
Mestre Dadá Venceslau
| Créditos: Alysson Souza
A mostra apresenta um
universo lúdico, popular e profundamente enraizado nas memórias, territórios e
afetos do Nordeste
O Museu A Casa do Objeto Brasileiro recebe, a partir do dia 24 de
maio, sábado, a exposição Qual o seu papel? Da
fibra à forma, a arte que pulsa da Paraíba, um recorte da
produção artesanal do estado da Paraíba. A mostra chega a São Paulo após ser
apresentada no 39º Salão do Artesanato da
Paraíba, em João Pessoa. Realizada pelo Museu A CASA, pelo PAP – Programa do Artesanato Paraibano,
pela Secretaria de Estado do Turismo e
Desenvolvimento Econômico da Paraíba e pelo Governo do Estado da Paraíba, a
exposição conta ainda com parceria institucional do Sebrae-PB e apoio
institucional da São Braz. Qual
o seu papel? reúne o trabalho de sete artesãos — Adriano Oliveira, Babá Santana, Carlos Apollo, Dadá Venceslau, Ednaldo Farias, Géo Oliveira e Socorro Souza —, que têm
no papel sua principal matéria-prima de criação. A partir dele, dão forma a uma
arte delicada, marcada por poesia, cores e personagens que habitam o imaginário
popular e o universo lúdico da região.
No dia da abertura (24 de maio), haverá ainda uma apresentação musical às 15H30 com o cantor e instrumentista paraibano Jarbas Mariz interpretando músicas que resgatam autores de sua terra, desde Jackson do Pandeiro a Elba Ramalho e Chico César. Além disso, das 11h às 12h30 o Museu recebe a roda de conversa Papo de Casa, debate aberto que ocorre no último sábado de cada mês, e que dessa vez marca a inauguração da mostra. Na ocasião, a jornalista Regina Galvão mediará o bate-papo com os artesãos paraibanos convidados.
A gastronomia do estado também entra em cena
na festividade sob o comando do chef Carlos Ribeiro, que preparará o cuscuz
paraibano, elaborado com a tradicional marca São Braz, além de servir drinques
com cachaça. No domingo, 25 de
maio, a Oficina Criativa de Papietagem (técnica
artesanal que utiliza papel - normalmente jornal ou revista -, para criar
objetos e esculturas), comandadas pelos mestres Dadá Venceslau e Geo Oliveira. A
oficina é gratuita, sujeita a lotação, e é voltada para pessoas acima de 20
anos. No domingo, ela ocorre das 10h às 13h. Também haverá uma edição da
oficina na quinta-feira que antecede a abertura da
mostra, dia 22 de maio, das 14h às 17h.
Sobre a exposição
As peças exibidas foram criadas sob a orientação do designer Sérgio Mattos, que estimulou a experimentação sem abrir mão da identidade autoral de cada artista. As obras são fruto de um domínio apurado das técnicas de papel machê e papietagem, práticas artesanais de origem milenar. Enquanto o papel machê — de origens na China antiga e difundido pela Europa — molda uma mistura de polpa de papel e adesivos naturais, resultando em estruturas sólidas e duráveis; a papietagem diferencia-se por aplicar camadas inteiras de papel embebido em cola sobre moldes, criando superfícies ricas em textura e volumetria.
“Em Qual o seu papel?, a arte feita à mão transforma materiais considerados de descarte em gestos de permanência e reinvenção. O Museu A Casa do Objeto Brasileiro, em parceria com o Governo do Estado da Paraíba e o Sebrae-PB, convida o público paulistano a descobrir como o olhar atento e a criatividade coletiva podem revelar beleza onde menos se espera — e como o fazer artesanal segue sendo um elo vital entre passado, presente e futuro”, diz Mariana Lorenzi - Diretora Artística do Museu A Casa do Objeto Brasileiro.
A inovação se revela também no uso de matérias-primas improváveis e sustentáveis: além de materiais descartados como papelão, caixas de medicamentos e rolos de papel higiênico, os artesãos empregam fibras e resíduos orgânicos tais quais banana, cana-de-açúcar, casca de cebola, carnaúba, espada-de-São-Jorge, capim-elefante, para criar papiros artesanais que incorporam texturas e tonalidades únicas às obras. Essa prática não apenas ressignifica o "lixo", como também contribui para o debate urgente sobre práticas sustentáveis, capazes de reverter os ciclos de descarte que marcam o nosso tempo.
As narrativas que atravessam as peças remetem
ao dia a dia do povo sertanejo, às festas populares e às tradições de
resistência cultural: das bases cilíndricas e coloridas desenhadas por Sérgio
Mattos para a cenografia, surgem papangus, maracatus, brincantes, palhaços,
animais fantásticos, maletas e bonecos que espelham a riqueza simbólica da
região nordestina. Cada objeto, ao mesmo tempo que celebra a inventividade
popular, convida à reflexão sobre memória, identidade e sustentabilidade.
Sobre os artistas
Adriano Oliveira: formas e cores do Nordeste
Desde a adolescência, quando teve seu primeiro contato com o artesanato, Adriano Oliveira, natural de João Pessoa, encantou-se com a arte de transformar materiais. Hoje aos 42 anos, ele lembra com carinho do aprendizado ao lado do mestre Babá Santana, que o inspirou a trilhar esse caminho. Em seu pequeno ateliê, no bairro de Mangabeira, ele desenha e molda figuras de animais, especialmente os domésticos. Explora também cores e texturas combinando cabaça e jornal em peças únicas: mulheres nordestinas, cães, gatos, bailarinas e máscaras de carnaval. Obras essas que carregam alegria para a vida de seus clientes. “O artesanato vai além da criação, é a oportunidade de fazer, refazer e reciclar”, afirma. “Tenho a missão de mostrar um pouco da arte paraibana, da arte nordestina.”
Babá Santana: a poesia do circo em papel machê
Manuel Iremar Santana, mais conhecido como Babá Santana, apelido dado pela irmã, nasceu em 1958 no município de Santa Luzia, no semiárido paraibano. Em 1972, mudou-se para a capital, onde sua trajetória artística começou a tomar forma. Autodidata, explorou diversas áreas da decoração e cenografia, criando desde ambientes infantis, estandes de exposições e cenários teatrais. Em 2002, Babá encontrou sua real vocação: a confecção de bonecos de papel machê. Desenvolveu uma técnica única, utilizando cabaças como base para criar palhaços, bailarinas, trapezistas e equilibristas — figuras que traduzem o encanto e a poesia do circo, sua paixão desde a infância. Ele também produz bonecas, figuras humanas e arte sacra, sempre de um colorido vibrante. Seu trabalho já foi exposto em São Paulo, Recife, Minas Gerais e Bahia, além de ter atravessado fronteiras, sendo exibido nos Estados Unidos e na França.
Carlos Apollo: a arte que transforma
Com 58 anos de idade e 38 anos dedicados ao artesanato, Carlos Antônio Apolônio da Silva, mais conhecido como Carlos Apollo, encontrou na arte com papel sua verdadeira vocação. Nascido em Esperança, no agreste paraibano, ele cresceu em meio à vida simples do campo, filho de agricultores. Seu primeiro contato com o artesanato aconteceu em São Paulo, quando começou a trabalhar com adereços e cenografia para teatro. Autodidata, ele diz ter aprendido o ofício com a própria imaginação, sem esquecer das pessoas que, ao longo do caminho, lhe deram dicas valiosas. “Transformo materiais em obras de decoração e utilidade, gerando renda com consciência ecológica.”
Dadá Venceslau: a magia do teatro, do lixo ao luxo
A trajetória artística de Dadá Venceslau, 63 anos, começou em Patos, onde nasceu. “Comecei a trabalhar com pedras, fazendo bonecos e palhaços, tudo o que eu faço hoje, só que com papel, papelão e muito material reciclado”, conta. Na década de 1980, passou a apresentar seus trabalhos em feiras de artesanato. Mas foi no Rio de Janeiro que ele mergulhou no universo circense, teatral e das artes plásticas, experiências que marcaram sua formação. Em 1985, de volta à Paraíba, fundou a Supimpa Produções Artísticas, dando origem à trupe Agitada Gang, um grupo de atores e palhaços que há mais de 30 anos encanta plateias. Além da atuação no cenário cultural, Dadá dedica-se a projetos sociais. Como arte-educador, integra a ONG Folia Cidadã, realizando um importante trabalho no Centro de Reabilitação de Dependentes Químicos da Prefeitura de João Pessoa. “Minha missão é ressignificar. Eu recolho o lixo e o transformo em arte – o que chamo de o luxo do lixo.”
Ednaldo Farias: a reciclagem como missão
Transformar o que iria para o lixo em algo novo e belo, contribuindo para um mundo melhor – essa é a missão que Ednaldo Farias Ferreira escolheu para si. Aos 42 anos, natural de Alagoa Grande, no agreste paraibano, Ednaldo cresceu em uma família de agricultores e encontrou no artesanato, em 2011, a oportunidade de mudar sua história. O olhar atento para o trabalho de grandes mestres foi o que o impulsionou a desenvolver sua própria arte, tornando o artesanato sua companhia inseparável. “Tenho procurado me qualificar e melhorar a cada dia, para alcançar o realismo em cada escultura e, assim, encantar ainda mais o público. Sou apaixonado pelo que faço.” Com mais de dez anos de dedicação diária, Ednaldo segue firme em sua jornada, provando que a arte pode dar novo destino a materiais descartados — e também transformar a vida de quem a cria.
Geo Oliveira: alma festiva e nordestina
Com talento e criatividade, Geo Oliveira transforma simples folhas de papel em personagens do maracatu, dos folguedos e das histórias do Sertão, dando forma e cor à cultura popular e às memórias de sua infância. Natural de São Mamede, ele desde pequeno aprendeu a enxergar a cultura popular do seu entorno. O olhar curioso e atento logo se tornou fonte de inspiração. Antes de se dedicar ao papel, passou pelo bordado e pela arte naif, até encontrar a verdadeira paixão: dar vida a personagens do imaginário nordestino. “Eu não sei fazer outra coisa senão esses personagens dos folguedos. Hoje, uso o papel para trazê-los ao mundo, porque, para mim, eles são universais”, diz o artesão, que também é psicólogo.
Socorro Souza: entre o cuidado e a arte
Nascida em João Pessoa, Socorro Souza descobriu desde cedo as múltiplas possibilidades do artesanato. Vinda de uma família humilde, ainda menina percebeu que o fazer artesanal poderia ser uma forma de superar as dificuldades financeiras que enfrentava. Mas sua relação com o artesanato foi além da necessidade. O amor pela arte se enraizou, e nem mesmo a conquista de um diploma em Enfermagem pela Universidade Federal da Paraíba a afastou desse ofício. Os conselhos dos pais, comerciantes, para que apostasse na educação deram frutos, mas o artesanato permaneceu como parte essencial de sua vida. “Meu compromisso é buscar a maior perfeição possível em cada peça que faço. Sempre me coloco no lugar do cliente e me esforço para que ele volte. Sei que, ao confeccionar meus personagens com dedicação, também estou contribuindo para um mundo melhor”, avalia.
Ficha Técnica - Museu A CASA do Objeto Brasileiro
Diretora Presidente | Renata Mellão
Diretoras | Sonia Kiss e Maria Eudóxia Mellão
Figueiredo Atkins
Direção Executiva | Eduardo Augusto Sena
Direção Artística | Mariana Lorenzi
Administrativo-Financeiro | Tatiana Sousa
Comunicação | Halinni Garcia Lopes
Desenvolvimento Institucional | Carolina
Rocha
Gestão Loja | Patrícia Kede Godoy
Gestão Predial | Janice Monteiro
Loja | Lívia Andrello
Mediação e Educativo | Camilla Pires
Produção | Renata Zanetti Sant’Anna
Serviços Gerais | Maria José Miguel Pereira
Zeladoria | Alfredo Matias
Ficha Técnica da exposição
Governo do Estado da Paraíba
Governador: João Azevedo Lins Filho
Vice Governador: Lucas Ribeiro Novais de
Araújo
Secretária de Estado do Turismo e
Desenvolvimento Econômico Setde: Rosália Borges Lucas
Presidente de Honra do Programa do Artesanato
Paraibano PAP: Ana Maria Sales Lins
Gestora do Programa do Artesanato Paraibano
PAP: Marielza Rodriguez Targino de Araújo
Diretor do Museu do Artesanato Paraibano
Janete Costa: Fábio de Morais Silva
Coordenadora de Capacitação do Programa do Artesanato Paraibano PAP: Yara de Alencar Cunha Filha
SEBRAE PB
Presidentes do Conselho Deliberativo
Estadual: Mario Antônio Pereira Borba
Diretor Superintendente: Luiz Alberto
Gonçalves Amorim
Diretor Técnico: Lucélio Cartaxo Pires de
Sá
Diretor Administrativo: João Monteiro da
Franca Neto
Gerente da Unidade de Desenvolvimento
Territorial e Políticas Públicas: Luciano Holanda
Gestor de Artesanato: Jucieux Palmeira
Curadoria da Exposição: Sérgio Matos
Serviço
Qual o Seu Papel? Da
fibra à forma: a arte que pulsa da Paraíba
Local: Museu A CASA do Objeto Brasileiro(Av. Pedroso de
Morais, 1216 - Pinheiros , São Paulo - SP, 05420-001)
Abertura: 24 de maio
de 2025, sábado, das 10h às 18h
Período expositivo: De 25 de
maio a 03 de agosto
Horário: De quarta a
domingo, das 10h às 18h
Entrada gratuita
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