Há problemas que são tão
comuns e ainda assim pouca gente sabe a quem recorrer para tratar. É o caso dos
estalos na boca, dor na articulação temporomandibular, mastigação com a boca
aberta, mordida cruzada, respiração bucal, deglutição atípica, bruxismo e de
outros tantos desconfortos. De acordo com Wilma Simões, professora do
curso de pós-graduação em Ortopedia Funcional
dos Maxilares na Faculdade de
Odontologia da APCD (Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas), essa
especialidade é responsável pela reabilitação de disfunções orofaciais. Abaixo,
a especialista responde a oito importantes dúvidas sobre a Ortopedia Funcional.
1. Estalos na
mandíbula, dor na região das articulações temporomandibulares, mastigação
viciosa (de um só lado), mordida cruzada, respiração somente pela boca,
deglutição atípica, bruxismo... Tudo isso é da competência do
cirurgião-dentista especializado em Ortopedia Funcional dos Maxilares?
Explique, por favor.
Wilma Simões –
“Em determinados casos, é fundamental um atendimento multidisciplinar. Por
exemplo, quem sofre de artrite idiopática juvenil, além do cirurgião-dentista
especializado em Ortopedia Funcional, deve recorrer também a um reumatologista.
Quando há traumas, deve ser assistido também por um ortopedista. Em caso de
distúrbios de crescimento, um endocrinologista também estará envolvido no
tratamento. Cada um contribui, dentro da sua especialidade, com o processo de
cura. Dependendo do caso, outro cirurgião-dentista, especializado em
Odontopediatria, terá participação fundamental no campo orofacial. Ele deverá
completar os recursos pertinentes à recuperação, regulando a postura e o
movimento para o melhor e mais rápido resultado terapêutico. Muitos casos
requisitam odontólogos especialistas em Dor e Disfunção Orofacial e requerem
ainda o suporte do fisioterapeuta”.
2. Também doenças
respiratórias como asma, rinite e disfunções de sonorização (dislalia) estão
dentro do escopo do seu trabalho?
Wilma Simões –
“Sim, porém o otorrinolaringologista e a fonoaudióloga também são quase sempre
indispensáveis”.
3. Qual é o objetivo
da Ortopedia Funcional?
Wilma Simões –
“O objetivo da Ortopedia Funcional dos Maxilares é controlar a dinâmica
mandibular e a ancoragem, principalmente sobre elementos como articulações,
músculos, mucosa, língua, lábios e dentes, contando com a possibilidade de um
número grande de aparelhos ortopédicos funcionais capazes de mudar a postura.
De maneira geral, com respostas como um aumento da passagem de ar configuram-se
relações de equilíbrio na obtenção e manutenção de melhores e mais estáveis
situações. O aparelho ortopédico funcional é estético e confortável”.
4. Vocês fazem uso de
aparelhos móveis e soltos? Quais são os demais recursos incluídos nos
tratamentos?
Wilma Simões –
“A identidade essencial da Ortopedia Funcional é a mudança de postura
terapêutica através de um contato direto sobre os dentes, isto é, sem usar
nenhuma interface com as estruturas orofaciais para isso. Os sistemas de
ancoragem e os métodos de diagnóstico são específicos e completamente
diferentes dos usados na Ortodontia. Finalmente, não é sempre que os aparelhos
funcionais estão soltos. Isso depende da condição de liberação ou bloqueio que
parte da conexão entre mudança de postura terapêutica e ancoragem. Os demais
recursos incluídos nos tratamentos ortopédicos podem ser desgastes seletivos
para liberar movimentos e as ‘pistas diretas planas’ feitas em resina sobre os
dentes decíduos para o controle da dimensão vertical – que podem até descruzar
mordidas posteriores. Algumas mordidas cruzadas anteriores podem ser tratadas
com sucesso, mas são casos raros”.
5. Os pais devem estar
atentos a determinados comportamentos desde que seus filhos são ainda bebês?
Exemplo: mamar deitado é ruim para o desenvolvimento dos maxilares e dentes?
Wilma Simões –
“Sim, os pais devem dar atenção ao aspecto odontológico do bebê desde o seu
nascimento. Para mamar a criança deve ser verticalizada e, quando maior, deve
continuar em posição ereta para se alimentar. A atenção para hábitos
inconvenientes e deletérios, como sucção de dedos, entre outros, merece
controle e disciplina de correção. Isso também deve ser analisado e controlado
pelo odontopediatra especializado”.
6. Há recomendações
sobre hábitos e alimentação na primeira infância?
Wilma Simões –
“Os alimentos devem ser mais fibrosos, secos e naturais, para influenciar
positivamente no desenvolvimento da melhor arquitetura dos ciclos mastigatórios.
Estes estarão morfologicamente estabelecidos aos quatro ou cinco anos de idade,
solicitando movimentos que exercitem o desenvolvimento da força mastigatória”.
7. Com relação aos
adolescentes, há hábitos deletérios que podem prejudicar o fortalecimento da
musculatura?
Wilma Simões –
“Sim. Antes, o tratamento de maloclusões era indicado exclusivamente para
adolescentes. Atualmente, com o progresso da ciência e da
multidisciplinaridade, sabe-se que o tratamento pode ser oportuno em qualquer
idade, com as devidas e respectivas considerações. O predomínio do açúcar,
gordura, comida pastosa, frituras, bebidas gaseificadas, entre outros
elementos, identificam maus hábitos que podem levar a doenças numa frequência
significativa, como diabetes. Dentes tortos demonstram movimentos de dentes
inferiores contra superiores e postura mandibular alterada. Essa situação
compromete a musculatura envolvida. Dependendo do caso, a Ortopedia Funcional
deve ser acionada em caráter multidisciplinar quando incluir doença, trauma e
determinantes que afetam o crescimento”.
8. Como o especialista
em Ortopedia Funcional dos Maxilares trata o bruxismo?
Wilma Simões –
“Bruxismo é um ato parafuncional – diferentemente da respiração, mastigação,
deglutição e fonação, que são funcionais. O bruxismo ocorre na vigília, porém
mais frequentemente durante o sono, podendo produzir som audível. Ele é
representado por movimento rítmico e involuntário, incluindo ranger e/ou
apertar os dentes, provocando desgaste. O bruxismo é mais frequente na infância
e depois vai diminuindo entre seis e doze anos. Vale a pena ressaltar que ele é
mais presente no gênero feminino. A Ortopedia Funcional tem uma série de
recursos para tratar o bruxismo através de aparelhos que liberam ou bloqueiam
movimentos com a preferência de não cobrir as faces oclusais e alterando
minimamente a dimensão vertical”.
Fonte: Prof.
Dra. Wilma Simões -
professora do curso de pós-graduação em Ortopedia Funcional dos Maxilares
na Faculdade de Odontologia da APCD
(Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas) – www.faoa.edu.br