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segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Negociação Coletiva: como evitar a greve

Especialista em Direito do Trabalho, o advogado Reinaldo Garcia explica as principais dúvidas de empresas e colaboradores sobre a medida


Em tempos de Negociação Coletiva, é comum - e já esperado - o embate entre empregadores, colaboradores e entidades sindicais durante o processo que definirá os novos acordos que irão vigorar nos meses subsequentes. O maior receio de tais negociações são as temidas greves gerais, que se instalam devido à falta de comunicação entre todas as pontas envolvidas na negociação.

De acordo com Reinaldo Garcia, especialista em Direito do Trabalho, e sócio da Guirão Advogados, as empresas devem estar preparadas para evitar surpresas indesejadas. Abaixo, o advogado lista as principais dúvidas sobre Negociação Coletiva, e apresenta dicas de como conduzir esse processo.


1) Qual o papel das Negociações Coletivas? 

Reinaldo Garcia: A Negociação Coletiva tem por finalidade estabelecer condições e cláusulas para um instrumento normativo, que regulará coletivamente as relações de trabalho de uma empresa ou grupo. Representam um conjunto de ações que antecedem a composição das regras que serão inseridas na Convenção Coletiva e/ou Acordo Coletivo.


2) O que é a Convenção Coletiva?

RG: A Convenção Coletiva ou Acordo Coletivo de Trabalho são documentos elaborados após o encerramento da negociação coletiva e possuem caráter normativo, pelo qual, ficam estipuladas as condições de trabalho aplicáveis, no âmbito das respectivas representações, abrangendo as relações coletivas e individuais.


3) Como são realizadas as negociações sindicais?

RG: As negociações sindicais são bastante complexas, não apenas pela duração, mas também pelo número de negociadores e a amplitude dos assuntos a serem tratados. Ou seja, um desses encontros pode contar mais de 50 pessoas, pertencentes a vários sindicatos e federações e que comumente não compartilham das mesmas opiniões. Ao final da reunião, o acordo pode contar com mais de 30 páginas contendo inúmeras cláusulas, envolvendo questões salariais, direitos humanos, assédio moral e sexual, questões de racismo, direitos sindicais e programas de benefícios das mais variadas ordens.


4) Qual a diferença entre Convenção Coletiva e Acordo Coletivo?

RG: A Convenção Coletiva é o acordo firmado entre o Sindicato Patronal e o Sindicato dos Empregados de determinada categoria. Já o Acordo Coletivo é o resultado de negociação firmada entre Empresa e Sindicato dos Empregados.


5) A pré-negociação é uma tática importante?

RG: Sim, e é preciso estabelecer princípios de constituição das reuniões de negociação. Ou seja, é mandatório que o local escolhido para a reunião seja neutro (nem na empresa, nem no sindicato). Além disso, a agenda deve contar com:

- Horário de início das reuniões;

- Intervalo para o café;

- Horário de término da reunião;

- Quantidade de participantes de cada lado;

- Local da reunião.

Essas ações ajudam a iniciar o contato entre as partes e demonstrar profissionalismo para que nenhuma atitude durante a negociação seja passional. A ética deve prevalecer desde os primeiros contatos entre os negociadores.


6) Quais são os requisitos legais para convenção coletiva ou acordo coletivo?

RG: A deliberação é de competência da Assembleia Geral especialmente convocada para esse fim. Para sua validade é necessário o comparecimento em primeira convocação de 2/3 (dois terços) dos associados, se tratar de Convenção e dos interessados no caso de Acordo. Caso seja necessário uma segunda convocação por falta de quórum basta o comparecimento de 1/3 (um terço) dos trabalhadores. Apesar de se tratar de um requisito legal e que deveria ser fiscalizado pelo Ministério do Trabalho, é certo - e comum - que os Sindicatos não respeitam esta formalidade. Assim, para atender a interesses próprios, as assembleias que homologam uma greve ou sua continuidade, ou mesmo a formalização de um acordo coletivo, apresentam essencialmente aqueles elementos ligados às políticas e interesses da cúpula sindical. Por essa razão recomenda-se que as empresas incentivem que a maioria dos seus empregados compareçam às assembleias, para que a manifestação de suas vontades atenue a manipulação da direção sindical.


7) Qual a recomendação após o término da negociação, momento em que as partes finalizam e elaboram o acordo coletivo ou a negociação coletiva?

RG: Após o término da negociação, é recomendável que seja firmado um termo contratual. Neste caso, é importante que o documento possua:

I – Designação do sindicato convenentes ou empresas acordantes;

II – Prazo de vigência; não poderá ultrapassar 2 (dois) anos

III – Categoria ou classe dos trabalhadores;

IV – Os ajustes que regerão as relações individuais;

V – Normas para conciliação em caso de divergência futura;

VI – Disposição sobre prorrogação ou revisão total ou parcial;

VII – Direitos e Deveres dos empregados e da empresa;

VIII – Penalidades pelo não cumprimento do pactuado;


8) Qual comportamento deve ser adotado em dias de negociação para evitar a greve?

RG: Durante o período de negociação, um dos grandes receios das empresas são as movimentações para que greves sejam realizadas. Tal comportamento é motivado como técnica de intimidação por parte dos sindicatos. Por outro lado, os trabalhadores afirmam que uma medida drástica auxilia para que as solicitações sejam ouvidas. Portanto, é imprescindível que todos os envolvidos sejam éticos durante suas solicitações e práticas. A dica para esse caso é: razão e emoção caminham de mãos dadas nessas negociações e é preciso equilíbrio para tomadas de decisões.






Reinaldo Garcia do Nascimento - Nascido  em  São  Caetano  do  Sul,  Reinaldo Garcia do Nascimento atua como advogado desde 2005 (OAB/SP- 237.826). Pós-Graduado em Direito e Processo do Trabalho pela Escola Paulista de Direito - EPD, é sócio e responsável pela área trabalhista e relação sindical do escritório Guirão Advogados (www.guirao.com.br). Além disso, Reinaldo é um exímio palestrante com temas sobre Relação Sindical, Reforma Trabalhista e Assédio Moral.


As eleições e os perigos da atuação dos robôs, ou bots, nas redes sociais


Hacker do bem ensina como identificar perfis suspeitos
 
Com as campanhas eleitorais cada vez mais aquecidas e face aos últimos acontecimentos, como o ocorrido ao candidato à Presidência da República, Jair Bolsonaro, é importante ficar atento às postagens e comentários nas redes sociais. Afinal, nem tudo que foi postado, compartilhado e comentado é verdade. Nestes canais de comunicação, há a atuação de robôs, também chamados de bots.


Como é a atuação dos robôs ou bots

Estes robôs são programas conectados na Internet com a finalidade de postar, curtir, compartilhar e seguir, simulando interações de pessoas reais. Podem compartilhar e postar conteúdo viral para atrair seguidores e curtidas, assim como curtir e seguir contas para que as pessoas os sigam de volta. Uma postagem pode ganhar popularidade pela atuação de um bot, que a impulsiona imitando os movimentos virais de curtir, comentar e compartilhar. Além disso, os mais maléficos podem denunciar contas de pessoas que utilizam corretamente as redes sociais, para que estas sejam suspensas.


Os robôs e as eleições

Em tempos de eleições, os bots podem ajudar na viralização de post de propaganda, de fake news ou mesmo fazer difamações ao curtir, comentar e compartilhar postagens. E ação vai além, uma vez estes que podem influenciar na popularidade de um candidato, trazendo mais seguidores quando curtem e seguem outras pessoas.

Para evitar problemas, Fernando Azevedo, sócio da empresa de reputação online Silicon Minds, defende que “a população deve se conscientizar de que robôs existem e são atuantes. Já os candidatos e suas equipes de comunicação devem ficar atentos para detectar contas suspeitas, fake news, difamação e calúnia nas redes sociais o mais rápido possível, e avisar à imprensa e o TSE. Também podem pedir aos seus eleitores que reportem às redes postagens com similar conteúdo”.

Vale ressaltar que difamação, calúnia e fake news podem gerar um grande escândalo, não importa se feitas por robôs ou contas anônimas criadas manualmente por pessoas.


Identificando robôs nas redes sociais

Segundo o especialista, “o Facebook e o Twitter estão trabalhando na detecção destas contas e ações realizadas por estas”. Geralmente, estes perfis são provenientes do mesmo IP e/ ou originados de endereços de emails temporários, ficam ativas 24/7 (vinte e quatro horas por dia/ sete dias por semana), repetem os comentários incessantemente, curtem e seguem pessoas que interagem com determinadas contas e podem fazer posts programados todos os dias sobre um único assunto.

Para ajudar a identificar perfis suspeitos, Azevedo preparou um passo a passo:

1) Verifique se o nome de conta tem nome de pessoa ou empresa que pareça ser séria.
Robôs usam números e símbolos para registrar nomes de usuários ainda não existentes, por exemplo “Azevedo49524”;

2) Pesquise se é conta recente;

3) Analise se tem site, descrição, foto pessoal e outros dados e informações que uma pessoa teria o tempo e cuidado para colocar no perfil;

4) Se a conta fala de um único assunto é grande a probabilidade dela ser falsa;

5) Investigue se a conta utiliza sempre os mesmos textos nos comentários;

6) Analise se a conta fica comentando, postando e curtindo o tempo todo, inclusive em horários de pouquíssimo movimento, como as madrugadas de segunda-feira;

7) Verificar se a conta interage com a sua se você curtir ou comentar um perfil que ela parece estar tentando promover.






Fernando Azevedo - sócio da Silicon Minds, empresa de marketing digital e reputação online. É engenheiro eletrônico, elétrico e industrial formado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, e graduado em MBA Fundação Getúlio Vargas. Em 2014, foi para os Estados Unidos, onde estudou Desenvolvimento na Web e Tecnologias da Internet na University of California Santa Cruz - Extensão do Vale do Silício e também Certificação de Inovação e Empreendedorismo da Universidade de Stanford. É autor dos livros "Os segredos de Reputação Online", "O negócio sujo das Fake News", "Como se defender de cyberbullies e trolls" e "Hackers Expostos: Descubra o mundo secreto dos crimes virtuais”.


Silicon-Minds

UTOPIAS, DISTOPIAS. REALIDADE


“O que é comumente chamado utopia é demasiado bom para ser praticável; mas o que eles parecem defender é demasiado mau para ser praticável”.
[John Stuart Mill, 1868, em discurso no parlamento britânico]



Que será de nosso futuro? Poderemos continuar sonhando os nossos sonhos ou seremos ainda testemunhas de horrores sem fim? O mundo todo se vê diante desse dilema. E são seriados de tevê que batem os sinos do perigo para acordar nossas mentes, em ficções que, mais do que científicas, são políticas. Já assistiu The Handmaid's Tale (O Conto da Aia)? Pois fiquei apavorada com a clareza do seu recado, descrito como uma distopia.

Você também sabe e deve ter ouvido por aí. Verdade. Foi notícia. Já soube de mulheres apedrejadas até a morte? De outras que tiveram o clitóris extraído para inibir o prazer? De locais onde mulheres são obrigadas a gerar filhos, mesmo sem querer? Lugares onde só se toleram os padrões de gênero convencionais, e que penalizam com prisão e morte quem ousa o espelho? Sei que há quem pense que se armar é a solução. E que no mundo todo existe muita gente que escarafuncha na religião e na Bíblia até achar algum desígnio ou versículo que justifique qualquer de seus atos violentos.

Há quem queira uma sociedade organizada por líderes sedentos de poder, propondo sim um novo governo, mas militarizado, hierárquico, não laico e no qual as mulheres parecem ser vistas ou como erros ou como ideais para formar família com papai. Menino, menina. Rosa. Azul.

Já se chama Realidade.

Então é isso a distopia? Na definição: “lugar ou estado imaginário em que se vive em condições de extrema opressão, desespero ou privação; representação ou descrição de uma organização social futura caracterizada por condições de vida insuportáveis, com o objetivo de criticar tendências da sociedade atual”.

As aias da série baseada em romance escrito em 1985 pela canadense Margaret Atwood têm os olhos marejados com olheiras profundas que em si falam de uma tristeza universal. Andam em pares, sempre uniformizadas em candentes e longas vestes vermelhas. Um chapéu-touca branco, engomado, oculta os seus rostos e cabelos. Observadas por soldados fortemente armados vestidos de negro saem apenas quando mandam ou para fazer compras em lugares assépticos. “Aos seus Olhos”, como se homens pudessem ser os olhos de Deus.

Uma vez por mês, em seu período fértil, são encaixadas entre as coxas de suas senhoras que lhes seguram as mãos enquanto assistem silenciosas ao que chamam “Cerimônia”. As pernas das aias são abertas e elas estupradas até que fiquem grávidas. Então, por nove meses as tratam bem, depois as jogam fora. Ainda estão vivas, aliás, apenas porque são férteis. Ali são obrigadas a ter filhos, que logo lhes são retirados, e aí seu futuro fica ainda mais incerto. Se não o fossem, já teriam sido mortas ou logo morreriam em colônias de trabalho forçado e tóxico, o destino das infiéis, ou que tenham feito qualquer coisa não aprovada em sua vida anterior. A que tinham antes dessa “revolução”, ou golpe, que matou e mata ou tortura sem dó. Em nome do Senhor...

 Chama-se República de Gilead essa sociedade retratada na série. Em um futuro que não parece distante - porque há detalhes que neles nos reconhecemos - um grupo cristão fundamentalista toma o poder nos EUA e lá estabelece esse terrível e cruel regime totalitário. Embora texto escrito há mais de 30 anos aponta para o mundo onde já estamos de certa forma plantados.

Por que é que eu estou falando disso? Achei que talvez fosse bom sugerir que assista antes da eleição. Procure. Quem tem NET, no Now e na Paramount. É de uma beleza emocionante, não por menos tem ganhado vários prêmios. Está na terceira temporada (aqui, ainda na segunda). Sem spoiler. Não sei ainda no que vai dar, estou muito curiosa e ansiosa para saber. Igual a nós todos aqui por esses dias.

The Handmaid`s Tale vale – principalmente para as mulheres - uma reflexão e tanto, muito além de nossas utopias ou de distopias. Muito real. Já vimos algumas partes desse filme. E dessas guerras.

 

 


Marli Gonçalves - jornalista – Gostei de escrever sobre um seriado de tevê. Mas não consegui deixar de pensar nos paralelos.


Brasil, 1,2,3...Era uma vez...


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