Especialista da
Organon esclarece 10 mitos que viralizaram nas redes sobre saúde
reprodutiva
Com o aumento do interesse por saúde reprodutiva nas redes
sociais, muitas mulheres buscam dicas alternativas para melhorar suas chances
de engravidar. De xarope de inhame a sucos “da fertilidade”, os conselhos se
espalham rapidamente, mesmo sem respaldo científico.
Para esclarecer o que é mito e o que realmente merece
atenção, a gerente médica da Organon, Viviane Santana, especialista em
reprodução humana, comenta 10 práticas populares no TikTok, separando fatos do
que é desinformação.
Confira:
1. Tomar xarope de inhame todos os dias no período
fértil
Mito: Afirmam que estimula a ovulação
O inhame pode ser um alimento benéfico para a saúde, mas,
até o momento, não existem evidências científicas que comprovem relação direta
com a fertilidade. Esse mito surgiu pois o inhame é fonte de estrogênio para a
produção de medicamentos pela indústria farmacêutica. No entanto, não é
possível obter esse hormônio a partir do seu chá para que tenha efeito
terapêutico.
2. Comer abacaxi em jejum após a ovulação
Mito: Dizem que a bromelina ajuda na implantação do
embrião
O abacaxi contém vitamina C e bromelina, que podem ter
benefícios para a saúde. A vitamina C é um antioxidante que pode ajudar a
proteger os óvulos e o corpo em geral dos danos causados pelos radicais
livres. Já a bromelina, possui propriedades anti-inflamatórias e
anticoagulantes. No entanto, não há nenhum estudo científico que comprove que a
fruta possa ajudar na implantação do embrião ou qualquer relação direta com a
fertilidade.
3. Usar óleo de prímula desde o primeiro dia de
menstruação até a ovulação
Mito: Muito compartilhado para melhorar o muco
cervical
O óleo de prímula é fonte de ácidos graxos essenciais e
ácido linoleico, que possuem propriedades anti-inflamatórias. Sabe-se do seu
uso em tratamentos de inflamação crônica, mas a maioria dos testes até o
momento tem falhas importantes e não podem ser considerados como definitivos.
Também não há comprovação científica dos benefícios do óleo de prímula em
pacientes tentando engravidar, assim como seu uso para queixas de TPM ou
menopausa. Mesmo com potencial anti-inflamatório, não há evidências da sua
atuação no sistema reprodutor feminino. Importante se atentar também à falta de
controle de qualidade dos óleos disponíveis para o consumo no mercado.
4. Consumir maca peruana diariamente
Mito: Dizem equilibrar hormônios
A maca peruana é fonte de carboidratos, proteínas, fibras,
vitaminas e minerais, além de aminoácidos essenciais, de forma que suas
propriedades podem ajudar na saúde em geral. Em relação a fertilidade, existem
poucas evidências mostrando seu benefício no aumento da mobilidade, qualidade e
quantidade dos espermatozoides. Embora os estudos sobre os benefícios da maca
peruana sejam promissores, as evidências ainda são limitadas e inconclusivas. A
Anvisa inclusive alerta que qualquer alegação terapêutica é completamente
irregular, visto que não há processo de avaliação de segurança e eficácia do
produto na forma de medicamento.
5. Ter relações sexuais todos os dias aumenta as chances
de engravidar
Mito: Muitos falam que quanto mais praticar, melhor
A mulher só pode engravidar durante o período fértil, que
ocorre, em média, 14 dias após o primeiro dia da menstruação e dura em média 6
ou 7 dias por mês. Manter relações todos os dias, fora do período fértil e
apenas com intuito de alcançar uma gravidez, não aumenta as chances de sucesso,
além de poder se tornar frustrante, gerando um desgaste desnecessário para o
casal. Além disso, a reposição do líquido seminal leva de 72 a 96 horas. Dessa
forma, a ejaculação frequente pode reduzir a concentração e a qualidade dos
espermatozoides, comprometendo a capacidade de fecundar o óvulo. Sendo assim, é
mais eficaz ter relações sexuais em dias alternados durante o período fértil
(entre 3 e 4 relações no período, com 1 a 3 dias de intervalo entre elas),
garantindo a qualidade dos espermatozoides e aumentando as chances de
concepção.
6. Evitar tomar café, glúten e leite durante o ciclo
menstrual
Mito: TikTokers dizem que isso ajuda a desinflamar o
corpo
Diversos alimentos podem ser associados a diminuição do
bem-estar durante o período menstrual. Açúcar refinado, óleos de cozinha
comuns, gorduras trans, laticínios, carne vermelha e processada, grãos
refinados e álcool são altamente inflamatórios e podem provocar aumento da
liberação de prostaglandinas. Essa alta liberação reduz o fluxo
sanguíneo para o útero, o que resulta nas cólicas menstruais. Alimentos
que fermentam, como leguminosas e laticínios, feijão, grão-de-bico, leite e
seus derivados podem aumentar a retenção de líquidos e piorar os sintomas
de inchaço e barriga dilatada. A cafeína estreita os vasos sanguíneos e
desidrata o corpo, o que pode gerar dores de cabeça e aumentar o nervosismo
nesse período. No entanto, não há consenso sobre a necessidade de evitar estes
alimentos em todas as mulheres.
7. Ficar de pernas para o alto por 15 minutos após a
relação
Mito: Acreditam que isso ajuda o esperma a chegar ao
útero
Essa crença popular vem da ideia de que ficar com as pernas
para cima facilitaria o movimento do espermatozoide em direção as trompas,
local onde ocorre a fertilização. No entanto, a ideia não passa de um mito,
visto que não existe nenhuma posição que possa interferir ou favorecer na
movimentação dos espermatozoides dentro do sistema reprodutor
feminino.
8. Tomar água com limão e vinagre de maçã em jejum
Mito: Vendem como alcalinizante que regula o corpo
O vinagre de maçã costuma ser associado a dietas para
emagrecimento. Devido aos componentes presentes em sua composição, como ácido
acético e antioxidantes, o vinagre de maçã pode favorecer uma boa digestão,
melhor absorção de nutrientes, além de auxiliar no controle glicêmico. No
entanto, não existem pesquisas científicas comprovando a eficácia de tomar
líquidos ácidos para acelerar a perda de peso. Da mesma forma, não existe
nenhum estudo mostrando o vinagre de maçã como aliado na melhora da
fertilidade.
9. Tomar suco de beterraba com gengibre e laranja no
período fértil
Mito: Vendido como “suco da fertilidade”
Existem diferentes receitas de “sucos da fertilidade” ou
“sucos da implantação”. Frutas como laranja, limão e abacaxi são excelentes
fontes de vitamina C, um potente antioxidante que pode ajudar a proteger o
organismo dos danos causados pelos radicais livres e facilitar a absorção de
ferro. Já a beterraba e a melancia fornecem óxido nítrico, que pode ajudar na
vascularização. Nesse sentido, existem poucos estudos mostrando que a beterraba
poderia ser benéfica para aumentar a receptividade do útero ao embrião, e com
isso melhorar as chances de gravidez em um tratamento de reprodução
assistida. No entanto, essas são apenas evidências iniciais e muitos
outros estudos precisam ser feitos para avaliar o real efeito de diferentes
frutas na fertilidade. Independente da receita, uma dieta rica em nutrientes é
importante para o bom funcionamento do organismo em geral, e fortemente
recomendada para pessoas tentando engravidar.
10. Evitar banho quente ou sauna durante a ovulação
Mito: Dizem que o calor prejudica a implantação
Estudos apontam diversos mecanismos pelos quais o aumento
das temperaturas pode comprometer a fertilidade e os resultados reprodutivos,
inclusive o aumento do calor ocasionado por mudanças climáticas. No caso dos
homens, a exposição prolongada ao calor pode reduzir a qualidade do esperma,
com efeitos na contagem, motilidade e morfologia dos espermatozoides. Isso
ocorre porque os testículos são muito sensíveis ao calor, e um aumento de
temperatura pode trazer grandes impactos na produção de espermatozoides. Nas
mulheres, temperaturas elevadas podem interferir na ovulação, no
desenvolvimento embrionário e aumentar o risco de complicações na gestação.
Além disso, há indícios de que o aumento excessivo da temperatura corporal da
mãe possa prejudicar o desenvolvimento do feto. No entanto, não existem estudos
avaliando diretamente o impacto de saunas e banhos quentes na fertilidade de homens
e mulheres.
Para finalizar, a especialista lembra que mais importante do
que seguir modismos das redes sociais é adotar hábitos saudáveis, como
alimentação equilibrada, prática regular de exercícios físicos e cuidado com o
bem-estar físico e emocional — fatores essenciais para a saúde reprodutiva. Em
caso de dificuldades para engravidar, é fundamental procurar um médico
especialista. “Práticas disseminadas por pessoas sem formação técnica, além de
ineficazes, podem representar riscos à saúde”, conclui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário