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sexta-feira, 11 de abril de 2025

'Agenda Verde' da FecomercioSP quer alertar empresas sobre urgências climáticas

Seis em cada dez negócios já sentem os impactos do clima, segundo pesquisa da entidade, que lançou um documento para discutir e apontar os desafios ambientais no âmbito da COP 30, e as 12 metas para superá-los

 

Com foco em seis pilares "críticos e impactantes", de acordo com o desenho feito pelo Conselho de Sustentabilidade da entidade, como transição energética, economia circular, emissões de gases de efeito estufa, desmatamento ilegal, combate à poluição e incêndios florestais, a entidade procurou listar as prioridades ambientais a serem discutidas no âmbito da COP 30, que será realizada em Belém (PA), para que o país se torne líder da agenda climática global.

Graves problemas de queimadas, que devastaram diversas regiões do Brasil em 2023 e 2024, destruindo diversos biomas, enchentes no Rio Grande do Sul e as chuvas e alagamentos nas grandes cidades, que afetam não só o funcionamento do comércio e serviços, mas a vida dos cidadãos em geral, são alguns pontos que demonstraram a urgência em discutir e propor ações sobre o assunto, debatido há anos pela FecomercioSP, disse o professor José Goldemberg, que liderou o Ministério do Meio Ambiente em 1992 e hoje preside o Conselho de Sustentabilidade da entidade. 

Ao lembrar que há 50 anos o mundo já enfrentava crises ambientais como a do petróleo, discussões sobre a duração desse e de outros recursos naturais e os impactos na população, o professor afirmou que essas preocupações fizeram as pessoas "acordarem" para manter um desenvolvimento sustentável que durasse.

Esses princípios, discutidos durante anos no âmbito das Nações Unidas, são tão gerais que há uma dificuldade em aplicá-los, lembrou, dizendo que todos podem até concordar em preservar os recursos que temos hoje para que o futuro possa se beneficiar deles, mas é preciso saber como fazer isso. "O dilema está em investir em medidas preventivas, ou então, se conformar com a ideia de que a situação é inevitável e, assim, se adaptar”, alertou.  

Destacando que as empresas também podem participar dessas ações, Ivo Dall'Acqua Jr. presidente em exercício da FecomercioSP, fez um paralelo entre os eventos climáticos extremos e os consumidores cada vez mais exigentes, e como a questão pode impactar os negócios já que, segundo ele, o mercado global já entendeu a necessidade, mas ainda não agiu por completo. 

Ele destacou que, enquanto representantes da classe empresarial, é preciso agir pela transição energética e por uma economia mais circular, já que o setor produtivo não pode ser o vilão da história, mas parte da solução, pois sustentabilidade não é uma tendência, é um caminho para sobrevivência e equilíbrio. "O comércio é o menos poluidor, mas não pode se furtar a participar dessa questão", completou, parafraseando o professor Goldemberg. 

Impactos positivos nos negócios

Para trazer as empresas do comércio varejista ao debate e entender como elas têm lidado com a questão, a Fecomercio fez uma sondagem com 200 entrevistados entre fevereiro e março, que apontou que seis entre dez empresas paulistas já sentem impactos climáticos (64,5%), mas a maioria tem dificuldades em adotar práticas sustentáveis. 

Quase 45% relataram prejuízos financeiros em decorrência dos efeitos adversos do clima, e mais de 60% entenderam que essa é uma questão relevante e precisa entrar no dia a dia dos negócios. Outros já perceberam a necessidade: 42% adotaram medidas de descarbonização, ou medidas mais simples, como desvio dos resíduos orgânicos para compostagem. 

Mas aí aparecem as barreiras: 58% têm intenção de investir, mas não o fazem por falta de recursos ou de conhecimentos técnicos comuns às economias emergentes, que estão migrando para a transição verde, disse Cristiane Cortez, assessora técnica do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP. 

Segundo ela, a missão é orientar e intensificar esses pontos, já que a agenda será composta de 12 objetivos, que não serão alcançados só pelo setor produtivo, sendo necessário que o poder legislativo e o executivo também atuem.

"Por mais difícil que seja o dia a dia do empresário, ele também precisa colocar essas questões ambientais, sociais e de governança na sua pauta. É uma jornada necessária, longa e árdua, mas esses objetivos são uma forma de organizar o nosso caminho", disse, lembrando que o aumento da participação nos programas de logística reversa e a adoção de ações para mais cidades implantarem o "IPTU Verde" já no ciclo eleitoral de 2028 são algumas dessas metas.  

No caso do IPTU, muitos municípios já têm essa proposta, mas o contribuinte não sabe como participar, lembrou Cristiane. "Então, aquele empresário, mesmo o cidadão comum, que adote  determinadas medidas, poderá ter um desconto. Que não seja para sempre, mas que ajude nesse sentimento inicial. Quem ganha é a cidade, que passa a ter menos impactos ambientais e vai gastar o recurso do contribuinte na reparação. O momento é de mitigar e se adaptar."

A "Agenda Verde" foi entregue ao deputado Fernando Marangoni (União Brasil-SP), que coordena as Frentes Parlamentares do Desenvolvimento Urbano Sustentável, do Saneamento Básico e dos Resíduos Sólidos, e para o senador Laércio Oliveira (Progressistas-SE). 

A seguir, as "12 metas para um Brasil mais verde até 2030" elaboradas pela FecomercioSP:

1. Zerar o desmatamento ilegal em todos os biomas do Brasil;

2. Implementar o Sistema Brasileiro do Comércio de Emissões de Efeito Estufa (SBCE), com destaque à internalização dos créditos oriundos do mercado voluntário;

3. Implementar as políticas públicas previstas na Lei 14993/2024 (Combustível do Futuro) focadas em biometano, biodiesel, etanol, combustível sustentável de aviação, diesel verde e demais combustíveis renováveis, transicionando, gradualmente, as frotas de veículos de passeio, de transporte de passageiros e cargas e as aeronaves;

4. Substituir os combustíveis fósseis por biomassa nas usinas termoelétricas de reserva, as quais proporcionam estabilidade, flexibilidade e complementaridade à matriz energética nacional;

5. Avançar, no escopo do Programa Nacional de Hidrogênio (PNH2), em direção à reindustrialização de setores estratégicos de reposicionamento global, como o de fertilizantes, por meio de estímulos tributários e linhas de financiamento do BNDES;

6. Iniciar, imediatamente, uma campanha nacional em torno da necessidade da eficiência energética, com monitoramento público e periódico de metas preestabelecidas;

7. Desviar 13,5% da fração orgânica dos Resíduos Sólidos Urbanos (RSUs) dos aterros sanitários (como previsto no Planares), com destinação à compostagem e à biodigestão, além de insumos para a indústria de rações, entre outros;

8. Aumentar a participação da população nos Sistemas de Logística Reversa (SLRs) em operação e na coleta seletiva municipal, aumentando a circularidade dos materiais constituintes de produtos e embalagens pós-consumo, por meio da destinação ambientalmente adequada, da reciclagem e do uso como insumos na fabricação de novos produtos, reduzindo a geração de resíduos e a poluição ambiental, incluindo os oceanos;

9. Instituir incentivos econômicos e tributários para atividades envolvendo reciclagem, compostagem, upcycling e design de produtos, além de um programa para manufatura de produtos considerando o uso de insumos reciclados decorrentes do aproveitamento de produtos e embalagens pós-consumo;

10. Aprimorar a Estratégia Nacional da Economia Circular (Enec), com a inclusão de metas, prazos e objetivos de curto, médio e longo prazos;

11. Proibir, imediatamente, a utilização de fogo como método agrário;

12. Instituir medidas para que um número significativo de cidades brasileiras adote o IPTU Verde até o próximo ciclo eleitoral municipal, em 2028.

 


Karina Lignelli

https://diariodocomercio.news/publicacao/s/agenda-verde-da-fecomerciosp-quer-alertar-empresas-sobre-urgencias-climaticas



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