Não é mais somente é puramente sobre performance: é sobre vínculos, cultura e presença real na vida das pessoas
Existe
um tipo de retorno que não cabe em planilhas, mas decide o futuro de uma marca.
É o que acontece quando consumidores não apenas compram, mas sentem. Quando uma
campanha vira conversa, um produto vira símbolo e a marca deixa de ser só
fornecedora para se tornar parte da vida. É disso que estamos falando quando
falamos em ROI emocional: um valor ainda invisível para muitas empresas, mas
visivelmente essencial para quem consome.
Enquanto
o marketing insiste em medir alcance, impressões e CTR, o consumidor
contemporâneo está buscando algo que ele nem sempre sabe nomear, mas reconhece
quando sente: vínculo, verdade, afeto. Não se trata apenas de tocar, mas de
ressoar emocionalmente com quem está do outro lado da tela ou do balcão.
Em uma
era marcada por ESG, crise de confiança e busca por pertencimento, o que define
o sucesso de uma marca não é apenas sua presença, mas seu impacto emocional. O
ROI emocional - ou retorno afetivo da marca - é, hoje, um dos maiores
diferenciais competitivos. E ainda é subestimado por muitas empresas.
Dados
que confirmam o invisível
Estudos
da Forrester (2023) mostram que consumidores emocionalmente conectados são 52%
mais valiosos para as marcas, pois compram mais, indicam mais e permanecem mais
tempo. Essa lealdade afetiva é menos volátil e muito mais resiliente diante da
concorrência.
No
Brasil, segundo a Edelman Trust Barometer, 71% dos consumidores querem que as
marcas "façam mais pelo mundo", e 60% afirmam que deixaram de
consumir produtos de empresas incoerentes com seus valores. Ou seja: a régua
mudou. O que importa não é mais o que a marca vende, mas o que ela representa.
A marca se torna um espelho de valores, uma bandeira que o consumidor escolhe
carregar.
Criar
experiências que tocam emocionalmente o consumidor exige mais do que UX e
design thinking. Exige escuta cultural, sensibilidade narrativa e coragem de
pertencer. É um trabalho quase antropológico, que demanda imersão na realidade
do público e disposição para dialogar com vulnerabilidades reais.
Marca
ou máquina? O risco da automatização afetiva
O case
da Dove com o "Real Beauty Sketches", que valorizava a beleza real
das mulheres, gerou 4x mais impacto de longo prazo do que campanhas de
performance. O Boticário, ao abordar diversidade de gênero em datas
tradicionais como o Dia dos Namorados, se posicionou com risco, mas conquistou
um vínculo afetivo com novas gerações. Esses exemplos mostram que marcas que
ousam ser humanas ganham relevância.
Em contrapartida,
marcas que se comportam como algoritmos - frias, previsíveis, genéricas - podem
até escalar performance no curto prazo, mas não constroem comunidade. E sem
comunidade, não há capital simbólico duradouro.
A
relação esfria, vira transação, não conexão. Nubank e Netflix são exemplos de
empresas que entenderam isso: criam rituais, geram repertório, provocam
conversas. Sua experiência de marca se entrelaça com a vida das pessoas — e
isso é insubstituível. Elas ocupam um espaço simbólico que transcende o produto
ou serviço.
Como
medir o que se sente
O ROI
emocional pode - e deve - ser medido. Com indicadores como share of
heart, tempo de permanência emocional, engajamento orgânico profundo, taxa
de advocacia espontânea e NPS afetivo (que mede o quanto a marca é lembrada com
afeto).
Essas
métricas, embora sutis, apontam para o verdadeiro valor da marca no imaginário
coletivo. Mas mais do que mensurável, ele precisa ser genuíno. Porque no fim
das contas, o consumidor de hoje não quer apenas comprar. Ele quer se sentir
visto. Quer pertencer a algo que faça sentido, que traga propósito e
acolhimento.
A
próxima grande virada do marketing será espiritual, simbólica e relacional. As
marcas que entenderem isso sairão na frente - não apenas como empresas, mas
como agentes culturais do nosso tempo. E nesse novo paradigma, conexão será
mais valiosa do que conversão.
Ângelo Vieira Jr. - especialista em Marketing, Inovação, CX e Digital e estrategista-chefe da Lúmen Strategy.
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