Seis em cada dez negócios já sentem os impactos do clima, segundo pesquisa da entidade, que lançou um documento para discutir e apontar os desafios ambientais no âmbito da COP 30, e as 12 metas para superá-los
Com foco em seis pilares
"críticos e impactantes", de acordo com o desenho feito pelo Conselho
de Sustentabilidade da entidade, como transição energética, economia circular,
emissões de gases de efeito estufa, desmatamento ilegal, combate à poluição e
incêndios florestais, a entidade procurou listar as prioridades ambientais a
serem discutidas no âmbito da COP 30, que será realizada em Belém (PA), para
que o país se torne líder da agenda climática global.
Graves problemas de queimadas,
que devastaram diversas regiões do Brasil em 2023 e 2024, destruindo diversos
biomas, enchentes no Rio Grande do Sul e as chuvas e alagamentos nas grandes
cidades, que afetam não só o funcionamento do comércio e serviços, mas a vida
dos cidadãos em geral, são alguns pontos que demonstraram a urgência em
discutir e propor ações sobre o assunto, debatido há anos pela FecomercioSP,
disse o professor José Goldemberg, que liderou o Ministério do
Meio Ambiente em 1992 e hoje preside o Conselho de Sustentabilidade da
entidade.
Ao lembrar que há 50 anos o
mundo já enfrentava crises ambientais como a do petróleo, discussões sobre a
duração desse e de outros recursos naturais e os impactos na população, o professor
afirmou que essas preocupações fizeram as pessoas "acordarem" para
manter um desenvolvimento sustentável que durasse.
Esses princípios, discutidos
durante anos no âmbito das Nações Unidas, são tão gerais que há uma dificuldade
em aplicá-los, lembrou, dizendo que todos podem até concordar em preservar os
recursos que temos hoje para que o futuro possa se beneficiar deles, mas é
preciso saber como fazer isso. "O dilema está em investir em medidas
preventivas, ou então, se conformar com a ideia de que a situação é
inevitável e, assim, se adaptar”, alertou.
Destacando que as empresas
também podem participar dessas ações, Ivo Dall'Acqua Jr. presidente em
exercício da FecomercioSP, fez um paralelo entre os eventos climáticos extremos
e os consumidores cada vez mais exigentes, e como a questão pode impactar os
negócios já que, segundo ele, o mercado global já entendeu a necessidade, mas
ainda não agiu por completo.
Ele destacou que, enquanto
representantes da classe empresarial, é preciso agir pela transição energética
e por uma economia mais circular, já que o setor produtivo não pode ser o vilão
da história, mas parte da solução, pois sustentabilidade não é uma tendência, é
um caminho para sobrevivência e equilíbrio. "O comércio é o menos poluidor,
mas não pode se furtar a participar dessa questão", completou,
parafraseando o professor Goldemberg.
Impactos
positivos nos negócios
Para trazer as empresas do
comércio varejista ao debate e entender como elas têm lidado com a questão, a
Fecomercio fez uma sondagem com 200 entrevistados entre fevereiro e março, que
apontou que seis entre dez empresas paulistas já sentem impactos climáticos
(64,5%), mas a maioria tem dificuldades em adotar práticas sustentáveis.
Quase 45% relataram prejuízos
financeiros em decorrência dos efeitos adversos do clima, e mais de 60%
entenderam que essa é uma questão relevante e precisa entrar no dia a dia dos
negócios. Outros já perceberam a necessidade: 42% adotaram medidas de
descarbonização, ou medidas mais simples, como desvio dos resíduos orgânicos
para compostagem.
Mas aí aparecem as barreiras:
58% têm intenção de investir, mas não o fazem por falta de recursos ou de
conhecimentos técnicos comuns às economias emergentes, que estão migrando para
a transição verde, disse Cristiane Cortez, assessora técnica do Conselho de
Sustentabilidade da FecomercioSP.
Segundo ela, a missão é
orientar e intensificar esses pontos, já que a agenda será composta de
12 objetivos, que não serão alcançados só pelo setor produtivo, sendo
necessário que o poder legislativo e o executivo também atuem.
"Por mais difícil que seja
o dia a dia do empresário, ele também precisa colocar essas questões
ambientais, sociais e de governança na sua pauta. É uma jornada necessária,
longa e árdua, mas esses objetivos são uma forma de organizar o nosso
caminho", disse, lembrando que o aumento da participação nos programas de
logística reversa e a adoção de ações para mais cidades implantarem o "IPTU Verde" já no
ciclo eleitoral de 2028 são algumas dessas metas.
No caso do IPTU, muitos
municípios já têm essa proposta, mas o contribuinte não sabe como participar,
lembrou Cristiane. "Então, aquele empresário, mesmo o cidadão comum, que
adote determinadas medidas, poderá ter um desconto. Que não seja para
sempre, mas que ajude nesse sentimento inicial. Quem ganha é a cidade, que
passa a ter menos impactos ambientais e vai gastar o recurso do contribuinte na
reparação. O momento é de mitigar e se adaptar."
A "Agenda Verde" foi
entregue ao deputado Fernando Marangoni (União Brasil-SP), que coordena as
Frentes Parlamentares do Desenvolvimento Urbano Sustentável, do Saneamento
Básico e dos Resíduos Sólidos, e para o senador Laércio Oliveira
(Progressistas-SE).
A seguir,
as "12 metas para um Brasil mais verde até 2030" elaboradas pela
FecomercioSP:
1. Zerar o desmatamento ilegal em todos os biomas do Brasil;
2. Implementar o Sistema Brasileiro do Comércio de Emissões de Efeito
Estufa (SBCE), com destaque à internalização dos créditos oriundos do mercado
voluntário;
3. Implementar as políticas públicas previstas na Lei 14993/2024
(Combustível do Futuro) focadas em biometano, biodiesel, etanol, combustível
sustentável de aviação, diesel verde e demais combustíveis renováveis,
transicionando, gradualmente, as frotas de veículos de passeio, de transporte
de passageiros e cargas e as aeronaves;
4. Substituir os combustíveis fósseis por biomassa nas usinas
termoelétricas de reserva, as quais proporcionam estabilidade, flexibilidade e
complementaridade à matriz energética nacional;
5. Avançar, no escopo do Programa Nacional de Hidrogênio (PNH2), em direção
à reindustrialização de setores estratégicos de reposicionamento global, como o
de fertilizantes, por meio de estímulos tributários e linhas de financiamento
do BNDES;
6. Iniciar, imediatamente, uma campanha nacional em torno da necessidade da
eficiência energética, com monitoramento público e periódico de metas
preestabelecidas;
7. Desviar 13,5% da fração orgânica dos Resíduos Sólidos Urbanos
(RSUs) dos aterros sanitários (como previsto no Planares), com destinação à
compostagem e à biodigestão, além de insumos para a indústria de rações, entre
outros;
8. Aumentar a participação da população nos Sistemas de Logística
Reversa (SLRs) em operação e na coleta seletiva municipal, aumentando a
circularidade dos materiais constituintes de produtos e embalagens pós-consumo,
por meio da destinação ambientalmente adequada, da reciclagem e do uso como
insumos na fabricação de novos produtos, reduzindo a geração de resíduos e a
poluição ambiental, incluindo os oceanos;
9. Instituir incentivos econômicos e tributários para atividades
envolvendo reciclagem, compostagem, upcycling e design de produtos, além de um
programa para manufatura de produtos considerando o uso de insumos reciclados
decorrentes do aproveitamento de produtos e embalagens pós-consumo;
10. Aprimorar a Estratégia Nacional da Economia Circular (Enec), com a
inclusão de metas, prazos e objetivos de curto, médio e longo prazos;
11. Proibir, imediatamente, a utilização de fogo como método agrário;
12. Instituir medidas para que um número significativo de cidades
brasileiras adote o IPTU Verde até o próximo ciclo eleitoral municipal, em
2028.
Karina Lignelli
https://diariodocomercio.news/publicacao/s/agenda-verde-da-fecomerciosp-quer-alertar-empresas-sobre-urgencias-climaticas
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