Gerontóloga da USP ajuda a esclarecer dúvidas dos familiares sobre
como detectar os primeiros sintomas, tratamentos, entre outras
Todos os anos, no dia 21 de setembro, é celebrada
a luta das famílias que cuidam de pessoas com o mal de Alzheimer, na data intitulada
“Dia Mundial do Alzheimer”. A doença, que causa – entre outros sintomas – perda
de memória, acomete mais de 1,2 milhão de brasileiros.
Com tantas pessoas afetadas pela doença, é comum
que surjam muitas dúvidas a respeito do assunto. Por isso, conversamos com Eva
Bettine, que é gerontóloga da USP e consultora do Método SUPERA Ginástica para
o Cérebro.
Confira:
O que é Alzheimer?
A doença descoberta em 1906 pelo médico alemão Alois Alzheimer é progressiva e irreversível, causando a perda da massa cerebral pela morte de neurônios. Ela atinge principalmente áreas do cérebro que armazenam as memórias de fatos recentes, mas também afeta a orientação no tempo e espaço, pensamento abstrato, aprendizado, distúrbios de linguagem e capacidade de realizar tarefas do dia-a-dia.
Quais são os primeiros sinais da doença?
Perguntas repetidas com frequência, falta de noção da hora e dia da semana, dificuldade para realizar tarefas com várias instruções, colocar coisas no lugar errado com frequência, alterações frequentes de humor e comportamento, perda progressiva da memória e dificuldade para se expressar.
“Muitas pessoas com falhas de memória ou
dificuldade para se lembrar do dia do mês, por exemplo, chegam a se questionar
sobre a doença. A diferença é que uma pessoa com Alzheimer apresenta todos
estes sinais com uma frequência anormal”, explica a gerontóloga.
O nível educacional está relacionado à incidência
do Alzheimer?
É fato que quanto mais a pessoa for estimulada intelectualmente durante a vida, maior será a sua rede de conexões entre os neurônios, promovendo um tipo de “poupança” que é chamada pelos neurocientistas de “reserva cognitiva”, diminuindo a chance da pessoa vir a desenvolver o mal de Alzheimer.
Por isso atividades que promovem essa ligação
entre os neurônios, chamada “ginástica para o cérebro”, são tão importantes não
apenas para idosos, mas também para crianças, adolescentes e adultos.
O Método Supera trabalha com estimulação
cognitiva para todas as idades por meio de atividades lúdicas, divertidas e
desafiadoras, como jogos online e de tabuleiro, apostilas com exercícios
cognitivos, ábaco (um tipo de calculadora oriental), dinâmicas em grupo e
neuróbicas.
Porém, é possível praticar no cotidiano com
exercícios simples que tiram o cérebro da zona de conforto, como trocar o
relógio de pulso, fazer um trajeto diferente para o trabalho, trocar de roupa
com os olhos fechados... Atividades como palavras cruzadas e sudoku também
ajudam.
Como é feito o diagnóstico do Alzheimer?
É importante citarmos que não existe um marcador biológico que confirme a doença. A conclusão da doença é feita por relatos de familiares, exclusão de outras doenças que também tenham sintomas parecidos, aplicação de questionários pelos profissionais da área e exames de imagem que mostram a perda de massa cerebral.
Quais são as outras doenças que tem sintomas
parecidos com os do Alzheimer?
O estresse crônico é um dos males mais comuns que podem afetar diretamente a memória e fazer com que a pessoa acredite estar com Alzheimer. Infecção urinária e doenças respiratórias pode provocar confusão mental (que é diferente do esquecimento).
estresse crônico que afeta a memória. Depressão.
Infecção urinária provoca confusão mental, que é diferente de esquecimento.
Doenças respiratórias como pneumonia também afeta por conta da falta de
oxigenação
Se meu pai ou minha mãe tiverem Alzheimer, eu
também vou ter?
Pesquisas provam que uma pessoa com pai ou mãe com Alzheimer não necessariamente passa a doença para os filhos, mas aumenta o risco de vir a desenvolvê-la.
Apenas idosos desenvolvem o Alzheimer?
Não. De acordo com pesquisas populacionais, ela
nunca começa antes dos 65 anos, porém, pode começar a se instalar a partir
dessa idade. É mais comum que os sintomas afetem pessoas com mais de 85 anos.
Abaixo de 40 anos de idade, o Alzheimer atinge menos de 0,5% das pessoas.
Por ser uma doença progressiva, o Alzheimer tem
fases?
Sim. E cada uma delas é caracterizada por sintomas específicos:
Fase inicial - A pessoa consegue
realizar atividades de forma quase independente, apesar dos pequenos prejuízos
de raciocínio e perda de memória já evidente. Ansiedade, agitação, desconfiança
e alteração da personalidade e senso crítico também são sintomas importantes.
Essa fase é precedida por um estágio conhecido
como Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) e várias pesquisas mostram que com
algumas intervenções, este comprometimento pode não chegar a progredir para o
Alzheimer. Neste estágio, atividades como exercícios para o cérebro (como os
que são realizados no curso de ginástica cerebral do SUPERA, por exemplo),
podem ajudar.
As atividades cognitivas podem contribuir para
“estacionar” a doença. Porém, não é recomendado parar com os tratamentos.
Fase intermediária (ou moderada) –
Nesta etapa, a pessoa afetada tem menos lucidez e passa a precisar de ajuda
para exercer atividades, principalmente de auto-cuidado. Já é acentuada a falta
de noção espacial e temporal e as dificuldades para expressar pensamentos ou
fatos em sequência é maior. Não é recomendado deixar a pessoa sozinha, pois ela
pode se perder em ambientes conhecidos. Há dificuldade em reconhecer familiares
e amigos e iniciam-se as dificuldades motoras.
Fase avançada – Há perda de noção
espacial e temporal, incontinência urinária e fecal, perda progressiva de peso
e a dependência passa a ser intensa – a pessoa afetada precisa ser cuidada em
termos de higiene e alimentação. Neste estágio é importante praticar exercícios
físicos para manter a mobilidade e, se possível, frequentar um fonoaudiólogo
para manter as capacidades de fala e deglutição.
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