O acrônimo CIO
já povoou os sonhos e o imaginário de muitos profissionais de tecnologia da
informação. Reconhecido mundialmente e associado ao papel mais alto e
estratégico de tecnologia de uma empresa, ele vem sofrendo profundas
transformações, principalmente por conta de vetores externos.
Entretanto, na prática, esse título nunca
significou de fato a mesma coisa quando se olha para dentro das organizações.
Por definição o CIO ou Chief Information Officer deveria
ser o executivo responsável pela estratégia de tecnologia que permeia a
organização; responsável por desenhar o futuro e determinar as transformações
digitais necessárias para alcança-lo. Ele deveria ter intimidade com o negócio;
trabalhar como parceiro e, portanto, lado a lado com o CEO, Chief Executive
Officer; bem como direcionar a estrutura E2E (end-to-end)
que operacionaliza o funcionamento do negócio com uma visão holística, mas
principalmente enxergando a tecnologia como meio e não como fim.
Além disso, deveria também ser dele a responsabilidade
pelo planejamento plurianual; o P&L; o estudo de tendências; a
construção do roadmap; a priorização de investimentos; o estabelecimento
de parcerias e, acima de tudo, ter o papel de atuar como um guardião da
estratégia digital não só fazendo-a suportar os planos de negócio, mas também
influenciando-os e, por vezes, habilitando oportunidades inovadoras e
potencialmente disruptivas.
Mas o mundo dos negócios é um bicho estranho. Ele
transforma as pessoas e seus cargos quase que silenciosamente. Quando nos damos
conta, o profissional não é mais exatamente aquilo que disseram que ele seria.
Ou ainda, o título acaba entrando na equação como moeda de atração para um novo
recrutamento externo ou compensação para aquele profissional desmotivado que
precisa de motivos para continuar produzindo, mesmo que seu escopo de trabalho
não o justifique. Esse bicho estranho é também capaz de dar o mesmo título ou
rótulo para pessoas com atribuições substancialmente diferentes, seja pela
abrangência hierárquica, geográfica, funcional, técnica e até em virtude do
porte e posicionamento da empresa em uma determinada indústria.
Prova disso é tentar reunir profissionais rotulados
como CIOs em uma única sala é investigar suas atuações e autoridades.
Certamente encontraremos pessoas muito operacionais sentadas sobre um orçamento
modesto, mas com liberdade para definir praticamente tudo quanto à adoção da
tecnologia. Ao lado dele, talvez encontremos outro indivíduo com orçamento
dezenas de vezes maior do que o anterior, mas sem liberdade, de mãos amarradas
e apenas gerindo as relações e níveis de serviço dos fornecedores de tecnologia
que foram estabelecidos de forma centralizada.
É também provável que encontremos executivos que
estejam entre esses dois primeiros, ou seja, com liberdade e autonomia, mas
limitados por um escopo geográfico menor; por uma categoria de serviço de TI
apenas; ou, se não limitado por estes fatores; por uma atuação puramente tática
sem qualquer participação e influência na estratégia. E olha que nem falamos
das linhas de report que, por si só, já nos diriam muito mais a respeito.
Definitivamente o acrônimo perdeu sua função. O
título de CIO não significa mais nada sem vier acompanhado de um descritivo do
que, de fato, compõe as atribuições desse profissional. Na verdade, arrisco
dizer que independente das limitações já descritas, se o profissional não for
efetivamente responsável por pensar e elaborar a estratégia digital da empresa
através de uma visão holística-multidisciplinar e influenciar o negócio
trabalhando em parceria com C-Level, ele estará sendo CIO de quê?!
Marcos Semola -
professor da IBE-FGV, executivo de TI, especialista em Governança, Risco e
Conformidade, escritor, palestrante, VP membro do Conselho de Administração da
ISACA e mentor de startups. | https://www.linkedin.com/in/semola/
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