Sabemos que o dinheiro físico está sendo cada vez menos utilizado pela população brasileira em geral, principalmente diante da facilidade, da rapidez e da segurança dos meios digitais, que tornam o dia a dia das pessoas mais prático. No entanto, a nota e a moeda não deixam de ter o seu valor, e não me refiro só no sentido literal, pois elas também possuem um imenso valor para iniciar a educação financeira das crianças.
É claro que antes de fazermos essa iniciação precisamos avaliar a idade e,
principalmente a maturidade da criança, para termos certeza de que consegue
entender algumas situações. Não é recomendado dar dinheiro ou cartão para os
pequenos que ainda não estão prontos para isso, porém, para aqueles que já
conseguem ter um discernimento melhor, o dinheiro físico pode ser um grande
aliado nesse processo, já que é algo palpável.
Por exemplo, se você der uma nota de 50 reais para seu filho ir à padaria
comprar alguns pãezinhos e retornar com o troco, será muito mais fácil que ele
perceba o quanto foi gasto e o quanto ficou sobrando, pois conseguirá
visualizar totalmente o dinheiro. Além disso, é bem provável que guarde na
memória as notas que possui e que estarão disponíveis para uso em uma próxima
oportunidade.
Com o cartão - de crédito ou débito - e o Pix (que depende de um aparelho
celular), essa percepção imediata é quase inviável. É claro que podemos
visualizar o saldo total e saber a quantia que saiu a partir de determinada
compra, mas conforme vamos comprando sem conferir, chega um momento que já não
se sabe o total dos gastos a longo prazo, pois é mais difícil manter um
controle e eventualmente uma compreensão plena do cenário.
O fato é que além de sempre buscarem utilizar uma linguagem acessível para as
crianças, os pais e os responsáveis também podem promover a educação financeira
de forma lúdica, por meio de brincadeiras e jogos diversos. Inclusive, o
primeiro jogo que me vem à cabeça é o clássico Banco Imobiliário, pois quando
eu brincava, adorava conseguir comprar o máximo de hoteizinhos que conseguisse.
O Banco Imobiliário tradicional, com notas físicas, é uma oportunidade
divertida para que as crianças tenham acesso ao dinheiro, façam contas e
compras, cuidem da quantia que possuem, sem ter que lidar com o dinheiro de
verdade. Hoje em dia, o mais comum é o Banco Imobiliário com maquininha e
cartão de crédito, mas que perde um pouco a graça diante da proposta. Se optar
por jogar com as cédulas, você terá uma rara oportunidade de ver o rostinho dos
pequenos se iluminar quando verem o acúmulo de notas nas mãos.
Outro ponto positivo do uso do dinheiro físico é a possibilidade de ensinar, de
forma concreta, conceitos como troco, limite, prioridade e até mesmo
planejamento. Se a criança recebe uma quantia semanal para comprar o lanche da
escola, por exemplo, ela aprende que, ao gastar tudo em um único dia, ficará
sem dinheiro para os dias seguintes. Essa vivência direta e visual, com as
notas diminuindo ao longo dos dias, ajuda a desenvolver a noção de escassez e a
importância de fazer escolhas.
Além disso, o dinheiro físico facilita a introdução de três potinhos ou
envelopes - uma técnica clássica de organização financeira adaptada para os
pequenos: um para gastar agora, outro para guardar e um terceiro para doar.
Essa simples divisão ensina, desde cedo, que o dinheiro não é apenas para
consumo imediato e também pode ser economizado para algo maior ou usado para
ajudar outras pessoas.
Dica: prefira potinhos de vidro ou plástico transparente, pois ver o dinheiro
acumulando é uma poderosa ferramenta de reforço para o investidor iniciante
continuar no caminho. Infelizmente a digitalização roubou esse momento das
pessoas. Vale lembrar que isso não significa criar uma aversão ao mundo
digital. Pelo contrário, pois o ideal é que a criança, ao crescer, consiga
transitar entre os dois universos com consciência. Mas começar pelo tangível
pode ser mais eficaz para construir uma base mais robusta de compreensão.
Aqui estão 5 dicas para aplicar no dia a dia:
1. Dê mesadas ou semanadas em espécie e acompanhe junto com a criança os
gastos.
2. Crie metas simples com recompensas: “Se economizar R$ 5 essa semana, podemos
usar esse valor para completar a compra daquele brinquedo que você quer.”
3. Use cofrinhos transparentes para que a criança veja o dinheiro “crescendo”.
4. Converse sobre os preços dos produtos, mostre etiquetas e faça comparações
juntos.
5. Estimule a criança a participar do mercado, da feira ou da padaria,
incentivando-a a fazer pequenas compras com orientação.
A educação financeira na infância é uma semente poderosa. E o dinheiro físico
pode ser o primeiro instrumento dessa aprendizagem. Cabe a nós, adultos,
aproveitar as oportunidades do cotidiano para ensinar com carinho, paciência e,
sempre que possível, com um toque de diversão. Afinal, entender de dinheiro é
entender sobre escolhas - e quanto mais cedo essa consciência for construída,
maiores as chances de termos adultos mais responsáveis, seguros e livres
financeiramente.
João Victorino - administrador de empresas, professor de MBA do Ibmec e educador financeiro. Com uma carreira bem-sucedida, busca contribuir para que as pessoas melhorem suas finanças e prosperem em seus projetos e carreiras. Para isso, idealizou e lidera o canal A Hora do Dinheiro com conteúdo gratuito e uma linguagem simples, objetiva e inclusiva.
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