Discutir o
problema de maneira franca e sem julgamentos é uma boa forma de auxiliar quem
pensa em tirar a própria vida, diz especialista
Um mal
silencioso. Assim o suicídio é percebido hoje na sociedade em geral, de acordo
com instituições públicas e privadas que trabalham para reduzir o número de
casos em todo o mundo. No Brasil, 32 pessoas morrem por dia, vítimas do
problema. Especialmente neste mês, a campanha Setembro Amarelo busca alertar a
população a respeito da necessidade de se falar sobre a questão. Abordar o
assunto publicamente e da forma correta é uma das melhores formas de se evitar
que muitas pessoas sigam por esse caminho sem volta, dizem os especialistas.
Segundo a
Organização Mundial da Saúde (OMS), 9 em cada 10 casos de suicídio poderiam ser
evitados, caso a vítima recebesse auxílio. Uma das questões levantadas pela
campanha no Brasil é: "Como buscar ajuda, se quem pensa em suicídio não
sabe como pode ser auxiliado?".
Números
da Associação Brasileira de Psiquiatria mostram que 98,8% dos casos de suicídio
estavam relacionados com histórico de doença mental, o que fortalece a
convicção de que o mal, na grande maioria das vezes, pode ser evitado.
Conversar
adianta
Divulgar
é preciso, e da maneira adequada, enfatiza a psiquiatra Analice Gigliotti,
diretora da clínica Espaço Clif e chefe do setor de Dependência Química e
Outros Transtornos do Impulso da Santa Casa da Misericórdia do Rio. Falar sobre
o assunto com quem sofre do problema pode fazer muita diferença, garante a
especialista, que inclui na conversa amigos, familiares e outras pessoas
próximas a quem demonstra estar em risco.
"Quase
sempre, o problema está atrelado a algum transtorno mental. Existem sinais
enviados por quem pensa em cometer suicídio, que podem ser percebidos por alguém
próximo", explica Analice. "Comportamentos como o isolamento, a falta
de esperança no futuro e uma baixa autoestima levam a pessoa a se descuidar da
saúde e da própria higiene, a não fazer mais questão de se cuidar.
Isso também
se reflete em frases como 'a vida não vale mais a pena´, ´vocês ficariam melhor
sem mim´ e ´em breve não vou mais causar problemas´, entre outras
expressões", explica Analice. "Devemos sempre levar a sério quando
alguém fala em cometer suicídio".
Ao
perceber indícios de que alguém possa estar pensando em dar fim à própria vida,
é preciso ir direto ao ponto, sempre com demonstrações de apoio.
"Jamais
devemos julgar quem pensa em suicídio. Amor, carinho, atenção e compreensão são
as melhores atitudes a serem tomadas diante dessa pessoa", explica Analice
Gigliotti. "Não há qualquer problema em se perguntar diretamente se alguém
pensa em se matar. Na verdade, o suicida em potencial quer e precisa ser
ouvido, mas muitas vezes não encontra essa possibilidade. Quem lida com uma
pessoa que tentou cometer suicídio não deve utilizar expressões do tipo
"Como você pode fazer isso comigo?" ou "Como você teve
coragem?".
Auxílio
médico
Além do
diálogo aberto e direto, a busca por um psiquiatra é fundamental. Cabe ao
profissional identificar o tipo de transtorno mental associado ao pensamento
suicida e iniciar o tratamento, que pode incluir uso de medicamentos e
psicoterapia.
O
psiquiatra Gabriel Bronstein, que também atende na Espaço Clif, ressalta que o
pensamento suicida não é uma condição permanente. Em alguns casos, observa,
podem haver fatores genéticos ligados ao transtorno mental que originou o
problema.
"O
suicídio é um pensamento que acaba. Após o tratamento, quem superou essa
situação pode nunca mais passar por isso. O importante é que o transtorno
original seja identificado e devidamente cuidado", explica o médico.
Brasil em
8º
Há cerca
de 20 transtornos mentais que podem levar alguém ao suicídio. Entre os mais
comuns estão aqueles causados pelo uso de substâncias, a anorexia nervosa, o
transtorno bipolar, a depressão e o transtorno de personalidade borderline. Em
2014, a OMS colocou o Brasil em oitavo lugar no mundo em número de suicídios.
Segundo o órgão, a cada 40 segundos alguém é vítima desse mal em todo o
planeta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário