Época de eleição é o melhor período para refletir sobre tudo que está errado e precisa melhorar. É a oportunidade que temos de, democraticamente, eleger pessoas realmente comprometidas com a tomada de decisões criativas e sérias que visem a mudança no bem-estar da população.
Um ponto importante nessa história é que de maneira egoísta e singular estamos acostumados a cobrar por mudanças que, de maneira direta, nos beneficiam. Cito alguns exemplos que você, assim como eu, irá se identificar: "O asfalto dessa cidade é uma porcaria", "O transporte público é ineficiente", "A educação no passado era muito melhor", "A saúde pública é uma vergonha".
Poderia escrever um artigo só sobre reclamações justas pelas quais nossas autoridades são cobradas, mas que pouco fazem para corrigi-las. Porém o ponto do artigo não é este. Lembro aqui dos problemas que normalmente nós não nos atentamos e, por décadas, deixamos passar despercebido.
Quantas vezes, ao longo do último ano, você refletiu sobre a quantas andam as obras de infraestrutura para ampliar a autonomia hídrica em nossa cidade? Chutaria aqui que poucas vezes. Acertei? Isso é natural. Hoje, quando chegamos em casa e abrimos a torneira, voilá, a água está lá. Plena e abundante. Mas se voltarmos um pouco no tempo lembraremos São Paulo atravessou a maior seca de todos os tempos. Naquele momento, as autoridades foram cobradas e medidas emergenciais tiveram de ser adotadas.
Demandas mais aparentes como saúde, educação e segurança precisam, é claro, ser sanadas de maneira urgente, porém o que mais me preocupa são as medidas aparentemente não urgentes. Vimos um exemplo nas últimas semanas com a tragédia ocorrida no Museu Nacional do Rio de Janeiro. Por negligência das autoridades e por falta de incisiva cobrança de nós, sociedade, artefatos de nossa história viraram cinzas.
Na última semana, para variar, fiquei parado duas horas no trânsito da Marginal. Durante esse tempo, que normalmente é perdido, tive a ideia de escrever esse artigo e refletir, por exemplo, de quem é a responsabilidade maior para a eterna poluição do Rio Tietê. Conhecido nacionalmente por cruzar praticamente todo Estado de São Paulo, com seus mais de 1.100 quilômetros de extensão, o rio é, há muitos anos, uma cicatriz aberta na geografia urbana da maior cidade do País, incluindo o Rio Pinheiros, cuja foz se dá no pobre Tietê que, vale lembrar, do Tupi Guarani, o significado de Tietê é rio verdadeiro, águas verdadeiras, rio caudaloso – triste ironia.
Quantas vezes vimos a Avenida Paulista parada em função de um protesto que busca a despoluição do Tietê? Se houve, eu não fiquei sabendo. Você ficou? Penso que neste período eleitoral deveríamos avaliar também nossas próprias atitudes e decisões, afinal temos esse poder nas mãos. Não seria maravilhoso que nossa cidade tivesse um Sena ou um Tâmisa? Se Inglaterra e França conseguiram transformar seus rios em verdadeiros cartões postais por que não teríamos êxito nessa tarefa?
Quero ver esse cenário um dia. Quero que meus filhos, meus netos, naveguem pelas límpidas águas do rio. Será que isso é impossível? É pedir muito?
Parafraseando John Lennon, depois de ler esse texto você pode achar que sou um sonhador. Mas, acredite, eu não sou o único. Ah, não sou mesmo
Não podemos esperar ser uma nação desenvolvida sem saneamento básico para toda população – eu disse toda população! Não podemos deixar de ver, ouvir – sim, ouvir, porque não se escuta a água parada e fingir que não sentimos o cheiro do esgoto a céu aberto.
Espero que a gente se junte nesse propósito de consertar o que aparentemente não nos beneficie de maneira direta e, assim, passar a enxergar além dos montes – o que é a triste realidade!. Os únicos beneficiados dessa história toda seremos todos nós, brasileiros.
Uranio Bonoldi - consultor, palestrante e oferece
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