'Embora a capital paulista tenha
estabelecido o objetivo de eliminar os ônibus a diesel até 2038, entraves
burocráticos, disputas contratuais e falta de infraestrutura adequada de
recarga dificultam o avanço'
Não é de hoje que a mobilidade
nos grandes centros urbanos demanda soluções que melhorem a fluidez do
trânsito, reduzam os trajetos e combatam a poluição atmosférica. Nesse sentido,
os ônibus elétricos surgem como uma alternativa eficiente e viável,
especialmente por operarem em rotas fixas, com recarga programada nas garagens
— o que os torna mais simples de serem implementados do que os automóveis
elétricos, os quais exigem uma vasta rede de postos. E em países de dimensões
continentais, como o Brasil e os Estados Unidos, isso representa um desafio
ainda maior.
No entanto, é fato que a
eletrificação do transporte público tem se mostrado uma das estratégias mais
promissoras para, principalmente, reduzir as emissões de Gases de Efeito Estufa
(GEE) nas metrópoles mundiais. Ao redor do mundo, diversas cidades já colhem
benefícios dos ônibus elétricos. Londres, Paris e Shenzhen (na China) vêm ampliando
frotas como parte de metas climáticas ambiciosas. Na América Latina, Santiago
(no Chile) é referência, enquanto Bogotá (na Colômbia) está investindo
fortemente nessa direção.
No Brasil, embora ainda
incipiente, o setor começa a dar sinais de avanço. De acordo com dados
recentes, o emplacamento de ônibus elétricos no País cresceu impressionantes
923% no primeiro bimestre de 2025. É uma mudança de paradigma. Os benefícios em
comparação com os ônibus a diesel são evidentes: menos ruídos, menor custo operacional
a longo prazo, emissão zero de poluentes locais e, consequentemente, melhor
qualidade do ar — o que impacta diretamente a saúde pública. Além disso, o uso
de energia elétrica deve ser alinhado com fontes renováveis, contribuindo para
a descarbonização da matriz energética do transporte público, geralmente o
principal emissor de GEE das cidades. Atenção especial deve ser dada às
baterias no fim da vida útil, bem como o fluxo de logística reversa precisa ser
desenhado desde o início da operação.
Contudo, a implementação em
larga escala ainda lida com contratempos relevantes. Na cidade de São Paulo,
principal metrópole nacional que conta com uma frota de mais de 13 mil ônibus,
o ritmo de eletrificação está aquém das metas. Embora a capital paulista tenha
estabelecido o objetivo de eliminar os ônibus a diesel até 2038, entraves
burocráticos, disputas contratuais e falta de infraestrutura adequada de
recarga dificultam o avanço. Muitas garagens ainda não estão totalmente
preparadas para abrigar a tecnologia necessária, e há um impasse entre empresas
operadoras e o Poder Público sobre os investimentos para adaptação — sobretudo
obras para adaptação de infraestrutura da carga e da tensão elétrica.
Apesar dos obstáculos, o
potencial da eletrificação dos ônibus urbanos no Brasil é enorme. Com
planejamento, financiamento e vontade política, é possível transformar o
transporte coletivo em um dos protagonistas da transição energética. Apostar
nessa solução é investir em cidades mais limpas, silenciosas e sustentáveis.
Eis uma agenda que não pode mais esperar.
*As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem, necessariamente, com as do Diário do Comércio**
José Goldemberg - Físico e presidente do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP
com Cristiane Cortez, assessora do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP
Fonte:https://www.dcomercio.com.br/publicacao/s/onibus-eletrico-opcao-eficiente-para-descarbonizar-grandes-centros-urbanos

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