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sexta-feira, 14 de março de 2025

Janaína Torres Galeria apresenta Pele do Rio, da artista visual Jeane Terra

Obra: Navegar (série Cápsula de Memória)
Créditos: Giovanna Lanna


Exposição individual inédita, investiga a finitude e processos de apagamento, interseccionando memórias pessoais da artista e reminiscências do inconsciente coletivo no território da Amazônia 

As criações, que conferem materialidade à temática do desaparecimento, apresentam diálogos entre pintura, escultura, fotografia, bordado, gravura e videoarte e incluem a técnica autoral pele de tinta, cápsulas de memória e outras proposições

Pela primeira vez em São Paulo com uma exposição solo, Jeane já expôs em diferentes países e integra as coleções do Instituto Inhotim, o Museu de Arte do Rio e o Centro Cultural Correios


 

Para abrir o calendário de exposições de 2025, a galeria Janaina Torres apresenta, de 22 de março a 26 de abril, a mostra inédita Pele do Rio, de Jeane Terra. A artista visual mineira, radicada no Rio de Janeiro, que tem obras integrantes dos acervos de instituições como o Instituto Inhotim, o Museu de Arte do Rio (MAR) e o Centro Cultural Correios (RJ), e já expôs em diferentes países, realiza essa que será sua primeira individual na capital paulista. Em abril ela estará, também, na SP-Arte. 

Na exposição Pele do Rio, as obras de Jeane dão fisicalidade à experiência da finitude, processos de apagamento e memória e têm como matéria-prima, camadas da psiquê da artista acerca do tema, entrecruzadas com o território da floresta amazônica - especialmente a reserva do Jaú e o arquipélago de Anavilhanas, no Rio Negro, onde estão as ruínas da cidade de Velho Airão. 

Jeane, tem como tema central de sua pesquisa artística a transitoriedade da vida e os ecos da memória. A partir de experiências pessoais hostis e definidoras, como a morte de sua família e a demolição da casa onde viveu, a artista se conecta e imerge em territórios que vivenciam processos de perdas coletivas. Assim, Jeane consubstancia sua própria vivência e o inconsciente coletivo, materializando em seus trabalhos estados de dor, tristeza, desamparo, abandono, resistência, esperança e transmutação. Em uma espécie de eterno retorno nietzschiano, Jeane corporifica, em suas obras, angústias inerentes aos processos de desaparecimento de cidades, de ambientes, de culturas, da biodiversidade, e, em última análise, do próprio homem. Nas obras, a materialidade traduz o efêmero e o perecível em formas e objetos palpáveis, que, paradoxalmente, reafirmam a pulsão da vida. 

Para Pele do Rio, Guilherme Wisnik, curador da exposição, selecionou 13 obras que transitam entre pintura, escultura, fotografia, bordado, gravura e videoarte. Os materiais alternam-se entre o natural e o processado: pele de tinta (mármore, aglutinante e tinta acrílica), látex, borracha escolar, vidro, água e até os restos de uma árvore servem de insumo para as criações. “Ancorada na fisicalidade da matéria, que de alguma maneira impõe uma resistência à perda da memória e ao arruinamento das coisas, Jeane Terra dá carnalidade à experiência desses lugares tão distantes de nós, aqui no Sudeste. Ao mesmo tempo, cria trabalhos que jogam com o sentido de desaparecimento inexorável, como os carimbos em borracha de ruínas cuja tinta, pouco a pouco, vai secando. E se da atmosfera onírica do filme que mostra o nascimento de uma vitória-régia emana uma potência de vida sempre renovada, a árvore moldada em látex e pesada em uma balança de açougue, como se fosse carne, metaforiza a transformação da floresta em pasto, e o seu consumo como signo de morte.” Wisnik, comenta sobre as obras escolhidas. 



 


Entre as técnicas tem destaque a autoral pele de tinta. A mistura alquímica, criada por Jeane, une pó de mármore, tinta acrílica e aglutinante resultando em um tecido que faz alusão à textura da pele humana. Para as criações com pele, elege uma fotografia de seu arquivo, que é lida por um programa de computador, desenvolvido a partir da técnica do ponto cruz, herança da avó materna da artista. O programa traça uma lógica cromática e, em seguida, Jeane recorta o material em minúsculos quadrados, que são costurados ou colados sobre a tela. A depender do ângulo observado, o aspecto final assemelha-se a uma pintura pontilhista, a uma fotografia pixelada ou, ainda, a um bastidor de bordado. Com as obras em Pele de Tinta, Jeane funde sua dor pessoal e a coletiva, reverberando a dialética contemporânea entre a trama da ancestralidade e a fragmentação humana refletida em cada pixel. 

Outro suporte criado pela artista, são as cápsulas de memória: recipientes de vidro soprado que guardam fotografias imersas em água e/ou oxigênio, em uma referência ao ciclo da vida e às memórias, onde a decomposição da matéria cria um campo fértil para novas formas de existência. Outras experimentações artísticas assumem o caráter metalinguístico, com objetos impregnados de significado, como a balança de pesar carne , o carimbo, a tinta e a pele de látex constituída a partir da árvore que foi derrubada. 

Em trabalhos pregressos, a artista já mergulhou em contextos onde a ação do homem e a natureza retroalimentam processos de destruição como, Atafona (cidade fluminense que perde, gradualmente, seu território para o mar); Rio São Francisco (na área inundada das represas de Remanso e Sobradinho), Rio Mekong, no Vietnã (e a instalação de hidrelétricas que mudam o curso do rio e da vida dos moradores). Agora, em Pele do Rio, Jeane aborda territórios específicos da Amazônia, seguindo com sua pesquisa artística acerca da finitude. As insvestigações abordam a relação das populações ribeirinhas com a seca do rio; as memórias sobre Velho Airão - cidade que teve seu auge e derrocada calcados no ciclo da borracha; do extrativismo da floresta em suas faces - consciente ou destrutiva-; o universo mítico da floresta; a biodiversidade ameaçada (e resiliente) e o emblemático Rio Negro, com suas águas escuras e histórias sagradas. 

Na exposição, Jeane olha para a realidade local da floresta como uma lente de aumento para a experiência humana na contemporaneidade e toca em encruzilhadas do nosso tempo: a emergência climática e o desenvolvimento predatório como catalisadores de processos de degradação e a iminente aniquilação das condições de vida humana no planeta. A exposição, que em última instância fala sobre a morte, também traz a face da resistência, abordando a relação dos povos ribeirinhos com o ambiente e a própria seca, além de suas cosmogonias como forma de enfrentamento e narrativas da esperança.


 

Serviço

Exposição individual Pele do Rio, de Jeane Terra

Vernissage: 22 de março, das 14 às 18h

Período de visitação: De 22 de março a 26 de abril

Dias e horários de visitação: Terça a sexta, das 10h às 18h e sábados, das 10h às 16h.

Local: Janaina Torres Galeria

Endereço: R. Vitorino Carmilo, 427 - Barra Funda, São Paulo - SP, 01153-000

Grátis

Faixa etária: livre

Possui acessibilidade para cadeirantes


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