O Brasil tem uma taxa
alarmante de gestações não planejadas e parece não haver a priorização para
programas de planejamento familiar, o que pode gerar complicações na saúde e
até mortalidade materna e infantil.
·
Apesar da
prevalência do uso de anticoncepcionais ser elevada no Brasil, ainda há um
percentual significativo de mulheres com necessidade de anticoncepção não
atendida, que se reflete no percentual significativo de gravidezes não
desejadas[i]
·
O país registra 1,8 milhão de gestações não
planejadas por ano, o que representa 55,4% de todos os partos[ii].
·
O medo da
reprovação social ou a postura contrária do parceiro ainda são barreiras para o
uso de métodos contraceptivos para evitar esse tipo de gestação. Além disso,
temores dos efeitos colaterais, preocupações com a saúde e falta de
conhecimento sobre as opções de contracepção e seu uso também impedem a adesão
de algumas mulheres aos métodos anticoncepcionais[iii].
·
As
mulheres mais pobres e com menor grau de instrução estão entre as que menos
fazem uso de contraceptivos[iv].
·
O acesso
aos métodos anticoncepcionais e aos serviços de planejamento familiar varia
entre as regiões e é menor nas áreas mais pobres, como na região Nordeste do
Brasil, onde a prevalência relatada de uso de contraceptivos atinge somente 62%[v].
·
Muitas
mulheres engravidam por estarem em situação de vulnerabilidade social, o que
faz com que o pré-natal não seja feito da forma correta, afetando diretamente a
saúde da mãe ou do bebê. 62% desses bebês têm complicações entre o
nascimento e o primeiro ano de vida e mais de 32 mil vão a óbito nesse mesmo
períodoii.
·
Um dos
fatores que pode modificar essa realidade é o investimento em educação e o
acesso à informação. Cada ano adicional de escolaridade da mãe pode reduzir a
mortalidade de seus filhos entre 5 e 10%[vi].
Investir em planejamento reprodutivo para reduzir o
impacto socioeconômico das gestações não programadas seria mais efetivo do que
administrar suas complicações.
·
Metade das gestações que acontecem anualmente no
país não são planejadas, atingindo 1,8 milhão no períodoi.
·
O custo relacionado às gestações não planejadas
alcança R$ 4,1 bilhões por ano, sendo que a maior parte (70%) é proveniente de
recursos das complicações no nascimento bebê e desse valor, 52% estão
envolvidos com a readmissão hospitalar no primeiro ano de vidai.
·
Cada gestação não planejada gera um custo de R$
2.293,001.
·
Políticas públicas que priorizam o investimento
preventivo em planejamento reprodutivo economizam recursos e podem evitar não
apenas gastos, mas uma série de problemas sociais. Um estudo mostrou que
haveria uma redução de 288 milhões de dólares ao ano em custos médicos nos
Estados Unidos se 10% das mulheres de 20 a 29 anos, usuárias de contraceptivo
oral, mudassem para contraceptivos reversíveis de longa ação[vii].
·
Prevenir uma gravidez indesejada evitaria uma
quantidade significativa de futuras despesas públicas. Um estudo da UNICAMP,
que avaliou gestações não planejadas no Brasil entre 2010 e 2014, concluiu que
reduções nas taxas de gravidez não planejada não só diminuem gastos como também
as taxas de morbidade e mortalidade materno-fetali.
·
Esse mesmo estudo concluiu que uma abordagem mais
eficaz para prevenção de gravidez não planejada pode ser feita não só por meio
da educação, mas também do uso de métodos contraceptivos. Quando analisada a
eficácia de cada método, os contraceptivos reversíveis de longa ação (LARC)
atingem as melhores taxas, por isso são considerados mais efetivosi.
·
Cada dólar gasto em planejamento familiar pode
economizar até 6 dólares, possibilitando que os governos invistam mais em
atenção básica e outros serviços públicos de saúde[viii].
·
A cada dois anos, a Organização Mundial da Saúde
(OMS) atualiza sua lista de medicamentos essenciais como um guia de referência
para os países desenvolverem suas listas nacionais de medicamento para o
sistema básico de saúde. Devido à eficácia, segurança e custo-efetividade, os
três tipos de LARC (implante de etonogestrel, DIU de levonorgestrel e DIU de
cobre) estão inclusos nessa lista[ix].
Pouco se fala sobre a real eficácia dos métodos
contraceptivos, mas a probabilidade de não haver uma gestação não
planejada aumenta de acordo com a idade, o tempo de uso e depende do método
anticoncepcional utilizado[x].
Os métodos geralmente mais usados, como camisinha e
pílula, apresentam um maior índice de falha ao longo de um ano, enquanto os
métodos reversíveis de longa ação, que são à prova de esquecimento e não
dependem da disciplina da usuária, são mais eficazes, porém menos conhecidos[xi].
·
Métodos anticoncepcionais que dependem da
disciplina da mulher são mais propensos ao uso incorreto ou a problemas de
adesão, o que resulta em falha e consequentemente em uma gravidez não planejada[xii].
·
A camisinha, seja a feminina ou a
masculina, são recomendadas nas relações sexuais, pois os únicos métodos que
previnem DSTs. Mas como nem sempre são utilizados adequadamente, a eficácia
contraceptiva de ambas é baixa. A cada 100
mulheres usando camisinha, entre 18 e 21 engravidarão no período de um ano3.
·
Esse também é o caso de mulheres que utilizam a
pílula hormonal oral, o anel e o adesivo. Para que a eficácia desses métodos
seja alta, as indicações da bula precisam ser seguidas rigorosamente. Como nem
todas conseguem ser tão disciplinadas, 9 em cada 100 mulheres (ou seja, quase
10%) engravidam usando um desses métodos ao longo de um anoxi.
·
Segundo estudo, quase metade das mulheres que
engravidaram sem planejamento (45%) estavam usando pílulas ou injeções
anticoncepcionais quando engravidaram[xiii].
·
Apesar de pouco conhecidos, existem métodos
contraceptivos que não dependem da ação da usuária e por isso não contam com
uma possível redução da eficácia em caso de esquecimento do uso. Existem três
opções de contracepção reversível de longa ação (LARC): o DIU de cobre, o DIU
hormonal e o implante hormonal, sendo que dentre eles, o implante de
etonogestrel apresenta o menor risco de falhaxi.
[i] Tavares LS, Leite IC, Telles FSP. Necessidade
insatisfeita por métodos anticoncepcionais no Brasil. Rev Bras Epidemiol. 2007;10(2)139-148.
[ii] HOA, H.; YU, Jingbo; HU, Henry X. The burden of
unintended pregnancies in Brazil: a social and public health system cost
analysis. International Journal of Women’s Health, v. 6, p. 663-670, 2014.Acesso
em: 11/08/16. Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Jose_Cecatti/publication/264396574_The_burden_of_unintended_pregnancies_in_Brazil_a_social_and_public_health_system_cost_analysis/links/541c19e70cf2218008c4e6ca.pdf.
[iii] USAID –
Agência de Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos Divisão de Saúde
GlobaL – Planejamento Familiar. 2007. Acesso em: 05/04/2016. Disponível em: http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/44028/6/9780978856304_por.pdf
[iv] BELLIZZI, Saverio et al. Underuse of
modern methods of contraception: underlying causes and consequent undesired
pregnancies in 35 low-and middle-income countries. Human
Reproduction, v. 30, n. 4, p. 973-986, 2015. Acesso em: 05/04/2016. Disponível
em: http://humrep.oxfordjournals.org/content/early/2015/02/02/humrep.deu348.full
[v] USAID –
Agência de Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos Divisão de Saúde
GlobaL –Contraceptive Procurement Policies, Practices, and Lessons Learned:
Brasil. 2006. Acesso em: 05/04/2016. Disponível em: http://pdf.usaid.gov/pdf_docs/Pnadm532.pdf
[vi] Herz, Barbara Knapp, and Gene B.
Sperling. What works in girls'
education: Evidence and policies from the developing world. Council on foreign
relations, 2004. Acesso em: 05/04/2016. Disponível em: http://www.cfr.org/education/works-girls-education/p6947
[vii] Trussel J, Henri N, Hassan F, et al. Burden of unintended pregnancy in the United States:
potential savings with increased use of long-acting reversible contraception. 2013; 87(2):154-61.
Acesso em: 05/04/2016. Disponível em:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22959904
[viii] Bill &
Melinda Gates Foundation. Acesso em: 0504/2016. Disponível em: http://www.gatesfoundation.org/What-We-Do/Global-Development/Family-Planning.
[ix] 19th WHO Model List of Essential Medicines. Abril, 2015.
Disponível em: http://www.who.int/medicines/publications/essentialmedicines/EML2015_8-May-15.pdf - Página 34 ou em http://www.who.int/medicines/publications/essentialmedicines/Executive-Summary_EML-2015_7-May-15.pdf?ua=1
[x] WINNER, Brooke et al. Effectiveness of long-acting
reversible contraception. N Engl J Med, v. 2012, n. 366, p.
1998-2007, 2012. Acesso em 05/04/2016. Disponível em: http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa1110855#t=article
[xi] Trussel J. Contraceptive failure in the United
States. Contraception,
83 (2011) 397–404. Acesso em: 05/04/2016. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21477680
[xii] Guazzelli
CA, de Queiroz FT, BArbieri M.et al. Etonogestrel implant in postpartum adolescents: bleeding pattern,
efficacy and discontinuation rate. / Contraception 82 (2010) 256–259.
[xiii] Leventhal LC,
Barbosa KSF. Planejamento gestacional em hospitais público e privado. RBPS
2008; 21 (4): 269-274. Acesso em: 05/04/2016. Disponível em: http://ojs.unifor.br/index.php/RBPS/article/viewFile/571/2236
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