Estima-se que ao
longo da vida cerca de 30% dos pacientes desenvolvam úlceras, que se não
diagnosticadas e tratadas corretamente podem trazer riscos como amputaçõesDivulgação
A prevalência de pessoas com pé diabético vem
crescendo progressivamente ao longo dos anos devido ao aumento mundial de casos
de diabetes melittus (DM). O termo pé diabético abrange uma série de alterações
e complicações que acomete a saúde dos pacientes diabéticos. É uma doença que
precisa ser compreendida adequadamente para um diagnóstico rápido, tratamento
eficaz e acompanhamento.
O Brasil é o 5º país em incidência de diabetes no
mundo, com 16,8 milhões de doentes adultos (20 a 79 anos), perdendo apenas para
China, Índia, Estados Unidos e Paquistão. A estimativa é que a doença, até
2030, chegue a 21,5 milhões. Esses dados estão no Atlas do Diabetes da
Federação Internacional de Diabetes (IDF). O diabetes é uma doença metabólica
que causa alteração no funcionamento geral do organismo. O pé diabético
está presente nos dois tipos de diabetes, tanto no tipo 1 quanto no tipo 2,
pois as complicações estão relacionadas à patologia.
O angiologista, cirurgião vascular e diretor da
Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular – Regional São Paulo
(SBACV-SP), Dr. Akash Kuzhiparambil Prakasan, esclarece que as mudanças
metabólicas causam danos aos nervos e aos vasos, e conduz a uma insensibilidade
dos pés, com a atrofia da musculatura intrínseca que provoca uma deformidade
com a possibilidade de desenvolver uma calosidade, um machucado e, em algumas
situações mais graves, uma amputação - a depender do comprometimento tecidual e
fatores associados ao doente -, inclusive provocar a morte do paciente.
“É uma doença extremamente prevalente em nosso meio e que causa cerca de uma
mutilação a cada 30 segundos no mundo. Números gritantes que chamam para uma ação
imediata deste problema de saúde pública”, declara o especialista.
As diretrizes médicas, tanto nacionais quanto
internacionais, estão apoiadas em vasta literatura da medicina e atuam nas
diversas etapas, desde a prevenção até a abordagem cirúrgica, seja com a
limpeza das feridas, com a necessidade de amputações menores e maiores, até a
correção da deformidade que leva à ulceração do pé. O Dr. Akash reforça que o
acompanhamento multidisciplinar, com participação e envolvimento de algumas
áreas e profissionais da saúde, é de extrema importância.
As especialidades envolvidas no tratamento destes
pacientes são preparadas, mas existem alguns obstáculos. “Os recursos
disponíveis em manuais da gestão pública, e no mundo real, estão distanciados.
Temos uma dificuldade de atender estes pacientes no tempo adequado e controlar
os fatores de riscos envolvidos. Tenho observado um nítido aumento do número de
amputações na nossa rotina diária pós-pandemia. Os problemas nos pés são
responsáveis por mais internações hospitalares do que quaisquer outras
complicações em pacientes com diabetes. Estima-se que ao longo da vida, cerca
de 30% dos pacientes desenvolvam úlceras. A compreensão das causas desses
problemas permite o reconhecimento precoce de pacientes com alto risco. Foi
demonstrado que até 50% das amputações e úlceras nos pés do diabético devem ser
evitadas por meio de identificação, agilidade no diagnóstico e educação
eficazes”, afirma Dr. Akash.
Estudos envolvendo pacientes com úlcera no pé
cicatrizado mostram que sinais precoces de lesões na pele, como calos
abundantes, bolhas ou hemorragia, estão entre os prognósticos mais fortes de
recorrência. Se estas lesões pré-ulcerativas forem identificadas em tempo
hábil, é provável que a cura delas previna muitas recidivas. Fatores
biomecânicos, como as pressões a que o pé descalço é submetido, no calçado e o
nível de adesão ao uso de calçados prescritos também são importantes na
recorrência de úlceras na superfície plantar do pé́. Como esses motivos
biomecânicos são alteráveis, o procedimento adequado pode ter papel importante
na prevenção.
Existem várias medidas que podem ajudar a proteger
o paciente. O primeiro passo é controlar o diabetes de forma adequada. Além
disso, é essencial adotar precauções para evitar lesões nos pés, tais como:
cortar as unhas corretamente, tratar infecções fúngicas entre os dedos (micoses
interdigitais, que facilita a entrada de infecções), manter a pele hidratada,
usar calçados adequados e optar por meias de algodão ou tecidos que permitam a
respiração dos pés. A recomendação é evitar o uso de meias apertadas ou com
costuras internas que possam causar atrito e lesões na pele. As consultas
regulares a profissionais de saúde, para que possam identificar alterações
precoces, são fundamentais.
“A maioria das pessoas tem algum familiar ou amigo
que possui diabetes. Se não prestarmos atenção e não fornecermos orientações
adequadas, essas pessoas correm o risco de ter sua qualidade de vida
significativamente comprometida devido às complicações decorrentes do diabetes.
É fundamental oferecer suporte e gerenciar para garantir uma melhor saúde e
bem-estar para aqueles que convivem com a doença”, enfatiza o médico.
Segundo o presidente da SBACV-SP, Dr. Fabio H
Rossi, a situação atual e as perspectivas futuras são extremamente
preocupantes: “Apesar de os dados estatísticos nacionais não serem confiáveis,
dados do DATA-SUS e a percepção geral indicam que houve um aumento preocupante
no número de amputações dos membros inferiores nos últimos anos. O
Ministério da Saúde alerta que o Brasil é o quinto pais em incidência de
diabetes no Mundo. Estima-se que em 2030 teremos 21,5 milhões de acometidos.
Uma das complicações mais graves dessa doença é a aterosclerose e a doença
arterial obstrutiva periférica, um problema inicialmente silencioso, que se não
diagnosticado e tratado a tempo, pode levar à isquemia crítica e amputação do
membro. Mas, a principal consequência é que esses pacientes apresentam
altíssimo risco de AVC, Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) e morte
cardiovascular”.
Dr. Fabio também reforça que essa doença tem um
elevado índice de óbito e também traz um alto custo econômico de tratamento.
Por isso é muito importante a conscientização da população e dos profissionais
de saúde sobre a necessidade do controle dos níveis glicêmicos, e o
encaminhamento dos pacientes portadores de obstruções arteriais ao cirurgião
vascular para o acompanhamento e a intervenção quando for necessário.
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