A Celebração dos Fiéis Defuntos, no dia 2 de novembro, chama a
nossa atenção para o sentido mais profundo da vida cristã. Se morrermos em
Cristo, porque vivemos a nossa vida em comunhão com Ele, seremos admitidos na
comunhão dos Santos. A celebração desse dia se insere nessa perspectiva. E a
Igreja não esquece seus irmãos falecidos, mas reza por eles, oferece sufrágios,
celebra Missas e oferece esmolas, para que também as almas, que ainda precisam
de purificação, após a morte, possam alcançar a visão de Deus.
A respeito disso, o Papa Bento XVI, na sua encíclica Spe Salvi
— É na esperança que fomos salvos —, publicada no ano de 2007, fala de três
categorias de pessoas. Há pessoas que ‘destruíram totalmente em si próprias o
desejo da verdade e a disponibilidade para o amor’, e que serão
condenadas. Por outro lado, ‘podem existir pessoas puríssimas, que se deixaram
penetrar inteiramente por Deus e, consequentemente, estão totalmente abertas ao
próximo’ e serão premiadas no Céu, logo depois da morte. Mas, ‘segundo a nossa
experiência, nem um nem outro são o caso normal da existência humana. Na
maioria dos homens perdura no mais profundo da sua essência uma derradeira
abertura interior para a verdade, para o amor, para Deus. Nas opções concretas
da vida, porém, aquela é sepultada sob repetidos compromissos com o mal’ (n.
45-46). Os moralistas, neste caso, falam de uma ‘opção fundamental’ para
Cristo, mas misturada com atos que revelam expressões de egoísmo. Essas
pessoas, a partir da morte, precisarão completar aquele processo de conversão a
Cristo e aos irmãos que só tinha começado. Eis o ‘lugar’ do purgatório.
O Credo, no seu 9º artigo, proclama a fé na ‘comunhão dos santos’,
quer dizer, a união entre os santos do céu, as almas do purgatório que
completam o processo de conversão e os cristãos aqui na terra que professam a
fé em Jesus Cristo. Graças a esta ‘comunhão’, nós somos chamados a celebrar as
festas dos santos do Céu, a rezar pelos vivos e pelas almas do
purgatório.
Nesta perspectiva, entende-se o lugar da ‘indulgência’. A
“Indulgência” indica, na doutrina católica, a promessa de uma particular
intercessão da Igreja para que Deus perdoe a pena temporal dos pecados que já
foram perdoados, mas cujas consequências continuam.
Do dia 1° a 8 de novembro pode-se lucrar a indulgência plenária
aplicável aos mortos, ou seja, pode-se oferecer a indulgência por uma pessoa
que já tenha falecido e as penas dos pecados que essa pessoa cometeu em vida
serão reparadas. É o que diz o diretório litúrgico: “Aos que visitarem o cemitério
e rezarem pelos defuntos mesmo só mentalmente, concede-se uma indulgência
plenária, só aplicável aos defuntos diariamente, do dia 1º ao dia 8 de
novembro, nas condições costumeiras, isto é: confissão sacramental, comunhão
eucarística e oração nas intenções do Sumo Pontífice, nos restantes dias do
ano, indulgência parcial”.
Esta fé da Igreja nos ajuda a viver de maneira mais profunda a
comemoração dos Fiéis Defuntos.
Lino Rampazzo -é professor no curso de Teologia da
Faculdade Canção Nova.
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