Projeto piloto
em área da cidade paranaense de Jacarezinho soma tecnologia à conscientização e
reduz em mais de 90% a população do Aedes aegypti
O uso de venenos e as campanhas de conscientização popular
não têm sido suficientes para reduzir a dengue no país. Prova disso é que os
números da doença deram novo salto no Brasil, em 2019. Dados do Ministério da
Saúde apontam que o país registrou 1.439.710 casos da doença até o final de
agosto, representando um aumento de 599% comparado ao mesmo período de 2018. A
febre chikungunya também avançou, com 76.742 ocorrências, 69,3% a mais do que o
verificado no mesmo intervalo de tempo do ano passado. Já a zika registrou crescimento
de 47,1%, com 9.813 casos.
Em Jacarezinho, no interior do Paraná, o trabalho de conscientização ganhou na
tecnologia um aliado que está fazendo a diferença: a cidade registrou reduções
superiores a 90% no número de mosquitos Aedes aegypti, na área contemplada pelo
Projeto Controle Natural de Vetores. O piloto foi desenvolvido pela empresa de
biotecnologia Forrest Brasil em parceria com o Instituto de Tecnologia do
Paraná (Tecpar) e a prefeitura.
A consequência natural da redução dos mosquitos foi a queda no registro da
doença na área atendida pelo projeto: em 2019, até abril, quando o projeto foi
encerrado, a região do Aeroporto registrou apenas três casos de dengue. O
número representa menos de 5% do total de registros na cidade no mesmo período.
Esta mesma área, em epidemias anteriores apresentou um elevado número de
doentes. Foram 340 casos de dengue em 2015 e 52 em 2011, representando
respectivamente 10% e 30% do total de casos da doença registrados na cidade
nesses anos.
Com a eficácia da tecnologia comprovada, o Instituto Ambiental do Paraná (IAP)
concedeu a licença de operação a empresa, permitindo que a tecnologia da
Forrest seja aplicada em todo o estado. Recentemente, a empresa ganhou uma
licitação em Jacarezinho de modo que o Projeto possa atender a Vila São Pedro,
um bairro bastante afetado pela dengue no município.
Os resultados positivos estão agora sendo apresentados para outras cidades em
todo país. “Os dados comprovam que a tecnologia, aliada ao trabalho de educação
e conscientização da população, contribuiu para a redução significativa dos
índices de infestação do Aedes aegypti, e mais importante, pela primeira vez um
método foi comprovadamente eficaz na prevenção da dengue. Estamos levando esses
resultados para autoridades de outras cidades que enfrentam o mesmo problema e
buscam soluções sustentáveis para combater a dengue e outras doenças
relacionadas a esse mosquito”, conta Elaine dos Santos, diretora da Forrest
Brasil.
“Foram sete meses de soltura sistemática de mosquitos machos estéreis,
totalizando 12 milhões de mosquitos, que resultaram em reduções significativas
no número de insetos e consequentemente nos casos de dengue, na região do
Aeroporto, em Jacarezinho. A técnica natural consiste em esterilizar mosquitos
machos e soltá-los na natureza. Como a fêmea copula uma única vez durante a
vida, se a cópula for com um macho estéril então não haverá descendentes. Já se
a cópula acontecer com um macho não estéril, uma fêmea pode gerar até 500 ovos,
que vão resultar em novos mosquitos”, explica a cientista Lisiane de Castro
Poncio, coordenadora do projeto.
Campanha
A alarmante disparada da dengue, zika e chikungunya acende um sinal de alerta
para a urgência de medidas eficazes no combate ao mosquito Aedes aegypti. A
nova campanha publicitária lançada nesta semana pelo Ministério da Saúde fala
em conscientizar os gestores de saúde e toda a população sobre a importância de
a sociedade se organizar, antes da chegada do período chuvoso, para o combate
aos criadouros do mosquito. “É importante a mobilização da população, mas além
disso precisamos adotar medidas eficazes para termos resultados concretos. O
sucesso do trabalho realizado em Jacarezinho é um exemplo que pode servir para
outras regiões do Brasil”, completa a diretora da Forrest Brasil.
Números do Paraná
O boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Estado da Saúde no último
dia 10 de setembro aponta 257 novos casos da doença registrados no Paraná desde
a primeira semana de agosto. Dos casos confirmados, 204 são autóctones, ou
seja, foram contraídos no mesmo município em que a pessoa infectada vive. Além
disso, mais 14 cidades registraram casos pela primeira vez desde o início do
levantamento epidemiológico.
Os municípios com maior número de casos confirmados são: Foz do Iguaçu (19),
São Miguel do Iguaçu (18) e Umuarama (14). Os municípios com maior número de
casos suspeitos notificados são: Londrina (440), Foz do Iguaçu (229) e Maringá
(182). De acordo com o boletim, dois municípios estão em situação de alerta de
epidemia da doença: Floraí e Inajá.
Mosquito prolifera no inverno
Embora a maioria dos casos de dengue seja registrado no verão, nos meses mais
frios do ano o Aedes aegypti continua proliferando, circulando e trazendo
riscos à população. “Se os criadouros não forem eliminados, os ovos depositados
podem permanecer intactos por meses, podendo dar origem a um novo ciclo do
mosquito. É fundamental que a população tenha essa consciência e contribua no
combate ao mosquito”, alerta Lisiane.
Prevenção
A maior parte dos focos do mosquito está nos domicílios e, por isso, adotar
medidas preventivas é uma das maneiras de combater o Aedes aegypti.
Confira algumas dicas simples:
- Manter as garrafas vazias ou baldes viradas para baixo;
- Não deixar entulho no quintal ou nas ruas e varrer diariamente a água parada;
- Cobrir as caixas d'água, poços ou piscinas e manter as calhas de água limpas;
- Colocar terra ou areia nos pratos dos vasos de planta;
- Manter a lata de lixo devidamente tampada;
Guardar pneus em locais cobertos, longe da chuva;
- Tampar os ralos pouco usados com um plástico, jogando água sanitária no cano
2 vezes por semana;
- Diminuir o número de bebedouros de cães, gatos e passarinhos e lavar com água
e sabão ao menos duas vezes por semana.
Forrest Brasil Tecnologia