Data é celebrada em 1º de outubro; estudos indicam que pessoas com TDAH têm risco três vezes maior de desenvolver Alzheimer7
De acordo com o
Censo Demográfico, em nove anos, o número de pessoas com mais de 60 anos no
Brasil cresceu quase 40%¹. Entre 2012 e 2021, o país passou de 20,5 milhões
para 31,2 milhões de indivíduos nessa faixa etária, representando 14,7% da
população atual¹. Esse aumento, aliado a maior expectativa de vida, evidencia
um desafio essencial: não apenas viver mais, mas viver melhor, com foco na
saúde e qualidade de vida. Nesse cenário, o diagnóstico de Transtorno do
Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) na terceira idade representa um
desafio para especialistas, já que seus sintomas podem ser confundidos com
declínio cognitivo, ansiedade ou depressão.
Estudos recentes
alertam que pessoas com TDAH têm risco três vezes maior de desenvolver
Alzheimer. Uma pesquisa sueca com aproximadamente 3,6 milhões de participantes
revelou que pacientes com o transtorno apresentam até seis vezes mais chances
de enfrentar problemas de memória e atenção na terceira idade, reforçando a
importância de atenção dedicada a esse grupo⁷.
O TDAH é um transtorno neurobiológico de origem genética, que surge na infância e frequentemente acompanha o indivíduo ao longo da vida. Embora associado a crianças e jovens adultos, ele pode persistir após os 50 anos, quando os sintomas podem ser confundidos com outras condições comuns do envelhecimento, como comprometimento cognitivo leve, depressão ou ansiedade⁵ Na terceira idade, as manifestações do TDAH se alteram: a hiperatividade típica da infância costuma dar lugar a uma inquietação interna, como agitação e fala excessiva, enquanto a desatenção permanece constante. ⁶
Além disso, o TDAH em idosos frequentemente ocorre junto com outras condições
psiquiátricas, como depressão e ansiedade, e problemas físicos comuns na idade
avançada, como hipertensão e fibromialgia. Essa combinação pode agravar o
quadro clínico e impactar a cognição e afetar diretamente o bem-estar
emocional. Por isso, é importante diferenciar o TDAH de outras doenças
geriátricas, como demência e comprometimento cognitivo leve, para assegurar um
tratamento eficiente e preservar a qualidade de vida na terceira idade⁵.
Diagnóstico
Denominado ASRS-18, o questionário para diagnóstico do TDAH, validado no
Brasil, foi desenvolvido por pesquisadores em colaboração com a Organização
Mundial da Saúde e serve como ponto de partida para identificar possíveis
sintomas primários do distúrbio. O diagnóstico preciso deve ser feito por meio
de uma anamnese detalhada conduzida por um profissional médico especializado
(psiquiatra, neurologista ou pediatra), já que muitos sintomas podem estar
associados a outras comorbidades ou condições clínicas e psicológicas.
A escala de
avaliação é dividida em duas partes:
Parte A
1. Com que
frequência você comete erros por falta de atenção em projetos difíceis ou
repetitivos?
2. Com que
frequência tem dificuldade para manter a atenção em trabalhos tediosos?
3. Com que
frequência se distrai com o que as pessoas dizem, mesmo quando estão falando
diretamente com você?
4. Com que
frequência deixa um projeto pela metade depois de concluir as partes mais
difíceis?
5. Com que
frequência tem dificuldade para realizar tarefas que exigem organização?
6. Quando precisa
de concentração intensa, com que frequência evita ou adia o início da
atividade?
7. Com que
frequência coloca objetos fora do lugar ou tem dificuldade para encontrá-los em
casa ou no trabalho?
8. Com que
frequência se distrai com atividades ou barulho ao redor?
9. Com que
frequência tem dificuldade para lembrar compromissos ou obrigações?
Parte B
1. Com que
frequência se mexe na cadeira ou balança mãos e pés quando precisa permanecer
sentado(a) por muito tempo?
2. Com que
frequência se levanta da cadeira em reuniões ou outras situações que exigem
permanência sentada?
3. Com que
frequência se sente inquieto(a) ou agitado(a)?
4. Com que
frequência tem dificuldade para relaxar ou sossegar durante o tempo livre?
5. Com que
frequência se sente excessivamente ativo(a), como se tivesse “um motor ligado”?
6. Com que
frequência fala demais em situações sociais?
7. Com que
frequência termina as frases das pessoas antes delas concluírem?
8. Com que
frequência tem dificuldade para esperar sua vez?
9. Com que
frequência interrompe os outros quando estão ocupados?
O diagnóstico de TDAH não pode ser feito apenas com base em sintomas isolados.
É essencial identificar critérios adicionais: os sinais devem estar presentes
desde a infância (antes dos 12 anos), causar prejuízos em pelo menos dois
contextos distintos (como trabalho, estudo ou vida social), gerar dificuldades
evidentes e não serem explicados exclusivamente por outros transtornos, como
depressão ou psicose².
Tratamento
O tratamento do TDAH, com ou sem medicação, deve ser contínuo e prolongado o
suficiente para controlar os sintomas e minimizar impactos na vida escolar,
profissional, familiar e social. Como mencionado, o transtorno pode persistir
em alguns casos até a vida adulta. A atomoxetina (Atentah®), um inibidor da
recaptação da noradrenalina, é o primeiro medicamento não estimulante indicado
para o TDAH disponível no Brasil, comercializado desde o final de 2023 e nos
Estados Unidos desde 2002. Atentah® representa uma opção terapêutica importante
para pacientes que não respondem aos psicoestimulantes ou que apresentam
determinadas comorbidades clínicas4.
https://www.apsen.com.br
Referências:
1. Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC). Crescimento da população idosa traz desafios para a garantia de direitos. 2023. Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2023/outubro/crescimento-da-populacao-idosa-traz-desafios-para-a-garantia-de-direitos. Acesso em: 29 set.2025.
2. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO DÉFICIT DE ATENÇÃO – ABDA. O que é TDAH. Disponível em: https://tdah.org.br/sobre-tdah/o-que-e-tdah/. Acesso em: 29 set. 2025.
3. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO DÉFICIT DE ATENÇÃO – ABDA. Diagnóstico em adultos. Disponível em: https://tdah.org.br/diagnostico-adultos/. Acesso em: 29 set. 2025.
4. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade na adolescência. Documento Científico Nº 203, 06 de maio de 2025. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/24802d-DC_TDAH_na_adolescencia.pdf. Acesso em: 29 set. 2025.
5. UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS. Perfil de idosos portadores de TDAH atendidos em ambulatórios de geriatria: uma série de casos. Campinas, 2022. Disponível em: https://www.fcm.unicamp.br/comau/sites/default/files/2022-08/PERFIL%20DE%20IDOSOS%20PORTADORES%20DE%20TDAH.pdf. Acesso em: 29 set. 2025.
6. TORGERSEN, Terje; GJERVAN, Bjorn; LENSING, Michael B. Optimal management of ADHD in older adults. Neuropsychiatr Dis Treat, v. 12, p. 79–87, 2016. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC4712975/. Acesso em: 29 set. 2025.
7. DOBROSAVLJEVIC, Maja et al. Attention-deficit/hyperactivity disorder as a risk factor for dementia and mild cognitive impairment: a population-based register study. European Psychiatry, v. 65, n. 1, p. 1-19, 2021. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34924079/. Acesso em: 29 set. 2025.
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