistemático, a aprovação de medidas modernizantes, mas emperrou, na mesma sintonia,
a mentalidade de parcela significativa da população brasileira, seduzida pelo
discurso partidário. O único, por sinal, que fez e faz política em tempo
integral, tendo, por isso, elevado poder de convencimento.
O tempo veio mostrar o quanto era hipócrita o duro combate à
corrupção que embalava a oratória do PT oposicionista. Esse vício moral não surgiu
com o PT. Não nasceu em 2003. Bem antes, já engatinhava pelos corredores do
poder, preparando-se para os “malfeitos” do porvir. Na longa continuidade do
governo petista, ganhou tempo para alcançar maturidade e se profissionalizar.
Brasília se tornou uma espécie de Vale do Silício da corrupção, terra dos
negócios bilionários, das “sacadas” geniais, pluripartidárias, conferindo notáveis
fortunas a indivíduos dos quais ninguém, antes, sequer ouvira falar.
Os treze anos de governos petistas criaram o caos. Derrubaram
a economia, reintroduziram a inflação, exponencializaram o déficit público,
jogaram milhões de brasileiros no desemprego, não promoveram quaisquer das
reformas estruturais e institucionais que a realidade nacional exigia e
naufragaram em irresponsabilidade fiscal e corrupção. O país afundou.
Com o impeachment de Dilma, o partido voltou à oposição e ao
mesmo padrão de conduta que o levara ao poder. Passou a opor-se às mais
indispensáveis e inadiáveis reformas, que por não terem sido feitas no tempo
devido, tornaram-se urgentíssimas. Em vão. O PT e seus anexos cuidam apenas de
impedir que o governo governe. A irresponsabilidade, na política brasileira, é
uma coisa doentia, que o PT também não inventou, mas à qual conferiu estatura
épica. Passou da hora de os partidos políticos brasileiros assumirem suas
responsabilidades e colocarem o bem do país em primeiro lugar. Parafraseando
Temer pelo avesso: não dá para manter isso aí, viu?
Percival Puggina -
membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor
e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no
país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia;
Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.
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