Estamos entrando em uma nova fase no Brasil que talvez
melhore a ansiedade sobre as incertezas políticas e econômicas que vivemos nos
últimos meses.
É fato que nos últimos anos acreditamos no crescimento e
nas promessas de agentes políticos que utilizaram de populismo e expansionismo
para promover o tão sonhado desenvolvimento do Brasil, porém sem cuidar dos
lastros econômicos para a sua perpetuidade. Por instantes vivemos o deslumbre
do “sonho americano” de sucesso e prosperidade e esquecemos de nos preocupar
com o amanhã.
E o que aconteceu? O amanhã virou o hoje e nos demos conta
de que não fizemos a lição de casa!
Se analisarmos o comportamento das empresas é fácil
constatar que elas, em sua maioria, performaram seus lucros somente pela ótica
de caixa sem dar a devida importância e para a ótica econômica, ou seja, nos
últimos anos as empresas brasileiras viveram como se nunca fossem morrer e
morreram como se nunca tivessem vividos. Muitos quebraram sem saber, antes
mesmo da crise chegar, pois aumentaram suas dívidas e não se preocuparam em
renovar suas estratégias (longo prazo).
A lição aprendida é que precisamos mudar, buscar melhorias
constantes, mesmo com o vento a favor, pois o que vemos hoje é reflexo de uma
alavancagem e estímulo de crédito sem a devida responsabilidade de planejar o
futuro.
No fundo fomos penalizados por um comportamento sistêmico
de aumentar o nível de endividamento pela empolgação do “agora chegou a nossa
vez”.
Tudo bem que hoje existe uma expectativa de que a mudança
de governo tornará as políticas econômicas mais responsáveis, e já sabemos que
em mercados emergentes como o nosso “qualquer movimento financeiro tende a ser
amplificado”, mas o mais importante é não esquecermos de que ainda existe muita
dívida a ser paga, e que a expectativa em relação a economia brasileira já vem
sofrendo uma transformação considerável.
No começo do ano, vimos que agências de risco, como a
Fitch Rating, retirar o grau de investimento do Brasil atribuindo uma
perspectiva negativa para 53% das empresas, onde apenas 6% têm perspectiva
positiva. Segundo eles, o fluxo de caixa das companhias neste ano deve cair
para níveis inferiores aos verificados na última década. A Fitch considera que
apenas 19% das empresas emissoras de papéis, com ratings internacionais, têm
forte capacidade de enfrentar os desafios de 2016 sem danos a seus perfis de
crédito.
Sentimos uma mudança também no comportamento dos bancos
que retraíram crédito em um cenário de incertezas, um exemplo é o Itaú BBA que
já criou uma superintendência de reestruturação, que vem atuando diretamente na análise de indicadores de seus
clientes com o objetivo de precaver operações desastrosas. Ou seja, até mesmo
eles tiveram que sair da simples análise de Rating de Risco, prática mandatória
nos últimos anos, para voltar à análises de crédito mais estreitas e próximas
de seus clientes.
Porém, já é possível sentir uma onda de reação econômica
após o impedimento da ex-presidente Dilma relacionado a agentes externos que
voltaram a colocar os países emergente na mira do capital financeiro.
Não será fácil o renascimento do mercado, pois temos uma
dura missão de administrar um cenário de retração da economia combinado com o
aumento de impostos e incerteza de investidores.
Nos próximos anos o aumento de “lucro” será um esporte
para poucos, porém a lição de casa precisa ser feita, precisamos de uma boa
base política, econômica e social para sairmos desse cenário.
A boa notícia é o aumento das apostas dos fundos de
Private Equity no Brasil, que renderam mais do que a bolsa de 2006 a 2014. Isso
significa que existe uma melhor aceitação de investimentos de fundos privados
em empresas de médio porte podendo ser uma boa opção para os empresários que
precisam captar investimentos para o crescimento dos seus negócios.
Temos todos os ingredientes para a ressureição da economia
brasileira, porém, teremos que nos atentar na ordem em que cada um deles será
colocado, na forma com que serão misturados e no tempo certo que esse pão irá
crescer para ser dividido.
Como disse Adam Smith no clássico livro A Riqueza das
Nações: "Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro
que esperarmos nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelo seu próprio
interesse." Então teremos que trabalhar arduamente sem esquecer da lição
do crescimento sem responsabilidade, do comodismo de não nos preocuparmos com a
economia, do medo de competir e cooperar com o mercado e da ampliação de
negócios com paços maiores que as pernas.
Agora, o que nos resta é somente o trabalho árduo e a fé
na ressurreição da economia brasileira. Como dizem, orar e vigiar, eu digo,
trabalhar e acreditar.
Rafael Gomes - diretor da Ucon Advisors.
Atua há mais de 15 anos na gestão e reestruturação de empresas de médio e
grande porte com foco na aplicação das principais ferramentas e metodologias de
gestão empresarial. Formado Administração de Empresas com MBA em Gestão
Financeira, Auditoria e Controladoria é especialista em M&A.
Nenhum comentário:
Postar um comentário