Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia
aponta práticas essenciais para manter independência e bem-estar na
longevidade.
Amanhã, dia 1º de
outubro, é o Dia Nacional e Internacional da Pessoa Idosa, data criada para
conscientizar a sociedade sobre as questões do envelhecimento, a importância de
proteger e cuidar da população idosa e garantir os direitos e participação
plena na sociedade. Hoje, no Brasil, existem mais de 33 milhões de pessoas com
mais de 60 anos.
Projeção do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indica que para as próximas
décadas, a expectativa de vida deve chegar a 77,8 anos em 2030; a 79,7 anos em
2040; a 81,3 anos em 2050; a 82,7 anos em 2060 e a 83,9 anos em 2070. O fato é
que o aumento da longevidade é consequência de uma série de fatores, como a
melhoria na alimentação, a prática de exercícios físicos e os avanços da
medicina. Em 2070, espera-se que 37,8% dos habitantes do país sejam idosos,
mais do que o dobro de hoje.
De acordo com o geriatra
e presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Dr.
Leonardo Oliva, a longevidade não depende apenas de se evitar doenças, mas sim
de preservar a funcionalidade, a autonomia e a qualidade de vida. Ele explica
que os principais cuidados que a população 60+ deve ter com a saúde incluem
manter um acompanhamento médico regular e tratar possíveis doenças crônicas,
manter uma atividade física regular, cuidar da nutrição e do sono, cuidar da
saúde mental, controlar o estresse, não beber e não fumar e manter vínculos
sociais. “O aumento da expectativa de vida se dá por uma combinação de fatores
que incluem desde a melhoria das condições sanitárias, avanços na medicina,
especialmente relacionados às vacinas, antibióticos, controle de doenças
cardiovasculares, controle e tratamento dos cânceres e maior conscientização
sobre estilo de vida saudável”, comenta, ao revelar que esse aumento da
expectativa de vida no Brasil provocou um envelhecimento populacional
acelerado, dobrando a população idosa de 7% para 14% em pouco mais de duas
décadas.
Quando
procurar um geriatra?
Segundo Dr. Oliva,
a idade certa para se procurar um geriatra é quando a pessoa decide que quer
envelhecer bem. Ele afirma que não existe um marco etário para iniciar o acompanhamento
geriátrico, mas que muitas pessoas imaginam que só podem ir ao geriatra após os
60 anos, o que não é verdade. “O geriatra tem um papel importante na saúde dos
indivíduos mais jovens. Começamos a envelhecer por volta dos 30, 35 anos e para
essa população o geriatra acaba ajudando a tomar decisões ao longo da vida, que
influenciarão como essas pessoas chegarão à terceira idade”, diz, ao comentar
que aproximadamente 20% de como a pessoa envelhecerá está relacionada com a
parte genética e outros 20% pelo ambiente em que se vive e os outros 60% pelas
escolhas tomadas com o auxílio do geriatra. “É importante entendermos que o
envelhecimento é um processo heterogêneo. As pessoas envelhecem de maneira
diferente e não existe um ‘pacote fixo’ de exames que devem ser realizados por
todos. Existem os mais comuns e os chamados de rotina, a cada um ou dois anos,
a depender da idade e das condições clínicas do paciente e do histórico
familiar, que são importantes do ponto de vista da saúde cardiovascular e na detecção
precoce de cânceres.”
No entanto, para
se ter uma longevidade bem-sucedida, é necessário um acompanhamento de outros
profissionais da área da saúde, especialistas em gerontologia, como
fisioterapeutas, nutricionistas, fonoaudiólogos, psicólogos, terapeutas
ocupacionais, entre outros, cabendo ao geriatra o gerenciamento e a coordenação
desses cuidados.
Trabalho em
conjunto
A parte
nutricional merece destaque especial. Afinal, o alimento tem um papel
importante na longevidade. para se ter uma vida mais longeva, é preciso
atenção. A nutricionista especialista em gerontologia e membro do conselho
consultivo da SBGG, Dra. Simone Fiebrantz Pinto, explica que a hidratação é
fundamental, mas que muitas vezes acaba sendo “esquecida”, o que não é o
correto, segundo ela, já que não se pode esperar a sensação de sede para beber
água, que é difícil de o idoso sentir. “Existe uma conta para se chegar à
hidratação correta. São 30 mililitros multiplicados pelo peso da pessoa. Por
exemplo, se ela pesa 75 quilos, precisa ingerir, ao longo do dia, dois litros e
duzentos e cinquenta mililitros de líquidos, que podem ser água, água com gás,
água saborizada com folhas de hortelã ou lascas de frutas, e chás”, revela a
nutricionista, ao comentar que os alimentos mais recomendados são as proteínas
animais (carnes, leite, ovos e peixes) e vegetais (leguminosas). Dra, Simone
explica que elas podem ser distribuídas em todas as refeições, pensando em 30
gramas de proteína por porção. “Importante ressaltar que as proteínas precisam
ser de 1,2 grama a 1,5 grama por quilo de peso. Assim, essa pessoa de 75
quilos, precisa consumir entre 90 gramas e 112 gramas por dia.”
Para imunidade e
garantir o melhor funcionamento do intestino, a nutricionista indica o consumo
de 350 gramas a 500 gramas por dia entre frutas e legumes, além de consumir 30
gramas de sementes oleaginosas (nozes, castanhas, amendoim) também diariamente.
“Comer bem é ter proteínas em todas as refeições, tendo uma boa variedade de
alimentos no dia a dia, com a consistência estar adequada para cada
necessidade”, diz, ao ressaltar que quando avaliado pelo nutricionista que não
está atingindo o consumo adequado de micro e macro nutrientes, pode ser
orientado a inclusão de suplementos. “O grande erro é usá-los por autoprescrição.
Consultar um profissional é fundamental.”
A fisioterapeuta e
presidente do Departamento de Gerontologia da SBGG, Dra. Isabela Azevedo
Trindade, explica que a longevidade depende de três pilares principais:
manter-se fisicamente ativo; preservar vínculos sociais e cuidar da saúde e
dentre as atividades físicas mais indicadas, ela cita a musculação, a
caminhada, a hidroginástica, o pilates, o alongamento e os exercícios de
equilíbrio. “O ideal é combinar atividades aeróbicas, de força e de flexibilidade,
com prática de três a cinco vezes por semana, sempre com orientação
profissional para evitar lesões.”
Ela comenta também
que a pessoa idosa deve se atentar para possíveis acidentes dentro e fora de
casa. De acordo com ela, os maiores riscos estão relacionados a quedas. “Dentro
de casa, geralmente, a queda é provocada por tapetes soltos, má iluminação e
ausência de barras de apoio. Já no lado de fora, o problema está relacionado a
irregularidades no piso, trânsito e aglomerações”, relata, ao afirmar que a
pessoa idosa deve utilizar, se necessário, uma bengala ou andador para
facilitar a locomoção, assim como ter a visão e a audição avaliadas
regularmente e utilizar roupas confortáveis, que não limitem os movimentos, e
sapatos fechados, antiderrapantes e firmes. “Interromper a prática de atividades
físicas, automedicar-se, resistir a adaptações na casa e acreditar que
envelhecer significa se isolar são os principais erros que a pessoa idosa
costuma cometer”, comenta.
Atenção à
saúde mental
Manejo do
estresse, fortalecimento da autoestima e do sentimento de autoeficácia, por
meio do aprendizado de coisas novas, manter vínculos de amizades, criar novas
relações sociais e ter propósitos de vida, por exemplo, são fundamentais para
longevidade, de acordo com a psicóloga especialista em gerontologia, Dra.
Cecília Galetti, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Geriatria e
Gerontologia seccional Paraná, que comenta que não cultivar as amizades ao
longo da vida, não manter vínculos positivos com a família e não ter atividades
de lazer são os principais erros cometidos, que prejudicam a saúde mental. “A
família da pessoa idosa tem um papel importante nesse processo, mantendo uma
dinâmica que gere o senso de pertencimento, valorização e reconhecimento do seu
papel dentro da família, tratando esse idoso conforme suas capacidades, e não
como incapaz, além de não o infantilizar”, explica, ao citar o idadismo, a
desqualificação e a desvalorização da pessoa como as principais ameaças à saúde
mental da população 60+.
Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia - SBGG