O Whatsapp se tornou uma rede social pessoal e profissional por conta da pandemia; a psicóloga Vanessa Gebrim explica como isso pode afetar a ansiedade das pessoas e a melhor forma de equilibrar o uso
Nos
últimos anos, as redes sociais têm começado a ganhar mais espaço na vida das
pessoas. Principalmente durante o período de pandemia, isso aumentou ainda
mais. Para se ter ideia, de acordo com a pesquisa TIC Domicílios 2020, lançada
pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da
Informação (Cetic.br), por conta da pandemia, o Brasil chegou a marca de 152
milhões de usuários da internet. Além disso, uma pesquisa da Mobile Time aponta
que o volume de mensagens trocadas entre clientes e empresas pelo Whatsapp no
primeiro trimestre de 2021, cresceu 251% se comparado ao mesmo período de 2020.
Para
a psicóloga e especialista em Psicologia Clínica pela PUC de SP, Vanessa Gebrim, é necessário prestar atenção para que
o uso das redes sociais não se torne um problema. “O aumento do uso do whatsapp
também se dá porque as mensagens de áudio facilitam muito. Acaba sendo mais
fácil, pois nem sempre a pessoa está disponível para ouvir. Dependendo da
ocasião, ler se torna mais fácil e prático. Quando falamos do uso do whatsapp
para trabalho, se a pessoa não souber administrar, isso pode ser um problema. É
importante ter bom senso e saber equilibrar, para não prejudicar o lado
profissional e nem o pessoal. Para quem tem dificuldade, já existem aplicativos
para separar mensagens pessoais de profissionais”, explica.
Um
estudo publicado pelo periódico científico The Lancet diz que a pandemia
provocou o aumento global em distúrbios como a depressão e a ansiedade. O
recurso que permite acelerar a velocidade dos áudios, oferecido pelo
Whatsapp, pode ser um problema para quem já sofre com essas questões. “A
busca pela cultura de urgência pode desencadear sintomas de ansiedade e também
pode causar perdas nas interações. Acaba tendo uma diferença no ritmo,
entonação, nas pausas e até na respiração do locutor. O resultado é que a
comunicação se torna fria, distante e se perde a qualidade dos relacionamentos.
Isso pode acabar gerando um padrão em que passamos a nos ver sempre correndo.
Acelera as relações, a intimidade e tudo pode ficar mais superficial”,
entende.
Cuidado
com a ansiedade
As
mensagens de texto como mensagens de áudio, sejam elas longas ou curtas, ajudam
as pessoas a se comunicarem de maneira rápida. Mas essa praticidade não
significa que essa maneira é mais saudável. “Isso pode acabar distanciando as
pessoas. Pode dar uma falsa ideia de que supre um encontro real, mas também
pode dar uma sensação de monólogo, porque nem sempre a pessoa vai responder no
horário que você envia ou até pode ser que a pessoa esqueça de te responder.
Dependendo da situação psicológica da pessoa, a falta de resposta talvez não
seja um problema, mas pode gerar sentimento de rejeição ou raiva. A questão é
que as pessoas se encontram tão sobrecarregadas, que, muitas vezes, não
conseguem responder porque a demanda de mensagens é muito grande”, explica Vanessa.
Uma
das desvantagens desse uso é que as conversas acabam ficando superficiais. Não
existe mais “conversa olho no olho” e isso acaba provocando um empobrecimento
muito grande nas relações. “Ao mesmo tempo que o whatsapp tem a vantagem em
deixar todo mundo ao seu alcance, isso acaba prejudicando a oportunidade de as
pessoas conviverem de maneira mais profunda com quem se ama. Além
disso, cada vez que é checada uma conversa no celular a atenção é desviada. Tem
um estudo na Universidade da Califórnia que fala que, a cada interrupção que
acontece em nosso dia, levamos em média 23 minutos para recuperar o foco.
Quanto tempo custa se formos interrompidos a cada instante como acontece no
whatsapp? O prejuízo, com certeza, acaba sendo muito maior”, complementa Vanessa.
O
importante é equilibrar
A melhor forma de começar a usar as
redes sociais de forma mais saudável, é encontrar o melhor equilíbrio. “O ideal
é limitar o uso, reservando alguns horários durante o dia para checar as
mensagens. Estabelecer limites nos horários das refeições e também na hora de
dormir. Se possível, desativar notificações e silenciar também os grupos.
Evitar o uso automático, e principalmente, quando não tiver um objetivo naquele
momento, prejudicando coisas importantes, como uma conversa em família,
trabalho, estudo e descanso. Caso isso não funcione, uma boa alternativa é
procurar uma ajuda psicológica, para entender se esse comportamento exagerado
está consumindo o tempo e a energia no dia-a-dia”, conclui Vanessa Gebrim.
Vanessa
Gebrim - Pós-Graduada e especialista em Psicologia pela PUC-SP. Teve em seu
desenvolvimento profissional a experiência na psicologia hospitalar e terapia
de apoio na área de oncologia infantil na Casa Hope e é autora de monografias
que orientam psicólogos em diversos hospitais de São Paulo, sobre tratamento de
pacientes com câncer (mulheres mastectomizadas e oncologia infantil). É
precursora em Alphaville dos tratamentos em trauma emocional, EMDR,
Brainspotting, Play Of Life, Barras de Access, HQI, que são ferramentas
modernas que otimizam o tempo de terapia e provocam mudanças no âmbito
cerebral. Atua também como Consteladora Familiar, com abordagem sistêmica que
promove o equilíbrio e melhora relações interpessoais.